"Magoa o nosso trabalho não ser conhecido"

Escola Superior de Educação de Santarém parou 12 minutos, como outras no resto do país, ainda em reacção às declarações do ministro da Educação.

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A Escola Superior de Educação de Setúbal foi uma das que aderiu à iniciativa dos 12 minutos Pedro Cunha

Um retrato de “um longo trabalho de 30 anos”, o testemunho de professores e uma sala repleta de alunos e funcionários marcaram os 12 minutos de protesto contra o ministro Nuno Crato, na Escola Superior de Educação de Santarém.

Às 16h, todas as escolas superiores de educação do país pararam durante 12 minutos — foi esta a duração da entrevista do ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, à RTP, a 18 de Dezembro. Nessa entrevista, Crato disse que “há professores licenciados por universidades e há professores licenciados por escolas superiores de educação que têm características diferentes e critérios de exigência muito diferentes”, o que deu origem a várias tomadas de posição contra o governante, por parte das escolas superiores e dos politécnicos.

“Magoa o nosso trabalho não ser conhecido e ser tratado com tanta leviandade por quem nos tutela”, afirmou nesta quinta-feira Maria João Cardona, ex-directora da Escola Superior de Educação de Santarém (ESES), quando os membros dos órgãos directivos da escola se juntaram no auditório com a comunidade académica, para mostrar a sua "manifestação de desagrado" perante a comunicação social.

Aos números apontados pelo actual director, Jean Campiche, para dar a dimensão do trabalho desenvolvido na ESES, Maria João Cardona acrescentou “a grande tradição” desta escola no trabalho com África (nomeadamente na elaboração dos manuais escolares de São Tomé e Príncipe) e mais recentemente com o Brasil.

As Escolas Superiores de Educação "não estão na infância, já deram muitas provas de muito e bom trabalho", frisou, realçando o desconhecimento por parte de Nuno Crato da realidade de uma formação muito próxima da das universidades.Outra das professoras, e subdirectora, Helena Luís, lembrou que a estrutura curricular “é exactamente a mesma, tal como é a mesma agência que avalia os cursos”.

“Estamos aqui para mostrarmos quem somos, já que o ministro não sabe”, afirmou Jean Campiche. Actualmente com 723 alunos e 62 professores (48% dos quais doutorados ou com o título de especialistas e 31 em doutoramento), a ESES lecciona cinco licenciaturas, oito mestrados, dois cursos de especialização tecnológica e duas pós-graduações, frisando o director que são precisos cinco anos (licenciatura mais mestrado) para formar um professor.

A acção de reflexão realizada hoje em todas as ESE do país insere-se no conjunto de iniciativas que a Associação de Reflexão e Intervenção na Política Educativa das Escolas Superiores de Educação (Aripese) decidiu realizar em reacção à entrevista do ministro.

A Aripese representa 12 das 13 ESE públicas do país. A única escola que não integra a associação é a da Guarda, mas também esta instituição decidiu participar na Jornada de Reflexão.

A jornada é a primeira de outras acções “de reflexão, discussão e clarificação” que as ESE vão realizar ao longo do ano lectivo.

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