Revista Análise Social vai ser posta em circulação com o ensaio dos graffiti

Decisão foi tomada por unanimidade pelo conselho científico do ICS e segue-se à polémica decisão de suspender a revista por causa do artigo ilustrado com graffiti críticos do Governo. "Uma vitória importante", diz João de Pina-Cabral.

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Depois da suspensão da revista científica Análise Social por causa de um artigo do sociólogo Ricardo Campos ilustrado com graffiti críticos das políticas do Governo, o conselho científico do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa deliberou nesta sexta-feira, por unanimidade, voltar a “pôr em circulação” o número 212 da revista, que incluía o polémico ensaio, “em versão impressa e digital”.

Num comunicado enviado esta noite às redacções, aquele órgão do ICS anuncia a decisão de “acolher a proposta do director do instituto de fazer cessar a suspensão preventiva e cautelar” do número 212 da revista e afirma “a confiança no director do ICS".  No mesmo comunicado sublinha-se ainda que, “de acordo com os estatutos em vigor, a Análise Social 212 é da exclusiva responsabilidade do então director da revista”, João de Pina-Cabral.

O PÚBLICO contactou o director do ICS para confirmar se a versão que será posta em circulação é a original, mas o responsável escusou-se a comentar o teor do comunicado, justificando que o mesmo é esclarecedor. Contudo, o director do número cuja publicação acabou por ser suspensa confirmou já ao PÚBLICO que “a revista vai ser reposta tal como estava”, isto é, na versão original que inclui o ensaio no centro da polémica. “Trata-se de uma vitória importante para as ciências sociais em Portugal e para a liberdade de imprensa face a um ataque impensado”, esclareceu João de Pina-Cabral em resposta enviada por e-mail.

O conselho científico do ICS esteve reunido nesta sexta-feira e ouviu o director do Instituto de Ciências Sociais, José Luís Cardoso – que decidiu suspender a publicação da revista na Internet e na sua versão impressa –, e o director do número 212 da revista, João de Pina-Cabral, que logo na altura discordou daquela decisão.

Tendo em conta também “o debate suscitado no interior do instituto”, o conselho científico deliberou ainda por unanimidade “saudar o esforço do director do instituto no sentido de assegurar a qualidade científica da revista” e também “de acautelar riscos de responsabilidade civil associados à publicação do número 212”.

Foi ainda decidido por unanimidade “solicitar ao actual director [José Manuel Sobral] da revista Análise Social (eleito em 23 de Setembro de 2014) que apresente ao conselho científico uma proposta de critérios de publicação de todo o tipo de conteúdos a serem incluídos na revista”.

“Gesto de censura”
Quando a polémica estalou, o director do ICS disse ao PÚBLICO que a decisão de suspender a revista era unicamente sua e se devia ao facto de o ensaio visual de Ricardo Campos conter “imagens e mensagens que eram susceptíveis de pôr em causa o bom nome e a imagem do ICS e da revista”. João de Pina-Cabral e a maior parte dos membros do conselho redactorial que nos últimos três anos e meio dirigiram a revista discordaram “profundamente deste acto, que associam a um gesto de censura”. E a apoiá-los tiveram ainda centenas de personalidades nacionais e estrangeiras das mais diversas áreas das ciências e investigação, que se afirmaram publicamente contra a decisão do director do ICS de suspender a revista.

Apesar da suspensão, o director do ICS também chegou a dizer que o número 212 da Análise Social seria "novamente impresso, com todos os artigos programados para este número, à excepção do 'ensaio visual' em questão".

Porém, na passada sexta-feira, José Luís Cardoso do ICS enviou um e-mail à comunidade científica do instituto no qual afirmava que “o acto de suspensão reveste carácter preventivo e provisório e aguarda apreciação e deliberação do conselho científico”, na reunião marcada para esta sexta-feira. “É a este órgão de gestão que compete pronunciar-se sobre a orientação editorial da Análise Social”, acrescentava, numa atitude que foi lida na altura no ICS como uma porta aberta para voltar atrás na decisão.

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