As cumplicidades de Mikhail Baryshnikov

Nasceu na Rússia mas é cidadão americano desde 1988. De grande estrela do Ballet Kirov, Mikhail Baryshnikov passou a director do American Ballet Theatre, fazendo parte de uma galeria de mitos em que figuram Nijinsky ou Nureyev. Com a simplicidade dos génios, Misha falou ao PÚBLICO do trabalho do White Oak Dance Project e do futuro em que não gosta de pensar. Entre as digressões e uma plantação de carvalhos brancos a que gosta de chamar casa.

A companhia do mais famoso bailarino do mundo sobe hoje ao palco do Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. Com a mesma simplicidade com que Mikhail Baryshnikov falou ao PÚBLICO do seu trabalho, da aposta nos "talentos emergentes", nas exigências de um solo e no aconchego de regressar a casa - a White Oak Plantation - a reserva natural que acolhe as residências da companhia e lhe desenha os caminhos. Aos 52 anos, Baryshnikov continua a dizer que não pensa em voltar a coreografar, que o teatro experimental é uma possibilidade e que a dança contemporânea é uma "quase cumplicidade".Mikhail Baryshnikov - Não é muito diferente. O elenco alterou-se um pouco, porque alguns bailarinos deixaram de dançar e tiveram de ser substituídos. De resto, a filosofia mantém-se. A filosofia da diversidade e da experimentação. Os bailarinos vão-nos deixando. Decidem-se por outros projectos como ter filhos ou coreografar."Soft Center" é um dueto intimista que, tal como o solo, poderá vir a perder-se num auditório tão grande como o do Centro Cultural de Belém. Não vou dançar o solo ["Dance With Drums and Flute"] porque os movimentos são muito minimais e não resultam em palcos muito grandes.No início, o solo trouxe-me coisas novas. Durante a minha carreira nunca tinha tido a oportunidade de dançar a solo. O solo é uma espécie de tradição da dança contemporânea norte-americana. Quando se faz parte de um grupo é diferente. O que conta é o todo. Os coreógrafos trabalham a pensar no conjunto e não em isolar uma pessoa.Talvez um dia possa fazer alguma coisa próxima do teatro experimental, nunca do clássico porque não fui treinado para ser actor. Mark Morris, é o mais conhecido e o seu trabalho dispensa apresentações. Mas temos outros como a australiana Lucy Guerin ou o John Jasperse, um coreógrafo verdadeiramente pós-moderno, ou a jovem Amy O' Brien. Eles são todos coreógrafos no sentido estrito. Interessam-se por dança, apesar de Mark Morris já ter trabalhado numa ópera. São coreógrafos "mainstream".

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