Há mais de 400 mil edifícios com valor cultural à espera de requalificação

A reabilitação do património edificado será discutida num Fórum na Universidade de Aveiro. O objectivo passa pela defesa da manutenção do valor cultural dos edíficios degradados.

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Dados do INE, referentes ao ano de 2011, mostram que na última década houve uma diminuição de cerca de 36% de edifícios degradados no país Público/ Arquivo

A Universidade de Aveiro (UA) vai receber, nos próximos dias 1 e 2 de Junho, o Fórum Internacional do Património Arquitectónico Portugal/Brasil. A actual situação das empresas de construção especializadas na reabilitação de edifícios, o modo como esta está a ser feita, em ambos os países, e a consequente perda de valor de património cultural serão alguns dos principais temas discutidos no Fórum.

Em Portugal existem cerca de 400 mil edifícios que necessitam de obras de reabilitação, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), mas nem sempre a recuperação das obras são feitas com o nível de especialização que seria aconselhado, principalmente quando comparado com outros países da Europa. 

A grande maioria dos edifícios que se encontram num grande estado de degradação está concentrada nos centros urbanos, nas estruturas do parque industrial mais antigo e nas áreas rurais. Estas zonas são também as que têm um maior valor cultural em risco. Sendo assim, a estes edifícios degradados está automaticamente associado a degradação do valor cultural e a eventual perda. 

Desta forma, o encontro em Aveiro, cuja a 1.ª edição se realizou no Brasil em 2014 e da qual a abertura do poder político foi um dos aspectos positivos, servirá para que seja feita uma reflexão do que pode ser feito na área da especialização de engenheiros e arquitectos e na requalificação das empresas de construção. A manutenção do valor cultural dos edifícios após a sua reabilitação é a grande prioridade dos envolvidos no projecto dos 2 países.

Ao PÚBLICO Alice Tavares, especialista em  reabilitação de edifícios antigos do Departamento de Engenharia Civil (DECivil) da UA, disse que a formação nas instituições de ensino portuguesas "centra-se essencialmente nos novos materiais e no betão armado, técnicas que têm, muitas vezes, elevada incompatibilidade material e mecânica com as estruturas antigas". "Considerando que Portugal tem que se virar para a reabilitação em detrimento da construção nova, teremos que redireccionar a formação de técnicos para responder a esta nova necessidade imperativa do mercado", afirma a especialista. 

Dados do INE, referentes ao ano de 2011, mostram que na última década houve uma diminuição de cerca de 36% de edifícios degradados no país. Mas para Alice Tavares este número podia ser positivo caso não existisse uma grande parte da demolição integral e das fachadas na forma como o património edificado é reabilitado. "A este tipo de intervenção pode-se chamar de demolição e construção nova e, não de reabilitação".  

A especialista insiste que tanto Portugal como o Brasil precisam de técnicos especializados nesta área. “Só assim conseguiremos implementar políticas mais assertivas na promoção de uma reabilitação culturalmente sustentável”, afirma Alice Tavares. Para que isto aconteça é fundamental o aumento das capacidades das empresas responsáveis pelas reabilitações com o apoio da investigação que é feita nas universidades neste campo. "As empresas de construção precisam de melhorar muito as suas competências na área da reabilitação, pois ainda temos poucas com capacidade de responder ao desafio", aponta. 

As dificuldades visíveis na área da reabilitação no país, para além da execução, estão também ligadas a regulamentação e às decisões tomadas, segundo a especialista do DECivil. Assim, do Fórum espera-se que saiam ideias para regulamentos nacionais para a manutenção dos valores culturais na reabilitação, entre elas linhas estratégicas municipais. 

Este projecto entre os dois países, liderado pelo professor Aníbal Costa do DECivil, vai promover a troca bilateral de ideias sobre reabilitação urbana. Em Aveiro a troca de saberes irá permitir a consolidação de acções conjuntas e parcerias neste campo e serão debatidas as políticas urbanas e culturais relacionadas com a gestão do património.

Texto editado por Andrea Cunha Freitas


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