O Natal mais lindo

Afligem-me os mails mecânicos e estúpidos que me desejam um bom Natal, sempre na esperança que lhes compre coisas ou que trabalhe de borla

Lembro-me do suplício dos cartões de Natal. Os meus pais tinham uma lista interminável de nomes e moradas a quem mandavam cartões da Unesco, com inscrições a tinta permanente e assinaturas de todos nós.

O sistema era um precursor do "three strikes and you're out" que impera no cruel sistema judicial dos Estados Unidos da América. Se um recipiente de um cartão de Natal nosso não respondesse ao terceiro Natal sucessivo com um único cartão era eliminado da lista.

O mais irritante (e trabalhoso) era que a grande maioria só fraquejava um ano ou dois, garantindo uma continuidade de trabalho e despesa da nossa parte.

Flash forward (a própria expressão morta há quase duas décadas) e afligem-me os mails mecânicos e estúpidos que me desejam um bom Natal, sempre na esperança que lhes compre coisas ou que trabalhe de borla: o que, bem pensadas as coisas, vem dar ao mesmo.

No meio de muitas estúpidas e automáticas boas festas que me mandaram a mais estúpida, analfabeta e preguiçosa veio de uma empresa de chamados formadores que me abençoaram com a seguinte mensagem:

"Boa tarde,

Desde já gratos pelo S/contacto.

Respondendo às suas questões:

Agradecemos e retribuímos os votos de Boas Festas."

Seguia-se, em maiúsculas sublinhadas o irresistível incitamento: "COMO ACOMPANHAR, EM TEMPO REAL, AS OFERTAS DE FORMAÇÃO E EMPREGO MAIS RECENTES".

Que encanto.

Feliz Natal.

Sabe tão bem que as empresas que dependem do nosso dinheiro se lembrem de nós no Natal!

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