O eu para nós

Vivemos, como sempre, mal: com o nós no meio dos eus.

Vivemos na idade do eu. As mentalidades vigentes são sempre suspeitas: não tanto por serem maioritárias mas por não serem postas em causa.

A propaganda entra tanto nos livros como nos filmes. A actual diz-nos: Faz o que tu queres fazer sem pensar nos outros. Segue a tua alma, a tua ideia e o teu raio-que-o-parta e verás que as ideias dos outros não valem nada.

Por enquanto, até 2015, ninguém denunciou a contradição foleira deste conselho. Para já, todos os seres humanos (tal como todas as religiões e todos os produtos, excepto as artes) são muito mais parecidos uns com os outros do que pensamos.

Foi no último TLS que li que o facto de cada um de nós se achar especial e melhor do que os outros é a coisa que mais nos une uns aos outros. E a que mais nos ajuda a perceber como todos os outros são parecidos connosco.

A propaganda de hoje, menos venenosa do que estúpida, tenta convencer-nos de que a única coisa que interessa (desde a maneira de nos vestirmos até a tudo o que dizemos, escrevemos, pintamos, pensamos e musicamos) é conseguirmos exprimir a expressão sincera do que isolada e narcisicamente sentimos.

A injustiça para com os maus filmes americanos de massas é achar que são só eles que propagandeiam segue o teu sonho, não ouças mais ninguém e alcançarás o que queres. Mentira. Somos nós todos.

Não só temos de pensar nos outros, como é natural pensarmos como somos para os outros. Vivemos, como sempre, mal: com o nós no meio dos eus.

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