Doente morre no hospital após falha na viatura médica de socorro

Homem de 39 anos foi socorrido pelos bombeiros por não haver médico naquele momento para a viatura médica de emergência e reanimação (VMER) do Centro Hospitalar das Caldas da Rainha. Inspecção-Geral das Actividades em Saúde vai abrir um processo ao caso.

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Nos últimos tempos têm existido vários casos de problemas com faltas de equipas nas VMER Nelson Garrido

Um homem de 39 anos morreu no Centro Hospitalar das Caldas da Rainha depois de ter sido transportado para a unidade numa ambulância dos bombeiros, por a viatura médica de emergência e reanimação (VMER) estar parada por falta de médico.

A vítima, adianta o Diário de Notícias, estava com hemorragias e a entrar em paragem cardiorrespiratória quando a mulher, enfermeira no mesmo centro hospitalar, contactou o 112. Porém, na segunda-feira, à hora a que foi feita a chamada, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) acabou por enviar uma ambulância dos bombeiros porque a VMER estava parada por não haver médico. Foi a própria enfermeira a iniciar as manobras de reanimação do marido.

Questionado pelo PÚBLICO, o Ministério da Saúde remeteu eventuais declarações sobre o tema para durante o dia, mas confirmou que a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde, tal como nas restantes situações, vai abrir um processo de averiguações ao caso das Caldas da Rainha.

O Centro Hospitalar das Caldas da Rainha confirmou, através de um comunicado, que “lamentavelmente, na manhã do dia 28 de Abril, a VMER das Caldas da Rainha esteve inoperacional por um período de cerca de duas horas, entre as 8h e as 10h, por falta de médico. O socorro e o transporte foram geridos pelo CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes]. O utente chegou ao hospital transportado pelos bombeiros. O óbito foi confirmado já na urgência”.

Porém, a unidade garantiu que tanto a VMER das Caldas da Rainha como a de Torres Vedras têm tido uma operacionalidade de 97% e de 99% desde Janeiro. O hospital aguarda agora o resultado da autópsia do Instituto Nacional de Medicina Legal, escusando-se, para já, a avançar as causas da morte.

Este não é o primeiro caso em que a operacionalidade dos meios de socorro é colocada em causa. Na quarta-feira, na comissão parlamentar de Saúde, onde esteve o ministro da Saúde na sequência de um agendamento potestativo do PCP, os problemas relacionados com o INEM foram um dos temas em debate. Na altura, perante dúvidas apontadas pela oposição, Paulo Macedo reafirmou a sua confiança nestes meios e disse que é necessário aguardar pelos inquéritos dos casos que mereceram ser alvo de investigação. Já antes, o ministro tinha dito que 2013 foi o ano com menos inactividade de sempre nestes meios.

Na sequência desta novo caso, o PS já anunciou que vai requerer os resultados dos inquéritos às falhas no Serviço de Emergência Médica, pedindo ao ministro da Saúde que assuma responsabilidade depois de ter transformado o serviço "em algo que gera a maior intranquilidade nas pessoas". "O PS vai requerer institucionalmente o resultado desses inquéritos, dessas inspecções, para que o senhor ministro não possa lavar novamente as mãos como Pilatos, para que compreenda que o Serviço de Emergência Médica não pode ter falhas, é para salvar vidas, tal como os controladores aéreos não podem ter falhas, porque estão vidas em jogo", afirmou o deputado do PS José Junqueiro, citado pela Lusa, em declarações aos jornalistas no parlamento.

"Não se trata só de uma responsabilidade política, trata-se já neste caso de matéria de consciência e o senhor ministro tem de perceber que deve assumir imediatamente as suas responsabilidades, não se pode refugiar atrás de inquéritos, de inspecções, dos quais o país até ao dia de hoje não tem nenhum conhecimento", acrescentou o deputado socialista.

No início de Abril, o Ministério da Saúde (MS) tinha já dado a conhecer um novo despacho que determina que os directores dos serviços de urgência passam a ter a responsabilidade de manter, com conhecimento do INEM, uma lista com o pessoal apto para tripular as VMER, as escalas de serviço (que devem indicar substitutos em caso de falta) e a “operacionalidade permanente do meio”. O diploma fixa ainda que todos os médicos e enfermeiros dos serviços de urgência, das unidades de saúde, com formação em emergência dada pelo INEM, “podem ser chamados para integrar a escala de profissionais que asseguram a tripulação” das VMER, em detrimento de outras actividades hospitalares”.

A tutela justifica este despacho com a necessidade de “reforçar as regras que garantam a operacionalidade permanente dos meios de emergência pré-hospitalar, assegurando o seu regular funcionamento” e “reduzindo” os “tempos de inoperacionalidade”. Mas o novo enquadramento também responde “a conclusões preliminares de um processo de averiguações da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde às inoperacionalidades das VMER que está em curso e será oportunamente divulgado”.

A polémica estalou depois de, em Évora, a VMER do hospital da cidade não ter saído para socorrer duas vítimas de um acidente perto de Reguengos de Monsaraz, porque o médico escalado faltou.

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