Troika vê Portugal a terminar programa "de forma favorável", diz a maioria

Deputados de todas as bancadas reuniram-se esta quinta-feira com representantes do FMI, Comissão Europeia e BCE.

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Daniel Rocha

Miguel Frasquilho, vice-presidente da bancada do PSD, garante que as instituições que compõem a troika deixaram uma mensagem positiva de que Portugal vai acabar o programa de "forma favorável e na data prevista". Uma ideia que a deputada do CDS Cecília Meireles também sublinha no discurso das instituições.

Representantes da troika – composta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Comissão Europeia (CE) e Banco Central Europeu (BCE) – estiveram esta quinta-feira reunidos com os deputados no Parlamento, num encontro que durou mais de uma hora e meia, no âmbito da 10.ª avaliação.

A visão de optimismo transmitida pela troika sobre o final do programa de resgate é partilhada pelo deputado do PSD, embora tenha sublinhado que "o fim do programa não é o fim do ajustamento".

Já sobre os erros assumidos na passada terça-feira pela directora-geral do FMI, Christine Lagarde, em torno de programas como o grego ou o português, o deputado do PSD admitiu discordar da troika. Miguel Frasquilho confrontou os representantes das instituições com as declarações da representante máxima do FMI.

"A troika tem uma ideia diferente, transmitiu-nos que houve uma selectividade [por parte dos jornalistas] nas declarações de Lagarde. É a visão da troika e não é a nossa", afirmou o deputado social-democrata. "Temos a percepção de que, tendo existido alterações ao programa, poderiam ser adequadas", acrescentou, apontando o exemplo da sétima e oitava avaliações, em que o Governo pediu a flexibilização da meta do défice de 2014 por considerar que seria "mais adequado" e a troika recusou.

A deputada do CDS-PP Cecília Meireles também registou o "divórcio" entre as posições assumidas entre os dirigentes máximos das instituições e as das missões no terreno. "Em Portugal temos sinais que deixam de ser ténues, como o desemprego, apesar de estar em níveis inaceitáveis, e o crescimento. É importante que sejam preservados e isso tem de ser levado em conta nas avaliações e na velocidade de ajustamento", afirmou, acrescentando que "a velocidade do ajustamento não é indiferente". A centrista também partilha da ideia de que a troika nesta reunião deixou uma mensagem mais positiva sobre o esforço de Portugal para fazer o ajustamento. A forma como Portugal vai sair do resgate – com ou sem programa cautelar – não foi abordada pela troika.

A mesma questão dos erros terá sido colocada pelo PS, mas o deputado Pedro Nuno Santos escusou-se a revelar a resposta das instituições internacionais. Para o socialista, só há uma maneira de Portugal terminar o programa que é a de "sair como a Irlanda". “Aproximamo-nos do final dos três anos [da assistência financeira]. Até agora, tivemos as avaliações positivas. [Por isso], ninguém compreenderá que, no final do programa de ajustamento, Portugal saia do mesmo com qualquer tipo de apoio e condicionalidades por parte de instituições internacionais”, afirmou.

Nas bancadas mais à esquerda, o deputado do PCP optou por desvalorizar a questão dos erros assumidos pela directora-geral do FMI sobre os programas de ajustamento. "É-nos indiferente o jogo de palavas do FMI. Ao longo dos anos tem dado, como se costuma dizer, uma no cravo, outra na ferradura, mas o que querem é aplicar o programa", afirmou Miguel Tiago. Para o deputado comunista ficou clara a intenção da troika em baixar os salários: "Entendem que baixar o nível salarial é a única política que o país encontra. E se não for através dos baixos salários é através da flexibilização dos vínculos laborais."

Mariana Mortágua, do BE, deixou nota de que a troika considerou o ajustamento levado a cabo por Portugal insuficiente. "Ficou muito claro que o ajustamento orçamental foi muito pequeno. Foram estas as palavras do FMI", afirmou a deputada. Um segundo apontamento foi também para a questão salarial. "A flexibilidade salarial da economia não é suficiente", disse Mariana Mortágua, referindo-se à uma posição assumida pela troika. Segundo a deputada, as instituições internacionais transmitiram a ideia de que "o ajustamento é fraco", e que é preciso "mais austeridade e uma política de baixos salários". Um modelo que a deputada do CDS-PP voltou a rejeitar. "Quer o Governo, quer os partidos da maioria já deixaram bem claro que não defendem para Portugal um modelo de baixos salários", disse Cecília Meireles, sem revelar a resposta da troika sobre o assunto que – sublinhou – não foi o tema principal da reunião.

Foi o próprio chefe de missão do FMI, Subir Lall, que veio falar aos jornalistas para esclarecer que a troika não vai discutir cortes no salário mínimo nacional, depois de ter garantido esta quarta-feira que não está em causa neste momento a discussão sobre cortes nos salários, até porque no sector privado o vencimento é acertado entre o empregador e o empregado.
 
 
 
 
 
 

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