Todos dizem sim para que Costa diga não

O primeiro encontro entre António Costa e Passos Coelho não correu bem. Outros se seguirão

António Costa tem nesta altura um enorme poder político, pois é o único que tem em sua posse a chave para a governabilidade do país, seja ela à direita ou à esquerda. O que lhe dá um poder enorme e, simultaneamente, o coloca numa posição de extrema fragilidade.

Na ronda que está a fazer com todos os partidos com assento parlamentar na próxima legislatura, o líder dos socialistas começou pelo PCP, que apresentou um caderno de encargos com uma dezena de revindicações, sendo muitas delas facilmente acomodadas no programa de um hipotético governo liderado pelo PS. Jerónimo de Sousa vai ainda mais longe e até diz que “mesmo que o PS insista no seu programa e que não seja fácil encontrar uma convergência”, “nem assim se pode concluir que a solução seja um Governo do PSD/CDS”.

Ou seja, os comunistas até admitem o cenário de viabilizar um governo PS, mesmo que o seu caderno de encargos seja totalmente ignorado. É caso para dizer que quando a esmola é muita, o pobre desconfia. Uma táctica (táctica, porque é de jogos políticos que estamos a falar) semelhante também foi adoptada pela coligação de direita. Passos Coelho admite incorporar propostas do programa eleitoral do PS e até abdicar de algumas das suas em troca da viabilização do Orçamento do Estado. E o Bloco de Esquerda fará a mesma coisa ao PS.

Resumindo, todos vão dizer ‘sim’ a António Costa, para que seja o secretário-geral do PS a ficar com o ónus de dizer ‘não’. E Costa terá de dizer ‘não’ aos apelos para liderar uma união de esquerda, ou dizer ‘não’ à viabilização de um governo minoritário de direita. Algum ‘não’ o líder do PS terá de dizer. António Costa terá de ter o engenho e a habilidade política para se afastar das armadilhas políticas, e repetir o ‘não’ que disse na noite em que perdeu as eleições: “Não inviabilizaremos um Governo sem ter um Governo para viabilizar".

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