Pico da epidemia de gripe deverá acontecer em meados de Fevereiro

Grupos de risco, sobretudo os mais idosos, ainda vão a tempo de se vacinar contra a gripe, aconselham os especialistas. "Devemos esperar o melhor, mas preparar-nos para o pior", justificam

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Já há casos de gripe em Portugal e, apesar de a actividade gripal ainda ser esporádica e de pouca intensidade, dentro de três a quatro semanas é provável que se atinja o pico da epidemia, prevêem os especialistas, que voltam a aconselhar os grupos de risco, sobretudo as pessoas mais idosas, a vacinarem-se, porque estão a tempo de se proteger.

O alerta não se relaciona com as notícias que chegam do outro lado do Atlântico. Este Inverno os Estados Unidos estão a ser assolados por uma epidemia de gripe particularmente intensa, com uma taxa de incidência e um número de hospitalizações, sobretudo de idosos, mais elevados do que o habitual. Em Nova Iorque e em Boston foi mesmo declarado o estado de emergência, de forma a contornar a legislação que impede os farmacêuticos de vacinar os menores de 18 anos. Uma das razões tem a ver com o facto de a estirpe viral predominante este ano nos EUA ser a A H3N2, que habitualmente provoca sintomas mais graves. Foi justamente esta que predominou em Portugal no Inverno passado, provocando casos mais graves e um excesso de mortalidade entre os idosos. Um fenómeno que continua a ser estudado no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, prevendo-se que as conclusões sejam conhecidas em breve.

Será que na Europa e em Portugal se corre este ano o risco de uma epidemia de intensidade semelhante à dos EUA? É cedo para fazer previsões. Mas o padrão virológico da Europa é "consideravelmente diferente do observado no Norte dos Estados Unidos da América, onde predomina o vírus influenza A(H3) e foi detectado um número reduzido de vírus influenza A(H1)", atesta o último boletim do European Centre for Disease Control and Prevention.

Na Europa – e os dados mais recentes são relativos à segunda semana de Janeiro – começaram por ser os países do Norte os mais afectados. Portugal continuava até ao dia 13 deste mês com uma taxa de incidência baixa, uma actividade gripal esporádica, ainda que com tendência crescente.

O director-geral da Saúde, Francisco George, não quer fazer prognósticos: "Neste momento, não é possível antever se a actividade gripal vai ser intensa ou moderada em Portugal." Os últimos dados indicavam que na segunda semana de Janeiro havia 11,6 casos por 100 mil habitantes (contra nove casos por 100 mil, na semana anterior). "Temos que estar preparados para uma actividade intensa e as pessoas ainda vão a tempo de se vacinar", avisa, mesmo assim, Francisco George. "Devemos esperar o melhor, mas preparar-nos para o pior", sintetiza o pneumologista Filipe Froes, consultor da Direcção-Geral da Saúde, que lembra que o vírus da gripe é "previsivelmente imprevisível". Mesmo assim, antevê que o pico da epidemia deverá acontecer "dentro de três a quatro semanas".

Na Europa, o que se está a verificar é que mais a norte, na Dinamarca e na Suécia, o predominante é o vírus pandémico (A H1N1), enquanto nos países do Centro, como a França, há co-circulação dos tipos A e B e no Reino Unido, Itália e Espanha tem sido reportado sobretudo o B. Este último é muito mais estável e não causa grandes epidemias, explica Vítor Faustino, do Gripenet, um projecto de monitorização da epidemia sazonal criado por investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência.

"Na Europa, parece haver uma mistura", acrescenta Raquel Guiomar, a virologista que dirige a unidade de referência para a gripe em Portugal do Instituto Ricardo Jorge. Sublinhando que não há uma clara definição de qual vai ser o predominante, lembra que os três tipos de vírus influenza em circulação estão contemplados na vacina e convida as pessoas a vacinar-se, uma vez que a "imunização completa é adquirida ao fim de duas semanas".

Na tentativa de aumentar a taxa de cobertura da vacinação entre os mais idosos, este ano as autoridades decidiram disponibilizar gratuitamente nos centros de saúde vacinas para as pessoas a partir dos 65 anos. Mas a medida não surtiu grande efeito. Se na época gripal 2011/2012 a taxa de cobertura neste grupo etário rondou os 43%, chegou no início deste mês aos 49%, ainda muito abaixo do desejável. Para a época gripal de 2014-2015, Portugal assumiu a meta de 75% de cobertura para a população idosa e com risco de complicações.

"Um dos problemas é que há uma ideia muito enraizada junto da população idosa de que depois de Novembro não vale a pena vacinar-se", lamenta Filipe Froes. Um inquérito sobre vacinação antigripal na época 2011-2012, realizado por Baltazar Nunes e Maria João Branco, do Departamento de Epidemiologia do Instituto Ricardo Jorge, permite perceber que o preço está longe de ser a razão que justifica o desinteresse de tantos idosos. A maior parte dos que não quiseram imunizar-se explicou que não se vacinou porque desvaloriza ou nega a importância da gripe (41,4%) e 21,8% alegaram que tiveram uma má experiência com a vacina no passado. Que estratégias poderiam então ser adoptadas para motivar as pessoas mais idosas a imunizar-se? Os profissionais de saúde têm aqui um papel relevante a desempenhar: um terço dos inquiridos admitiu que tomaria a vacina, se um médico a recomendasse.
 
 
 

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