Casa Pia: testemunha volta a acusar Ferro Rodrigues

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O nome de Ferro Rodrigues surgiu na mesma fase que o de Paulo Pedroso Carlos Lopes/PÚBLICO

O nome de Ferro Rodrigues foi ontem citado no julgamento do processo da Casa Pia pela principal testemunha de acusação, um jovem de 19 anos.

Segundo os relatos da sessão recolhidos pelo PÚBLICO, este jovem afirmou que o antigo secretário-geral do PS lhe abrira a porta numa casa em Vila Viçosa onde, acompanhado por Carlos Silvino, ele fora entregar um menor da Casa Pia, para alegadas práticas sexuais.

O advogado de Ferro Rodrigues, Pedroso de Lima, confrontado, afirmou que era a "repetição do que a mesma alegada vítima dissera na fase do inquérito e que fora negado pelo miúdo a que ele se referiu". O advogado disse que o menor foi identificado, porque a testemunha que actualmente depõe perante o tribunal que julga o processo da Casa Pia o identificou pelo primeiro nome e descreveu alguns dos seus sinais físicos.

Pedroso de Lima disse ainda que, à semelhança do que aconteceu na sequência da primeira acusação, o jovem que agora voltou a acusar Ferro Rodrigues será "processado por denúncia caluniosa". E lembrou que o depoimento "não foi considerado relevante, tanto assim que o dr. Ferro Rodrigues não está a responder em nenhum processo".

A acusação a Ferro Rodrigues deste jovem, também alegada vítima do processo, que depõe pela sexta vez no tribunal que julga o processo da Casa Pia, foi proferida durante a instância do advogado Paulo Sá e Cunha, que defende Manuel Abrantes e que, de manhã, ficara marcada pela confrontação do jovem com a escuta de uma conversa telefónica ele e uma rapariga sua amiga, em Fevereiro de 2003, quando o processo da Casa Pia se encontrava na fase de inquérito.

Sá e Cunha perguntou ao mesmo jovem porque é que chamou, segundo a citada escuta, "filho da puta" ao antigo provedor adjunto da Casa Pia. "Pelo ódio que lhe tenho", terá respondido o jovem, segundo os relatos a que o PÚBLICO teve acesso. Questionado sobre o porquê desse ódio, a testemunha respondeu: "Por tudo o que me fez."

A confrontação da testemunha com a escuta deste telefonema tem, aparentemente, como objectivo sublinhar a ideia de que pode ter sido a rapariga com quem o jovem está a falar a influenciá-lo no sentido de envolver Abrantes nos factos da pronúncia.

À saída do tribunal, o ex-provedor adjunto, que foi alvo de um processo disciplinar na Casa Pia, na sequência do qual passou à reforma compulsiva, decisão da qual interpôs recurso, disse que irá desistir dessse recurso e de quaisquer esforços para regressar à instituição. "A Casa Pia morreu para mim, deixo aqui um adeus", afirmou. A seguir, referiu-se, sem dizer nomes, ao envolvimento de Catalina Pestana e da sua assessora - que passaram a escrito as queixas do jovem que actualmente depõe em tribunal -, que estiveram origem do processo disciplinar de que foi alvo. "Não foi bonito", afirmou.

Hoje, o tribunal que julga o processo da Casa Pia reúne-se na casa da Avenida das Forças Armadas, nº 111, palco, segundo o despacho de pronúncia, de abusos sexuais atribuídos a Carlos Cruz. Na visita, a segunda que o tribunal faz a esta morada, participa Carlos Silvino, o principal arguido do processo. Esta visita destina-se, provavelmente, a desfazer eventuais dúvidas sobre o acesso - negado pela defesa de Carlos Cruz e afirmado pela acusação - ao interior do prédio a partir de uma porta das traseiras. O tribunal anunciou ainda que vai agendar visitas à casa de Elvas e ao Teatro Vasco Santana, palcos igualmente dos abusos sexuais descritos no despacho de pronúncia deste processo.

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