Rodrigo achou o exame de Matemática do 4.º ano “fácil”, para Ruben a prova do 6.º foi “mais difícil” do que esperava

Esta quarta-feira cerca de 210 mil alunos do 4.º e 6.º ano fazem a prova nacional de Matemática. De manhã, em Camarate, os meninos do 4.º ano entraram ensonados e saíram entusiasmados. Menos optimistas, alguns alunos do 6.º acharam que a prova tinha “perguntas traiçoeiras”

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Rui Gaudêncio

Faltavam poucos minutos para as 8h30 quando o primeiro autocarro pára em frente à Escola EB 2,3 Mário de Sá Carneiro, em Camarate. Do autocarro, sai o primeiro grupo de alunos do 4.º ano que vai fazer o exame de Matemática na sede do agrupamento. Depois chegam mais três autocarros, disponibilizados pela Câmara Municipal de Loures e pela junta de freguesia. Os miúdos saem silenciosos, alguns ensonados.

Nem todos estão nervosos como Rodrigo Viegas, de 9 anos, que chegou acompanhado pela mãe ao portão. Ao todo, nesta escola, durante esta quarta-feira, fizeram exame de Matemática, de manhã, 190 meninos do 4.º ano, e 187 do 6.º, à tarde. Chegaram das diferentes escolas do agrupamento. No final, os alunos do 4.º ano saíram confiantes e a dizer que a prova foi “fácil”. A directora do agrupamento de escolas de Camarate alerta, no entanto, para a dificuldade que os miúdos têm em interpretar o que lhes é pedido. 

A mãe de Rodrigo, Ermelinda Ferreira, auxiliar de educação num lar de jovens, só começava a trabalhar às 15h e, por isso, pôde acompanhar o filho de 9 anos até ao portão da Escola EB 2,3 Mário de Sá Carneiro, e desejar-lhe boa sorte. “Ele está muito nervoso e pediu para o vir trazer. Ontem primeiro que adormecesse foi um filme. Hoje já foi à casa de banho uma data de vezes. Tem receio da matemática”, conta a mãe, de 35 anos.

Horas de treino
Rodrigo é aluno de “3 muito fraquinho” à disciplina. Mas a mãe está confiante, porque ele se preparou: “Fizeram muitos exames nas aulas e no terceiro período ele foi para explicações de Matemática. Tem uma hora por semana de explicações. Nas duas últimas semanas, antes do exame, teve duas horas por semana”, diz. Ermelinda Ferreira admite que o estudo mais intensivo roubou tempo à brincadeira e também ao kickboxing, uma das actividades nos tempos livres. “Tivemos de tirar umas horas. Ele estudou pelo menos duas horas por dia, ao fim-de-semana também, um mês antes. Quando tinha de estudar, não ia aos treinos do kickboxing, que são três vezes por semana”, explica a mãe que não vê grande utilidade nestes exames.

“Acho que ainda é muito cedo para fazerem exames, só serve para os enervar. Ainda são crianças que aqui andam, acho que deviam ter direito a outras coisas, a fazer actividades lúdicas com a turma e com a professora. Ainda são muito novinhos para andar nesta ansiedade toda. Até porque não é nestes exames que eles provam o que sabem ou não sabem”, defende.

Ermelinda Ferreira também foi esperar o filho no fim do exame. Rodrigo saiu satisfeito, embora inseguro quanto à nota que pode vir a ter: “Correu bem, era fácil e saiu mais ou menos o que eu estava à espera. Fiz tudo, mas não sei se vou passar”, diz. Para além da mãe, também a irmã, Rafaela Sérgio de 15 anos, o esperava, até porque nesta quarta-feira, devido à realização dos exames, não teve aulas.

“Os outros anos não têm aulas. Não temos possibilidade de ter os outros anos a funcionar, não temos professores, estão a fazer vigilância. O 1ºciclo e os jardins-de-infância estão a funcionar. O 2º e 3º ciclos, que são aqui na sede, não estão a funcionar. O Ministério da Educação e Ciência foi informado de que não tínhamos recursos para isso”, explica a directora do agrupamento, Raquel Carvalho. Sem outras actividades, resta a Rafaela e a Rodrigo irem para a casa da avó. “Se não tivesse onde os deixar, era complicado”, desabafa a mãe, Ermelinda Cardoso.

O Português na Matemática
Mas Rodrigo não foi o único aluno do 4.º ano a achar o exame fácil. À saída, a maioria das crianças respirava de alívio e, à excepção de um ou outro problema ou conta, acharam as questões fáceis. A directora do agrupamento de escolas de Camarate, Raquel Carvalho, mostra, porém, alguma cautela em relação ao optimismo: “Eles dizem que corre sempre tudo bem, mas depois vamos ver na correcção e nem sempre é assim”, alerta a directora que, embora actualmente não dê aulas, foi professora de Matemática. Apesar de também não ter achado o exame difícil, Raquel Carvalho salienta que os alunos “têm muita dificuldade na interpretação e em perceber o que se pede”: “É por isso que às vezes não conseguem dar a resposta correcta e fazer o exercício. O português, mesmo na prova de matemática, reflecte-se na interpretação das perguntas”, explica.

 De uma forma geral, todos os alunos, tanto do 4.º como do 6.º, garantiram que, nas últimas semanas, gastaram algumas horas por dia a preparem-se para o exame. Antes de cruzar o portão, Luís, 12 anos, do 4.º ano conta que dedicou “muito tempo” ao estudo: “Estou preparado e não estou nervoso. Fiz muitos exercícios”, garante, acrescentando que estudou nas aulas e em casa, mas sem explicações.

Luís faz parte do grupo de alunos da Escola Eb1 nº1 de Camarate que chega de autocarro acompanhado pela professora Sónia Rabaça, de 37 anos. A docente acha que eles não estão nervosos: “Fizeram imensas provas modelo”, diz, considerando que a preparação foi adequada e que os alunos não se desfocaram das outras disciplinas. “É tudo uma questão de gestão de tempo”, entende.

Matilde, 9 anos, também não estava nervosa: “Estudei muito. A grande ajuda foi fazer provas modelo com a professora. E tive aulas de apoio dentro da escola”, conta. Já Guilherme, 10 anos, conta que acordou às 7h30 “muito nervoso”, com “medo de não passar”: “Mas fiz muitas fichas de avaliação e provas modelo.”

Se de manhã, quando saiam dos autocarros, os alunos do 4.º ano ainda estavam meio ensonados, perto da hora do almoço, quando terminaram o exame, respiraram de alívio e estavam numa excitação. “Correu bem, saiu o que eu estava à espera, acho que vou passar”, diz José Miguel, de 10 anos. Constança, 9 anos, admite que lhe apareceram “alguns problemas” que não esperava, mas mesmo assim fez tudo e acha que “correu bem”.

Perguntas complicadas
Já os alunos do 6.º ano, que fizeram exame à tarde, queixaram-se mais da exigência do exame. E, antes de entrarem, alguns, como Sílvio, de 14 anos, estavam nervosos: “Matemática é um exame em que temos de estar atentos e concentrados, para não escapar nada, com as rasteiras que pode haver. Sou aluno de 3 e de 4 a matemática”, conta, acrescentando que, para além de ter entrado um ano mais tarde na escola, já reprovou e já devia estar no 8º ano. Admite que se distrai “com qualquer coisa” e que, duas semanas antes da prova, teve explicações, para além de aulas de apoio na escola.

Também Rafaela, 12 anos, do 6.º ano, estava “um bocado nervosa”: “Quase ninguém percebe nada de Matemática, para mim Matemática é muito difícil. Já fui aluna de três, mas comecei a baixar e agora tenho dois… Mas estudei muito. Não tive explicações, mas estudei por mim, duas horas por dia durante duas semanas, para além das aulas de apoio.”

No final do exame, os alunos do 6.º ano estavam menos optimistas do que os mais novinhos. Ruben Levi, 12 anos, por exemplo, achou o exame “mais difícil do que estava à espera”, embora admita que não tivesse saído matéria que não conhecesse. “Tinha era perguntas um bocadinho traiçoeiras. Algumas eram fáceis, mas outras precisavam de mais prática”, explica.

À saída, esperava-o o tio, Ruben Vasco, electricista de 38 anos da Câmara Municipal de Lisboa. “Ele estava um bocado nervoso. Eles têm-se preparado, mas chega a hora e é sempre um frio na barriga”, diz o tio, salientando que o sobrinho não teve explicações e defendendo que os exames prepararam as crianças para “as dificuldades” e “puxam mais por elas”.

Mariana, 13 anos, também fez o exame do 6.º ano e concorda com Ruben quanto ao grau de dificuldade da prova: “Era um bocadinho difícil, as perguntas eram um pouco complicadas”, diz. Também Márcia Ferreira, de 12 anos, achou a primeira parte “um bocado difícil, porque tinha muitos problemas”: “A segunda parte era mais fácil. Mas correu bem”, diz, adiantando que estudou “muito” e teve explicações.

Já Sara Domingues, 12 anos, acha que a prova lhe “correu bem” e que, “para quem estudou, era fácil”. Ao lado, a mãe, Marta Domingues, empregada de balcão e de mesa de 34 anos, frisa que a filha começou a ter explicações no final de Abril para se preparar. Nenhum dos pais ouvidos nesta quarta-feira, em Camarate, se queixou do custo das explicações, mesmo que, em alguns casos, os miúdos tivessem tido três a quatro horas de apoio particular por dia.

Nesta quarta-feira cerca de 210.000 alunos terão feito a prova final de matemática, do 4.º e do 6.º ano, que conta 30% da avaliação final. Os resultados deverão ser conhecidos a 12 de junho. O Ministério da Educação e Ciência voltou a recordar, em nota enviada à imprensa, que os alunos do 6.º ano têm este ano, pela primeira vez, a possibilidade de frequentar o período de acompanhamento extraordinário e de, em casos de negativa, realizar uma segunda prova em Julho, à semelhança do que já se verifica no 4.º ano.

Notícia actualizada às 18h27: acrescenta comentários à prova do 6.º ano

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