Nem GNR nem PSP têm operações no terreno para recapturar reclusos de Castelo Branco

GNR investiga, sem sucesso, dezenas de avistamentos dos três foragidos. Guardas prisionais agredidos já tiveram alta. Associação de Apoio ao recluso fala em negligência.

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Foragidos têm 55, 49 e 27 anos e têm familiares que são feirantes Nelson Garrido

A GNR de Castelo Branco já recebeu mais de uma dezena de denúncias da população sobre avistamentos dos três reclusos que fugiram domingo do estabelecimento prisional daquele distrito. Fonte da PSP esclareceu que os foragidos, que continuam a monte, já estarão fora da cidade, em área cujo patrulhamento pertence à GNR. Nem uma nem a outra força têm operações em curso no terreno para recapturar os evadidos.

“Desde que foi reportada a fuga ontem [domingo] à noite que recebemos vários telefonemas de pessoas dando conta de que tinham visto os reclusos. Verificámos todas essas denúncias no local e não se registou nenhum avistamento positivo”, disse ao PÚBLICO o major Brito, da GNR de Castelo Branco.

O responsável justificou ainda o grande volume de denúncias da população com o facto de, nesta segunda-feira, ser dia de feira na cidade e os evadidos pertencerem a famílias de feirantes. “Penso que será isso que está a gerar confusão”, disse.

A Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) informou em comunicado emitido já nesta segunda-feira que foi instaurado “um processo de inquérito, a cargo do Serviço de Auditoria e Inspecção, que é coordenado por um magistrado do Ministério Público”. A DGRSP garantiu ainda que a fuga “foi de imediato comunicada à PSP, GNR e Polícia Judiciária [PJ]”.

Dois dos reclusos, antes com residência em Gavião, no Fundão (Castelo Branco), e Sousel e Avis, no distrito Portalegre, são bem conhecidos da investigação criminal da GNR. Logo após as 19h de domingo, a GNR esteve cerca de duas horas num acampamento de casas abarracadas na recta do Lanço Grande, em Castelo Branco, onde os evadidos têm familiares. A acção, que se destinava a recolher informações sobre a possível localização dos foragidos, não teve, porém, sucesso.

Após a acção, a GNR manteve ainda um carro-patrulha no local para, de forma discreta, vigiar o acampamento no sentido de detectar a eventual chegada de algum recluso. Aquela força policial não tem, por ora, qualquer operação de recaptura programada, mantendo apenas uma maior fiscalização e a resposta pronta às denúncias de avistamento que cheguem, confirmou o major Brito.

Reclusos terão estado num café em Alcains
Também a PSP, responsável pelo patrulhamento no interior da cidade, disse não ter qualquer operação em curso de recaptura. “Tivemos informação de que os reclusos foram vistos num café em Alcains, Castelo Branco. Entraram e saíram rapidamente. Essa área já não é nossa”, explicou fonte policial ao PÚBLICO. Apenas a PJ, segundo fonte da DGRSP, estará a proceder a diligências em bairros e acampamentos próximos para obter informações que possam conduzir à localização dos evadidos.

Os reclusos fugiram domingo pelas 19h, quando eram conduzidos para a ala do estabelecimento em que iam jantar. No trajecto para o refeitório, que inclui uma passagem obrigatória por uma das quatro portarias internas da prisão, os reclusos agrediram três guardas com violência, um dos quais com uma chave de fendas no abdómen e no pescoço. Depois saíram do pavilhão da cadeia e saltaram o muro para o exterior.

Sobre os três guardas agredidos, que foram transportados para o hospital, o presidente do Sindicato Independente do Corpo de Guardas Prisionais, Júlio Rebelo, disse ao PÚBLICO: “Já tiveram alta. Estão em casa, mas ainda terão de fazer mais exames, pois o nível de ferimentos é considerável”.

Penas entre cinco e nove anos
Uma informação inicial, prestada por fonte dos Serviços Prisionais, dava conta de que os três homens em fuga, com 27, 49 e 55 anos, cumpriam pena de prisão por homicídio, tentativa de homicídio e assaltos e burlas. A DGRSP, porém, salienta em comunicado que os “reclusos são autores de crimes de furto, roubo, falsidade de declarações, extorsão e condução de veículo sem habilitação legal, estando condenados a penas de cinco, oito e nove anos de prisão.

A Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso (APAR) questionou nesta segunda-feira as condições de segurança e a resposta dos guardas prisionais durante a fuga. “A cadeia de Castelo Branco tem 130 presos e 80 guardas. Mais de um guarda para cada dois presos. Como era domingo, estavam 14 guardas na cadeia e outros 66 a descansar. A fuga só foi possível porque não foram tidas em conta as mais elementares regras de segurança”, acusou a APAR em comunicado, questionando também “o que estavam a fazer os guardas das torres de vigilância” àquela hora e concluindo que “houve negligência grosseira e a habitual incompetência”.

O PÚBLICO questionou a DGRSP que, contudo, não quis reagir às críticas. Sublinhou apenas que pelo menos um dos foragidos estava já no final da pena de prisão e que os guardas terão sido apanhados de surpresa e “não esperavam” a “reacção violenta” dos reclusos.

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