Advogado insiste que carro de Sócrates “não foi” a Paris

João Araújo recusa ser desmentido por qualquer advogado e acusa os jornalistas de mentirem. O deputado socialista João Soares visitou Sócrates e diz que "prisão é injusta e injustificada"

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O recurso da prisão preventiva de José Sócrates foi entregue na última sexta-feira Miguel Manso

O advogado de José Sócrates negou na manhã desta segunda-feira que alguma vez o carro do ex-primeiro-ministro tenha ido a Paris, conduzido pelo motorista, para lhe ir levar dinheiro. “Não foi, não foi”, repetiu incessantemente e com ar irritado o advogado aos jornalistas que o esperavam à porta da prisão de Évora.

“Reitero que o carro do engenheiro José Sócrates nunca passou de Espanha. É uma mentira [que tenha ido a Paris]”, vincou João Araújo quando questionado pelos jornalistas. “Tudo o que têm contra ele são aldrabices. Provas? Nenhumas. Factos? Nenhuns.”

João Araújo não gostou de ser questionado sobre o facto de ter sido desmentido pelo advogado do motorista João Perna, que terá admitido as viagens num segundo interrogatório. “Eu não sou desmentido por advogados; eu não vi nenhum desmentido de nenhum advogado. Vi o que vocês [jornalistas] disseram que o advogado de Aveiro disse. Uma aldrabice.”

O advogado estava visivelmente irritado com os jornalistas, recusando mesmo falar com alguns, de acordo com as imagens transmitidas em directo pelas televisões.

“O meu colega não me desmentiu”, reiterou João Araújo. Quando questionado sobre se o carro foi ou não a Paris, retorquiu: “Mas o que é que as pessoas têm a ver com uma coisa que não interessa rigorosamente nada? Não foi. Já lhe disse que não foi, não foi. E quem disser o contrário está a mentir.” Depois contra-atacou e acusou os jornalistas de estarem a mentir “para venderem papel”.

Antes fizera questão de dizer: “Falam por aí em concessões especiais de Natal... O sr. engenheiro não aceita concessão nenhuma desta gente, muito menos do sr. director-geral. Não precisa, e não as pede e não as aceita.”

Sobre as condições em que José Sócrates está detido e as razões para o pedido de recurso, o advogado apontou: “Se o Estado não tem condições de tratar convenientemente os presos preventivos, não os tenha.” Mas não foi sobre a falta de condições para o seu cliente na prisão de Évora que falou. “Olhe, por exemplo, não ter aqui este arraial permanentemente à porta…”

Embora a segunda-feira não seja normalmente um dia de visita, além de João Araújo, também o deputado socialista João Soares esteve com José Sócrates durante cerca de uma hora, já durante a tarde. "Como disse desde a noite da sua detenção, acho que esta prisão preventiva é injusta e parece-me injustificada", afirmou o ex-autarca lisboeta aos jornalistas à saída da prisão.

"Eu respeito a justiça, mas tenho a minha opinião sobre esta matéria", afirmou citado pela agência Lusa, sustentando que frequentou durante "muitos anos" a Faculdade de Direito de Lisboa, "de onde saiu uma boa parte destes juízes". Contou que o “amigo e camarada” está "em grande forma e com a fibra que todos os portugueses lhe conhecem".

Também esta manhã estiveram naquela prisão responsáveis da ASPIG – Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda Nacional Republicana para uma sessão de esclarecimento com elementos das forças de segurança que ali se encontram detidos.

À agência Lusa, o presidente da associação admitiu que as condições ali “não são as melhores”, especialmente por ser uma prisão pequena e estar sobrelotada. José Alho afirmou que irá denunciá-las junto da Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais. Para além da falta de equipamentos como máquinas de secar roupa, as celas são descritas como simples “camaratas” onde dormem vários reclusos.

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