Ministro da Saúde escapa à "Grândola", mas não às críticas do PSD

O ministro da Saúde não ouviu cantar a "Grândola, mas teve de responder a preocupações e a críticas na sessão de Coimbra das jornadas dos sociais-democratas.

Foto
Paulo Macedo, ministro da Saúde Daniel Rocha

O ministro da Saúde, Paulo Macedo, foi poupado pelos manifestantes, mas não pelos sociais-democratas e pelos independentes que este sábado participaram nas Jornadas de Consolidação, Crescimento e Coesão, organizada pelo PSD em Coimbra.

A maior parte das intervenções foi de desânimo, preocupação e mesmo de crítica directa, que Paulo Macedo rebateu com serenidade, lembrando repetidamente que Portugal vive “uma situação de emergência” e que “é preciso fazer escolhas”.

Não chegou a haver debate ou momentos de tensão, graças ao desfasamento entre o momento das perguntas (feitas de seguida por vários elementos da plateia) e o da reacção do ministro (que respondia de uma só vez a quatro ou cinco das questões colocadas, sempre num tom monocórdico e apaziguador). Mas, se a discussão não chegou a subir de tom, também não se pode dizer que Paulo Macedo, independente, tenha tido razões para se sentir em casa, numa sessão aberta apenas a militantes sociais-democratas, personalidades convidadas pelo PSD e representantes da comunicação social.

Do primeiro balde de água fria encarregou-se Nuno Freitas, médico e antigo deputado eleito pelo círculo de Coimbra. Logo após a intervenção inicial do ministro, o militante social-democrata pediu a palavra para afirmar que “hoje morre-se mais, em Portugal, por deficiência dos cuidados de saúde”. Mais tarde, Paulo Macedo acabaria por contrariar aquela afirmação, assegurando que os dados provisórios relativos a 2012 “não apontam para isso, pelo contrário”. Mas o tom estava dado.

Ao longo da sessão, que durou perto de três horas, o ministro foi chamado a responder ou a intervir em nome do Governo pela ausência de políticas de promoção da natalidade, pelos avanços e recuos no que respeita à Taxa Social Única e às indemnizações por despedimento, e pela desactivação da linha ferroviária da Lousã, por exemplo.

No que respeita ao sector da saúde, as críticas mais fortes foram feitas por Nuno Freitas, que disse não poder elogiar mais do que a capacidade do Governo para “encontrar um programa de assistência financeira de emergência para um país em bancarrota”. A seguir foram farmacêuticos que perguntaram por perspectivas de futuro para quem arrisca “ter de fechar portas”. O prestigiado cirurgião Castro e Sousa fechou a ronda, lamentando que em Coimbra a cirurgia laparoscópica tenha de ser feita com "instrumentos do século passado".

Em resposta àquelas e a outras críticas, Paulo Macedo nunca optou pelo confronto. Na intervenção inicial já tinha colocado entre os motivos de satisfação ter mantido “o Serviço Nacional de Saúde (SNS) a funcionar com qualidade”, numa “situação de emergência nacional”, num sector “com uma das maiores dívidas acumuladas” e “com hospitais ameaçados de corte de financiamento”. A partir daí, não perdeu um pretexto para recordar que o país vive “uma situação de crise sem paralelo” e para avisar que “a sustentabilidade do SNS não está assegurada”.

“Temos mais envelhecimento e mais doenças crónicas, temos de continuar a ter inovação e temos de fazer prevenção”, enumerou. Admitiu que “a tendência normal, nestas circunstâncias”, seria a despesa com a saúde subir. “Mas como? Pedindo mais impostos aos portugueses? Eu concordo que haja mais fundos para a Saúde, mas têm de me dizer de onde é que eles podem vir”, desafiou.

"Grândola" sem entusiamo
A fechar o debate, Paulo Macedo recorreu à ironia, convidando a plateia a escolher. “Queremos uma linha de comboio para a Lousã, um equipamento de um milhão de euros [para a cirurgia laparoscópica] ou mais prevenção? Sãos os portugueses que têm de decidir”, concluiu, acrescentando que a sua escolha foi assegurar “uma prestação assistencial de qualidade no momento em que as pessoas mais precisam”.

Fechada a sessão, Paulo Macedo saiu pela porta principal do edifício do Instituto Português da Juventude, onde três pessoas ladeadas por cinco polícias o acusaram de estar a destruir o SNS.

À entrada não chegou a ouvir cantar a “ Grândola, Vila Morena” .  Depois de esperarem mais de meia hora pelo ministro, os primeiros manifestantes a prometerem música, não mais que quinze, resolveram ir até ao café mais próximo e perderam a chegada de Paulo Macedo. Já o ministro estava no auditório quando finalmente se juntaram perto de 40 pessoas. Aproveitando a presença de tantos jornalistas, algumas puseram-se em fila, pegaram em cartazes e aceitaram cantar para as câmaras fotográficas e da TV. Mas sem ministro e sem entusiasmo, enganaram-se duas vezes na letra da canção e terminaram o protesto com sorrisos embaraçados.
 

Sugerir correcção
Comentar