Golpe de Estado no Níger

O militar que em Janeiro de 1996 tomou o poder no Níger foi ontem morto num golpe de Estado, por elementos da sua própria guarda, mas sobre o desenrolar dos acontecimentos há ainda poucas informações. Apenas se sabe que a instabilidade volta a marcar lugar a sul do Trópico de Câncer, entre a Argélia que este mês vai ter presidenciais e a Nigéria onde em Maio o general Obasanjo assume a chefia do Estado.

Pouco mais de três anos decorridos sobre a sua chegada ao poder pela força, o Presidente do Níger, Ibrahim Baré Mainassara, foi ontem assassinado em Niamey, capital de um dos 15 países mais pobres do mundo, com um Produto Nacional Bruto por habitante inferior a 200 dólares por ano.Militares fortemente armados patrulhavam ontem à noite as ruas da poeirenta cidade, de 700.000 habitantes, a cerca de 170 quilómetros das fronteiras com o Benim e com a Nigéria, esse poderoso vizinho onde em Maio os generais vão entregar a administração a um Presidente eleito, Olusegun Obasanjo.Em Washington, o Departamento de Estado esclareceu ter sido a própria guarda presidencial quem matou Mainassara, mas em Niamey o primeiro-ministro Ibrahim Assane Mayaki, cujo executivo data de Novembro de 1997, limitou-se a dizer pela rádio nacional que se verificou o "desaparecimento súbito" do Presidente da República, num "acidente infeliz".De acordo com o relato da AFP, o chefe de Estado teria sido crivado de balas quando se dirigira ao aeroporto, a fim de tomar um helicóptero para Inatès, perto da fronteira com o Mali, a norte, na zona dos tuaregues.Veículos blindados e outros transportes de tropas foram vistos ao fim do dia nas ruas da capital, onde o pânico se apoderara da população, principalmente por não compreender ao certo o que é que se estava a passar. Mas, ao cair da noite, voltou a existir alguma normalidade, com a rádio nacional a transmitir a actuação de orquestras locais e a televisão a passar desenhos animados.Aparentemente, poderia ter sido um golpe palaciano, como o que ocorreu em 1987 no Burkina Faso, quando Blaise Campaoré substituiu o assassinado Presidente Thomas Sankara, que o levara para a área do poder e que era uma figura muito querida em Ouagadougou."A Assembleia Nacional é dissolvida e as actividades dos partidos políticos ficam temporariamente suspensas", disse o primeiro-ministro Ibrahim Assane Mayaki, segundo o qual os assuntos correntes continuarão a ser despachados pelo seu executivo, enquanto não se formar um "Governo de União Nacional".Horas antes, ainda antes de se saber do assassínio do chefe do Estado, o Governo lançara um apelo à população para que se mantivesse calma, depois de a oposição - que se apresentava com vantagem - ter anunciado manifestações de protesto contra a anulação dos resultados, em numerosos círculos, das autárquicas de 7 de Fevereiro.O povo deveria agora ir novamente às urnas em mais de 4.000 assembleias de voto de todo o país, numa data a designar; e foi no meio de toda esta confusão que ontem ao princípio da tarde começaram a surgir as notícias de que havia tanques nas ruas de Niamey. Seis meses depois de ter arrebatado o poder pela força, Mainassara fizera-se eleger Presidente da República, mas esses resultados também tinham sido contestados pela oposição, como aliás ao longo dos anos já tem acontecido numa série de países africanos, pouco habituados à prática de uma democracia de modelo ocidental.Por mais que fizesse, era-lhe difícil desenvolver um espaço enorme (maior do que Angola), em grande parte desértico e sem qualquer acesso ao mar, espaço onde há 20 anos as poucas esperanças residiam apenas na produção de urâneo, cujo preço entretanto registou grande quebra no mercado internacional.Em Janeiro do ano passado a polícia deteve um antigo primeiro-ministro, Hama Amadou, presumível cérebro de uma conjura para já então assassinar Ibrahim Baré Mainassara, com o auxílio de um grande feiticeiro do Burkina Faso que ajudara já a matar o Presidente Thomas Sankara, para o substituir por Blaise Campaoré.Os quase 10 milhões de habitantes do Níger dividem-se por cinco grupos étnicos, de que o maior é o haussa, também dominante na Nigéria, país que a prazo poderá vir a absorver o território nigerino, segundo admitem alguns estudiosos do que se passa a sul do Sara.As outras etnias são os djerma-songhai, os fulas, os tuaregues e os beriberi-manga, seguindo todas elas fundamentalmente a religião islâmica, como aliás acontece com alguns dos países com os quais o Níger tem fronteiras, nomeadamente a Argélia e a Líbia.

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