Em Espanha é hoje sorteado o maior El Gordo de sempre

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O El Gordo faz parte das tradições de Natal em Espanha Paul White/AP (arquivo)

Hoje, como todos os 22 de Dezembro, anda à roda o sorteio de Natal das Lotarias e Apostas do Estado de Espanha (LAE). Mais uma vez, e fazendo justiça à sua designação popular, a edição 2006 de El Gordo é a maior da história.

As novidades são quase telegráficas e com um lugar-comum: a excepcionalidade que bate recordes. Assim, o total da emissão de bilhetes é de três mil milhões de euros, o mais elevado de sempre, repartidos no maior valor de números e de séries: 85 mil números e 180 séries, contra os 66 mil e 170 do concurso de 2005.

Na prática, aumentam os números, pelo que diminui a possibilidade matemática de um comprador de apenas um décimo ter a sorte como companheira. Mas, paradoxalmente, tal facto, teoricamente limitativo para a fortuna, não faz esmorecer os compradores. Vai ser mantida a tradição da última década, pela qual os espanhóis passaram de investir - ou gastar, consoante a perspectiva - 1,2 mil milhões de euros para 2,5 mil milhões.

Esta procura não satisfaz, apenas, a contabilidade da LAE, que tem no sorteio natalício de El Gordo quase metade das vendas anuais de lotaria. As Finanças espanholas também sairão reconfortadas. E, desta vez, sem que o cidadão na sua faceta de apostador se queixe da contribuição. Se, este ano, se mantiver a mesma percentagem de venda de bilhetes de 2005, que rondou os 89,5 por cento, o erário público arrecadará 660 milhões de euros, equivalentes à percentagem de 24 por cento que lhe é legalmente reservada.

Por detrás destes valores de espanto não está apenas a compensação dos prémios que o The New York Times divulgou nos Estados Unidos através de uma tradução tão literal como certeira: The Fat One. A base deste negócio repousa na affición espanhola aos jogos de azar. Em Espanha estão recenseados 37 casinos, 447 salas de bingo e mais de 360 mil máquinas instaladas em bares, restaurantes, cafetarias e onde haja electricidade...

Polémica na substituição do slogan publicitário

Isto somado às lotarias da LAE e aos sorteios promovidos pela ONCE (Organização Nacional dos Cegos de Espanha), levou a que no ano passado os espanhóis gastassem 28,4 mil milhões de euros em jogo, o que dá a surpreendente média de 643,37 euros por habitante. Um valor que, tendo em conta o custo de 11 milhões de euros por quilómetro do metro de Madrid, permitiria ligar pelo subsolo a capital espanhola a Berlim.

Por isso, El Gordo tem lugar próprio no orçamento natalício. Tomando por exemplo a Comunidade de Madrid, a que mais joga de toda a Espanha, a Confederação de Consumidores e Utentes (CECU) fez os cálculos para este ano. Depois da compra de alimentos para as refeições festivas da época, dos brinquedos e dos restaurantes, lá está a lotaria, com um gasto de 152 euros num orçamento médio de 1,2 mil euros.

Assim, não é de estranhar que tudo o que gira à volta de El Gordo seja noticioso. E, em Espanha, tal equivale a polémica. A substituição da publicidade do sorteio do Natal foi a controvérsia de 2006: após oito anos de convívio com o actor britânico Clive Arrindell, popularizado como El Calvo (o careca), uma figura enigmática que nos anúncios distribuía décimos que mudavam a vida, mudou a agência. Desapareceu El Calvo e o slogan O que sai não convence.

Superstições para todos os gostos

No entanto, joga-se, seguindo outro princípio publicitário, esse sim mais conseguido: E se sai?. Para alguns supersticiosos, que aliam o número do décimo a datas sonantes do ano, o número deste ano é o 22106, referência a 22 de Outubro do ano de 2006, quando Fernando Alonso conquistou o seu segundo título mundial da Fórmula 1. No ano passado, os números procurados pelos supersticiosos foram o 31805, data do furacão Katrina de Agosto daquele ano, e o 02405, correspondente à data da morte de João Paulo II.

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