Reitor pediu um ministro só para o superior em sessão marcada por encontro de candidatos

Cruz Serra defendeu que “a área do ensino superior e da ciência, não deve estar sob a tutela de um ministro que tenha também a seu cargo a educação básica e secundária”.

Sampaio da Nóvoa e Marcelo Rebelo de Sousa, ambos catedráticos da Universidade de Lisboa, participaram na cerimónia de abertura do ano lectivo e cumprimentaram-se calorosamente
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Os dois debates com Sampaio da Nóvoa geraram uma audiência média de 544 mil espectadores, enquanto os frente-a-frente com a participação de Marcelo tiveram uma audiência média de 127 mil. Miguel Manso
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Reitor António Cruz Serra e Leonor Beleza, presidente do Conselho Geral da Universidade
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Minutos antes da cerimónia de abertura do ano académico da Universidade de Lisboa, professores, membros da equipa reitoral, do Senado e do Conselho Geral preparavam-se para o solene cortejo académico. Mas nesta quinta-feira as atenções estavam todas viradas para dois professores da casa, um catedrático da Faculdade de Direito, outro do Instituto de Educação: Marcelo Rebelo de Sousa e António Sampaio da Nóvoa.

Fotógrafos e operadores de câmara aguardavam o momento em que os dois candidatos à Presidência da República se cruzariam. Eles desdobravam-se em cumprimentos, entre a multidão de académicos trajados a rigor, aproximavam-se um do outro, afastavam-se, um passo à frente, outro atrás, mais cumprimentos, e o encontro foi sendo adiado por alguns minutos. Já em cima do início do desfile, onde iriam participar, terminou a coreografia: Sampaio da Nóvoa e Marcelo Rebelo de Sousa cruzaram-se, por fim, cumprimentaram-se calorosamente, sorriram muito e ocuparam os seus lugares para desfilar (Nóvoa mais à frente, por ser reitor honorário, Marcelo mais atrás). Declarações à comunicação social, não.

Na cerimónia, a candidatura à Presidência só foi mencionada num momento: depois da entrega do Prémio Universidade de Lisboa, a Nuno Teotónio Pereira, que não esteve presente, Gonçalo Teotónio Pereira, o sobrinho do arquitecto homenageado, também professor da universidade, disse no seu discurso perante a Aula Magna que o tio lhe contara que apoiava Sampaio da Nóvoa nesta eleição. Ouviram-se palmas.

Discursaram depois representantes de estudantes, funcionários e investigadores. O reitor António Cruz Serra fechou as intervenções com algumas críticas e alguns pedidos. Defendeu, por exemplo, que deve haver um ministro apenas para o ensino superior: “Permitam-me que deixe aqui uma palavra de homenagem a um homem, um construtor de futuro, um professor da Universidade de Lisboa, um homem que sonhou um Portugal grande: José Mariano Gago. Que teve a lucidez de perceber que a área do ensino superior e da ciência, não deve estar sob a tutela de um ministro que tenha também a seu cargo a educação básica e secundária.”

Só dessa forma, acrescentou António Cruz Serra, “é possível fazer progredir a universidade e a investigação científica em Portugal”.

O reitor lamentou ainda as regras “cada vez mais restritivas, mais burocráticas e mais labirínticas da administração pública”, sublinhando que a universidade faria “mais e melhor sem estes constrangimentos”. E deixou mais um pedido: “Precisamos de regras claras, que saibam tratar de forma diferente o que é manifestamente diferente. Que reconheçam a especificidade própria da gestão de uma instituição de ensino superior. Que cumpram as promessas sempre adiadas de aprovação do novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior e de autonomia reforçada.”

Explicando que a instituição cujos destino dirige tem tentado fazer face aos cortes orçamentais, disse que a universidade financiará, com recursos próprios, “cerca de 150 bolsas de investigação”: “São a forma que encontrámos para contrariar a redução do financiamento dos programas de bolsas da Fundação para a Ciência e Tecnologia.”

São também uma maneira, disse, “de minimizar os efeitos negativos resultantes da forma como foi conduzida a avaliação das unidades de investigação, da qual resultou o abandono de importantes áreas do conhecimento e um grave prejuízo reputacional para as universidades e para o país”.

“A sobranceria de uma ideia de caminho inevitável tão propalada nos últimos anos, é contrária à ideia de Universidade”, sublinhou, para acrescentar: “Nestes estranhos dias, duros e imprevisíveis, poderemos prescindir de tudo, mas não poderemos abdicar nem da liberdade nem do futuro. Continuamos a acreditar que o futuro será aquilo que quisermos e conseguirmos realizar.”

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