Teste de inglês foi fácil, muito fácil ou facílimo, dizem os alunos

A exigência de Cambridge para alunos com um Inglês básico não assustou os alunos do 9.º ano, que têm cinco anos de Inglês. Ainda assim, a dirigente de uma das associações de professores de Inglês prefere esperar pelos resultados "para deitar foguetes".

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Teste foi feito por cerca de 121 mil jovens em todo o país Adriano Miranda

Ao toque da campainha que assinala o fim do teste diagnóstico de Inglês segue-se a ruidosa saída de mais de cem alunos, que se atropelam na corrida para o pátio central da EB2,3 Alice Gouveia, de Coimbra. “Uffff! O teste foi muito fácil! Difícil foi estar quieto e calado sem fazer nada…”, resmunga Bernardo. Os colegas riem-se. Não falam do teste, obrigatório para os alunos do 9.º e facultativo para os restantes, que acabou de ser feito por cerca de 121 mil jovens em todo o país. Comparam, sim, o tempo em que cada um esteve “a olhar para o ar” e a portar-se “mais ou menos bem” – ou “a tentar”, precisam alguns – no respeito pelas rígidas regras de Cambridge.

Por entre o ruído que alastra no pátio, quase todos dizem que despacharam as perguntas em três tempos e é difícil encontrar alguém que não diga que o teste foi "fácil", "muito fácil" ou "facílimo". “Ó stôra, se os seus testes fossem assim!...”, brinca Francisco, dirigindo-se à professora de Inglês, que os aguarda. Esta sorri e pergunta: “Então? Conta lá!”.

Francisco, aluno de 3 (numa escala de 1 a 5), espera ter “boa nota” no teste diagnóstico. A professora, que como todos os outros docentes não teve (nem terá) acesso ao enunciado, quer saber pormenores: “Mas tiveste dificuldade nalguma coisa?” “Hum… Deixei em branco algumas coisas numa questão que implicava vocabulário específico, em que eram descritos um espelho, um despertador, um diário, uma prateleira, etc e tínhamos de preencher os espaços para completar as palavras a que a descrição se referia…”, diz Francisco.

Bernardo, de 14 anos, afirma que só não assegura que terá 100 % porque pode ter-se "enganado nalguma coisa”, mas não se perdoará se tiver "menos de 90". Diz que “até havia questões um bocado infantis”. Como no “listening”, a parte do teste em que os alunos ouvem um texto e, depois, respondem por escrito, exemplifica. E descreve: “Deram-nos três imagens: de pernas de frango, de uma pizza e de batatas fritas e tínhamos de fazer uma bolinha na que representava o que a senhora escolhia para a refeição”. E qual era a resposta certa? A resposta surge em coro: “fraaaaango!”. André olha em volta, desamparado: “Não era a pizza?...” Gargalhadas. “Foi uma ratoeira! Ela anda entre uma coisa e outra, insiste na pizza, mas mesmo no fim opta pelo frango!”, esclarece Marta.

Marta já fez testes nas escolas privadas de Inglês, sabe que “é preciso estar atenta a estes pormenores”. Mas Helena Pinho, professora na escola, diz que teve de acalmar os alunos e alertá-los precisamente para o contrário, “para que não tentassem encontrar ratoeiras onde elas não existiam”. Isto, explica, porque as perguntas dos testes-modelo do nível A1 a B1 de Cambridge, testado esta quarta-feira, “são tão básicas para os alunos do 9.º ano que, ao tentar responder-lhes, eles duvidavam da facilidade e achavam que ali havia coisa…”

Ainda assim, no fim, também havia alguns alunos desiludidos, como Patrícia, aluna de 3, que se atrapalhou com a pergunta de desenvolvimento, "a resposta, em 25 a 30 palavras, a um e-mail de um amigo que convidava para ir às compras e pedia para acertar o dia, a hora e o meio de transporte”.

Ana Neves, da Associação Nacional de Professores de Língua Inglesa, que também não viu o enunciado, disse estar convicta de que os resultados “desta aferição” serão positivos, mas considerou preferível esperar pela sua divulgação, a 4 de Junho, "para deitar foguetes". Porque o contacto com a língua é muito diferente consoante os estratos sociais ou menos a zona de residência dos alunos, disse, mas também por alguns podem ter facilitado, disse. Foi o caso de Luís, que sorria, com ar sereno, no fim da prova:“Como não conta para nota, também não estive ali a perder tempo. Na escolha múltipla, em caso de dúvida, fiz a cruz ao calhas”, explicou.

Na escola, os elementos da direcção, do secretariado do teste, os vigilantes e os funcionários mostravam-se muito mais ansiosos e cansados do que os alunos. Como já haviam alertado antes as associações de directores e ontem Margarida Girão confirmou, a prova, financiada por privados, obrigou “a um sem número de procedimentos burocráticos sem sentido”. “Nalguns casos, as exigências são mesmo insultuosas para os professores portugueses”, criticou Emília Castro, professora do quadro com 27 anos de serviço, enquanto se encaminhava para a sala com as várias folhas que descreviam o que devia dizer (lendo) fazer e não fazer a cada momento do teste, que ia vigiar.

Esta quarta, o Instituto de Avaliação Educacional voltou a não responder ao PÚBLICO sobre o número de certificados pedidos pelos estudantes. Na Escola Alice Gouveia, em Coimbra, muitos não se inscreveram para o receber, por acharem “uma estupidez pagar 25 euros por um diploma que atesta um nível elementar de Inglês” – foi o caso de Beatriz. Outros, como André, pediram-no porque os pais consideraram que “por pouco dinheiro sempre era mais um papel para um dia pôr no currículo”. 

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