O tempo de graça

Cuidado com a BBC Radio 4 Extra: é uma estação de rádio deliciosa que nos oferece, através da Net, programas hilariantes, inteligentes e irresistíveis gravados ao longo dos séculos XX e XXI.

É bom ouvi-los sem ir ver a data da gravação. Muitas vezes ouvimos um programa divertidíssimo que parece ter sido transmitido esta semana e depois descobrimos que tem dois ou vinte anos de idade.

A rádio é capaz desta atemporalidade. Há coisas que não mudam, que não envelhecem, que a rádio apanha bem. As personalidades, por exemplo. Na televisão ou nos jornais o tempo é mais visível – a roupa e a paginação denunciam-se com alacridade. Na rádio, a voz humana é bastante mais eterna, sem ser etérea.

O mal da BBC Radio 4 Extra é que só nos oferece emissões escolhidas a dedo para nos fisgar. Se quisermos ouvir os anteriores ou restantes, temos de pagar cerca de um euro e meio por meia hora, no iTunes. É barato e vale a pena — são cinco cêntimos por minuto —, mas as compras acumulam-se com uma grande facilidade. Ao fim do dia, três horas são nove euros e ao fim do mês são 270 euros.

Aconselho, por isso, que ouça apenas os programas-isco, que oferecem grátis. Não há tempo nem dinheiro para mais. Mudam todas as semanas. Basta ir ao site da BBC Radio 4 Extra (os da 4, da 3 e da 6 também são maravilhosos) e experimentar ouvir os que mais lhe apetecerem.

Esqueça os outros. O tempo nunca acaba, mas nós, entretanto, morremos.

Vivamos bem ocupados, pelo menos.

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