"Há tanto para aprender!"

Qual a melhor forma para ensinar às crianças os seus direitos? Obrigá-las a decorar? Copiar cem vezes? Fazer desenhos ou composições? O grupo de teatro Planeta Maravilha descobriu a receita mágica. Chama-se "Uma Luz, um Sol...", destina-se a crianças dos quatro aos dez anos, e é um musical sobre a Convenção dos Direitos das Crianças. Para ver com a escola ou em família.

"Tu já brincaste hoje?", pergunta Bia, do palco, para uma plateia cheia de meninos com seis e sete anos. "Quem, eu?", levanta-se uma menina, de dedo no ar, saia e gravata cinzentas, camisa branca e pullover verde, do Saint Juliens School. "Já brinquei... muito!". Não estava a mentir, porque "Uma Luz, um Sol..." é uma verdadeira brincadeira para as crianças que assistem ao espectáculo, em cena no Parque Palmela, no Estoril, até ao fim do mês. Este musical, da autoria do grupo Planeta Maravilha, foi pensado no âmbito das comemorações do décimo aniversário da Convenção dos Direitos da Criança e tem o apoio da Unicef. Mais do que debitar cada um dos direitos, estes vão surgindo em palco sem que as crianças se apercebam realmente de que são direitos isolados. "O teatro é sobre as crianças, sobre as coisas boas que nós temos", resumiu Inês, de sete anos, do colégio britânico, depois de 50 minutos de espectáculo. E à pergunta do PÚBLICO sobre quais são essas "coisas boas", as respostas fazem-se ouvir de todo o lado e ao mesmo tempo: "Ter um nome", "uma família", "poder brincar", "aprender", "gostar dos outros e ter muitos amigos", "ter saúde para não levar injecções". A lição estava mais ou menos sabida. Faltava referir a guerra e a morte. Considerados pelos adultos assuntos tabu, o Planeta Maravilha optou por trazê-los ao palco para fomentar "uma cultura da paz". "De facto a guerra não é uma questão portuguesa, mas é importante referir temas chocantes que estão cada vez mais perto das crianças", explica Beatriz Quintella, uma das fundadoras do Planeta Maravilha.Mais do que ficarem sentados a assistir, todos são convidados a participar. E não basta bater palminhas ou gritar "siiiiim" e "nãããooo". As exigências são mais altas, há que responder a perguntas, fazer ritmos com as mãos ou com a boca, dançar, jogar e cantarolar. "Olá, é um prazer estar aqui e te conhecer", cantam as crianças enquanto apertam as mãos umas às outras. No palco, destituído de grandes cenários, está, de um lado, o piano de Claire Honigbaum, que compôs a música de "Uma Luz, um Sol..."; do outro, os instrumentos de percurssão de Mike Trovoada, artista convidado. Ao lado do percursionista, está uma folha gigante, que nasce no tecto do auditório e desagua no chão, onde se lêem os nomes de todas as crianças que assistiram ao espectáculo: Maria, David, Antónia, Pedro, Poliana... "Nem sempre as escolas enviam os nomes das crianças", lamenta Ana Braga, actriz e co-fundadora do grupo. Todos os dias da semana, excepto à segunda-feira, o musical pode ser visto por jardins de infância e por escolas do 1º ciclo do ensino básico. Ao fim-de-semana o espectáculo destina-se às famílias. "É preciso criar o hábito de as famílias virem ao teatro, porque esta é uma peça feita para as crianças e só a pensar nelas", afirma Ana Braga. "Trazer as crianças ao teatro é um grande barato!", exclama Beatriz Quintella, a Bia, que as crianças do Saint Juliens School já conhecem doutros espectáculos.O Planeta Maravilha é um grupo fundado por três profissionais do teatro: Ana Braga, portuguesa, Beatriz Quintella, brasileira, e Claire Honigbaum, inglesa. O grande objectivo do grupo é sensibilizar as crianças para temas essenciais como o ambiente, a diversidade humana e, agora, os direitos das crianças. "Há tanto para aprender!", exclama Bia durante a peça.Depois das luzes se abrirem, os meninos, de forma ordeira mas barulhenta, seguem os seus professores. À saída voltam a encontrar o elenco do Planeta Maravilha. Todos se despedem. "Adeus! Tchau! Bye-bye...". No final da fila ouvem-se algumas crianças gritar: "Thank you, thank you! I love it very much!".

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