Que se passa com Augusto M. Seabra?

Nem o Eça, nem o Ramalho, mais de um século depois, nos safaram de termos, hoje, em 1999, os nossos Seabras - os Dantas de fim do século. Em Portugal, a ignorância e a má-fé continuam a produzir intelectuais. Daqueles que suprimiram o Trostky das fotografias. Para que a realidade corresponda aos seus desejos. No fundo, são apenas tontos, tontos, repito, que nunca fizeram nada que se visse, porque nada sabem fazer, e por isso mesmo escrevem ressabiados contra quem faz. Com estes intelectuais de pacotilha não funciona o Pim do Almada, porque eles não têm coluna vertebral para sentirem. Temos de recorrer ao Freud.Vem isto a propósito de um texto de opinião de Augusto M. Seabra no PÚBLICO de 15 de Agosto. O Seabra é obcecado, mente deliberadamente (é preciso, com esta gente, ser frontal porque aos punhos de renda eles limpam a baba que lhes escorre das baboseiras que destilam). Por ignorância e má-fé. Por ressabiamento. Porque, coitados, não sabem fazer outra coisa.O título do texto que assina é "Que se passa no São Luiz?" Se o senhor Augusto M. Seabra quisesse saber o que se passa no São Luiz - o que não quer -, perguntava a quem sabe. Perguntava, por exemplo, à vereadora da Cultura da Câmara de Lisboa, professora Maria Calado. Ou ao Departamento de Património Cultural. E não perguntou. Deliberadamente. Por má-fé. Mas eu informo-o: o São Luiz vai entrar em obras de recuperação em Setembro. Fechou em Maio. Está tudo previsto. Fechou em Maio para que se efectuasse um conjunto de tarefas não contempladas na empreitada a adjudicar em concurso público. Obras executadas pela Câmara Municipal de Lisboa, directamente, tais como retirar o cadeirame, entre outras. Muito simples, senhor Seabra. Três meses para essas operações. É muito tempo? Esperamos que o senhor Seabra decida dar uma ajuda e, se tirar os óculos e meter mãos à obra, se possam reduzir para dois meses e meio. Contamos consigo, apareça. Ainda deve haver algumas cadeiras para carregar, ou a teia para desmontar. Não perca a oportunidade de dar um contributo à cidade!Esclarecido o que se passa no São Luiz (eu sei que ao senhor Augusto M. Seabra deve doer muito o Teatro São Luiz entrar em obras de recuperação em Setembro e estar pronto uma dúzia de meses depois, como deve doer muito existir o Teatro Mário Viegas), passemos ao "dinamismo cultural imprimido à cidade, impulsionado pelo Miguel Portas e cujos louros foram recolhidos pelo João Soares"."A crédito de João Soares abonam a Bedeteca, o Arquivo Municipal de Fotografia e, mesmo a Videoteca", diz com desplante o senhor Seabra. Então, e a Quinta Pedagógica, ali mesmo ao lado da Bedeteca. Não a viu? Olhe que milhares e milhares de crianças já ali estiveram.Vamos a factos, porque de paleio de chacha de "intelectuais" que brotam opinião no PÚBLICO, tipo Leonel Moura e outros, estamos fartos.O senhor Seabra nunca foi à Casa Fernando Pessoa? Que ignorância! Ou foi? Não foi, mas ouviu falar das iniciativas que lá têm lugar - que má-fé!O senhor Seabra nunca foi ao Museu da República e Resistência? Ali para os lados de Benfica... Santa ignorância. Será má-fé?Para abreviar: conhece o senhor Seabra os novos pavilhões de exposições do Museu da Cidade? Não foi ver recentemente a exposição do Pedro Croft? Conhece as novas bibliotecas municipais? E a Fonoteca, ali ao Saldanha? Nunca comprou um livro sobre Lisboa na Livraria Municipal? Conhece a Galeria Abel Manta no Museu Rafael Bordalo Pinheiro? Não? Que ignorância! E a Galeria da Mitra? Não foi lá ver a Graça Morais? E a Sala do Risco, ao lado do Museu Antoniano? Ignorância ou má-fé? E a Agenda Cultural? Há quase dez anos que se publica. Não havia nenhuma antes, sabia? E Gabinete de Estudos Olisiponenses, no Palácio do Beau-Sejour? Nunca visitou? Nunca consultou nenhuma obra sobre Lisboa? Esquecimento? E o Espaço por Timor, biblioteca especializada e ponto de encontro de timorenses, ali à boca do Parlamento, na Rua de São Bento. Não deu por isso? Sim, compreendo. Há coisas que não dá para reparar. São muitas. Coisas que ficam. Coisas que têm vida. Coisas que foram feitas enquanto João Soares foi vereador da Cultura. Com pouco dinheiro.Já agora, só um reparo. Em abono do Miguel Portas esqueceu-se de enumerar uma única coisa. Faltou-lhe matéria, certamente. Talvez os Rolling Stones, no Estádio José de Alvalade, em Julho de 1990. Dez mil contos pagos pela Câmara de Lisboa. Um mês depois, em Setembro, no mesmo estádio, o João Soares conseguiu, com privados, à borla (para a câmara) a Tina Turner.Augusto M. Seabra, só uma nota final, porque muito havia a dizer, mas o espaço é curto, viu a exposição de Cassiano Branco no Eden? Quatro meses. Mais de cem mil visitantes. Não viu? Que pena! A Lisboa Arte Contemporânea, também não deu por ela? As coisas que ficam não viu. Afinal viu o quê? Mora ao menos em Lisboa?Meu caro Augusto M. (já agora, o M. é de quê?) Seabra: você é sectário; é cego, e não há pior cego do que aquele que não quer ver. Para grandes males, grandes remédios: já que está picado por qualquer coisa (e não é de certeza o São Luiz) que lhe tolhe os neurónios e lhe embacia a visão, vá ao... médico. * chefe de gabinete do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa

Sugerir correcção