Como devem estar sentados?

Aprende-se melhor sentado em círculo, em quadrado, em "U" ou em fila? A disposição da sala de aula influencia o processo de aprendizagem, diz um estudo britânico que conclui que se têm melhores resultados quando as carteiras estão dispostas na maneira mais tradicional: em fila e viradas para o quadro. Uma conclusão que não é consensual.

Em muitas escolas do 1º ciclo do ensino básico, os professores preferem que as crianças estejam sentadas de frente umas para as outras, ou seja, as carteiras fazem um quadrado e os alunos sentam-se ficando lado a lado e de frente para os colegas. Por um lado, esta disposição permite que façam trabalhos de grupo e que se ajudem mutuamente, por outro, em salas com vários anos integrados - muitas vezes um professor tem alunos de quatro níveis -, é ideal para que o docente trabalhe individualmente com cada fase. Um estudo britânico, citado pelo "Sunday Times", conclui, depois de 20 anos de observação de salas de aula, que os estudantes aprendem mais quando estão de frente para o quadro e sentados em filas. Os alunos perdem "tempo precioso" quando sentados em carteiras dispostas em quadrado, círculo ou rectângulo. É que em vez de aprenderem, conversam entre si, diz o estudo orientado por Nigel Hastings, professor de Ciências da Educação da Universidade Trent de Nottingham, em Inglaterra. A investigação, que vai ser publicada no próximo ano, revela que as crianças quando trabalham em fila ou em pares estão mais tempo com atenção à tarefa do que em grupos de quatro ou seis. Os investigadores dizem que os estudantes dos últimos anos do 1º ciclo, quando sentados em grupo, perdem um quarto da aula, porque alguns estão de costas para o professor e de frente uns para os outros. "Quando se observa a natureza das tarefas que os alunos sentados em grupo estão a desempenhar, para a maioria não é necessário estar assim sentado, porque estão a fazer trabalhos sozinhos", verificou Hastings. O investigador observou ainda que houve crianças, as mais conflituosas, que melhoraram o seu desempenho quando a disposição da sala foi mudada para filas. Por vezes, "ensinar em grupo pode revelar-se caótico e reprimir a criatividade dos estudantes", refere outro professor britânico de Ciências da Educação da Universidade de Newcastle.A disposição formal, em filas, é preferencial para explicar a matéria e, aparentemente, possibilita menos a comunicação entre os alunos. Mas desenganem-se os professores, porque eles falam entre si. Há uma "comunicação clandestina, o aluno esconde-se para comunicar", explica Maria Teresa Estrela, investigadora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, que considera que num espaço circular e com visibilidade entre docente e discentes, a interacção é "mais fácil"."Se partirmos do princípio que aprender assenta no discurso do professor, o facto de se estar sentado de frente para ele vai trazer alguns ganhos de atenção... Só que isso não é aprender, é apenas memorizar para se esquecer a seguir às avaliações", critica Sérgio Niza, do Movimento da Escola Moderna, que defende que os alunos devem estar sentados em função do trabalho que estão a desempenhar.Sentar as crianças em filas "pressupõe" que na escola não é preciso haver comunicação entre pares e com o professor, argumenta Sérgio Niza. O problema da concentração não está directamente relacionado com a maneira como se está sentado na escola, mas com o interesse que os alunos têm naquilo que o professor está a ensinar, acredita. "Se formos proporcionando tarefas do interesse dos estudantes e que puxem pela sua curiosidade, habituam-se a estar mais concentrados", considera Sérgio Niza.Tal como no Reino Unido, em Portugal não existem quaisquer directivas sobre a disposição das salas de aula. Depende da Direcção Regional de Educação, da escola, do professor e da actividade que os alunos têm de desempenhar. "A disposição da sala de aula varia com as práticas dos professores e o mesmo docente pode uma semana trabalhar de uma maneira e outra, de outra. Faz parte da liberdade e autonomia pedagógica. Felizmente que não há uma posição oficial", congratula-se Vasco Graça, director adjunto do Departamento de Educação Básica.

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