Por 200 euros é possível pôr uma família carenciada a comer melhor

Nutricionistas vão ajudar famílias de baixo estatuto sócio-económico a escolher produtos alimentares saudáveis nos supermercados. Mas campanha depende da contribuição dos cidadãos.

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Campanha nos supermercados depende da contribuição dos cidadãos Joana Freitas

Uma organização sem fins lucrativos propõe-se desenvolver um programa de alimentação saudável para famílias carenciadas, com o apoio dos cidadãos e dos municípios e um custo de 200 euros por seis meses de apoio individualizado. “Queremos ir a casa dessas famílias e levá-las ao supermercado para as ajudar a escolher uma alimentação mais saudável”, explica Ana Rito, directora do Programa de Promoção de Saúde Infantil em Municípios MUN-SI.

Lançada esta sexta-feira em Lisboa no âmbito do European Obesity Forum, a campanha Alimente bem esta família não tem financiamento público a nível nacional, por isso vai depender do valor arrecadado através de chamadas de valor acrescentado feitas pelos cidadãos para a linha telefónica 760 10 25 50 (50 cêntimos cada).

O objectivo é o de pôr no terreno nutricionistas recém-licenciados que serão formados para apoiar famílias carenciadas com crianças até aos 12 anos. A ideia é a de prevenir sobretudo a obesidade, num país em que o problema do excesso de peso nas crianças é preocupante. “Portugal é dos países da Europa com uma das maiores prevalências de obesidade nas crianças entre os seis e os dez anos, com quase 15%”, lembra Ana Rito.

Mas a desnutrição nas crianças, ainda que menos frequente, também tem sido detectada. “Quatro por cento das crianças têm baixo peso para a idade, uma percentagem que tem vindo a aumentar e que, embora não seja expressiva, é algo que não podemos ignorar”, afirma a responsável do programa, que destaca igualmente a importância da actividade física.

Os municípios  terão um papel determinante a desempenhar nesta campanha porque serão estes, a nível local, a identificar as famílias mais necessitadas nesta estratégia de mudança de estilo de vida. Porque é, de facto, de toda uma mudança de estilo de vida que se trata. Além da avaliação do estado nutricional dos membros da família e do aconselhamento individual e intervenção em casos de malnutrição (obesidade e desnutrição), as acções previstas nesta campanha incluem a planificação da dieta alimentar, além das já referidas  idas ao supermercado para a escolha de produtos alimentares saudáveis e ainda a participação em workshops de cozinha saudáveis com chefs de restaurantes locais. “Isto passa por coisas tão simples como  ajudar as famílias a preparar lanches para as crianças levarem para a escola”, exemplifica a responsável.

Serão muitas as famílias a necessitar de apoio? “Se pensarmos que 15% das crianças são obesas, concluimos que duas em cada dez famílias com crianças até 12 anos serão as mais necessitadas”, constata Ana Rito, que sublinha que os dados até agora recolhidos indicam que são as famílias com baixo estatuto sócio-económico que, aparentemente, mais erros nutricionais cometem.

Sob a coordenação do Centro de Estudos e Investigação em Dinâmicas Sociais e Saúde (CEIDSS), o programa visa retardar a progressão da prevalência da pré-obesidade e da obesidade infantil em Portugal, envolvendo a comunidade. Ana Rito nota que a campanha, além dos donativos dos cidadãos, vai depender da adesão dos municípios. “Nós temos o conhecimento, eles [os municípios] conhecem as famílias, falta-nos a ajuda da comunidade. Isto tudo vai depender dos recursos angariados”, sintetiza.

O programa conta com o apoio institucional dos ministérios da Saúde e da Educação. No fórum de sexta-feira vão, aliás, estar presentes, além de João Breda, da Organização Mundial de Saúde, o secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, e o secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, Fernando Egídio Reis.

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