A Queima das Fitas e os princípios
O queimódromo fica ali abaixo, muito pertinho, onde o Douro alcantilado vai beijar e desaguar no mar.
Sítio de sonhos, de amores, lúdico, honras a vários deuses e deusas pagãos e não só. Também de desmandos! Ora palco de assassinato gratuito, miserável e imperdoável de um estudante universitário de 24 anos. Por dentro, sentimos aquela raiva perante a barbárie. E choramos a eliminação assassina de um jovem, por meia dúzia de tostões que, segundo a polícia, nem chegaram a ser subtraídos.
É assim a sociedade que se vai construindo ou destruindo? A falta de princípios e valores societários, e sobretudo a sua dispensa na prática da vida, conduz a isto. Não é de ontem, hoje, nem será de amanhã. É isto que a História nos traz, nos ensina.
O queimódromo é um prolongamento da Universidade do Porto. O que se lá passa, passa-se na universidade, donde o assassinato ocorreu na academia, na universidade, território da universidade desta cidade que ainda pensamos e sentimos romântica, pacífica e democrática.
Pessoalmente, confesso, nunca nutri grande nem pequena afeição, por estas manifestações colectivas do mundo académico universitário. Mas isto são manias minhas.
Da universidade sempre esperámos os mais responsáveis, os mais cultos e os mais preparados humanitariamente. Os melhores para o país e para si próprios. Isso fundamenta os investimentos que todos, pelo pagamento solidário de impostos, ali levamos a cabo.
A universidade é do Estado da Nação!
As associações académicas , a academia – tenham paciência – mas a Queima das Feitas, revelando um orgulho lícito, compreensível dos universitários e também nosso, transmudou-se, lentamente, numa manifestação pesada também de actividades de negócios.
E daí não vem nenhum mal ao mundo da nossa cidade do Porto.
Mas há um ponto que choca, nos choca e dói!
É que a academia pacífica que é, solidária e fraterna tenha deixado passar tão trágico acontecimento e se tenha limitado às lágrimas e à missa em honra do estudante assassinado.
A História demonstra que, em todos os tempos, a academia honrou aqueles princípios democráticos, de revolta consequente, de luta contra as injustiças.
Lamenta-se, então, que a academia tenha feito prevalecer o negócio sobre a solidariedade devida ao colega e, pois então, à própria cidade!
Bem poderia dar à sua justa festa um outro cariz e forma: o da luta contra a violência, exibindo activa e publicamente, o seu repúdio por um assassinato, transformando tal festa linear numa outra festa. A da reprovação universal da violência.
E, assim, nos teria dito, alto e bom som, estamos cá também pela “guerra pacífica” à violência. Estamos cá pela vida, sua defesa e sua dignidade, como primeiro direito de todo o Homem.
Nós esperávamos isso da universidade e dos universitários. Desiludiram!
Mas é a academia quem decide.
Nós valoramos…