PS cria gabinete para apresentar alternativas à “política autista” do PSD e CDS

António Costa fez, perante os deputados, o balanço dos seus primeiros meses como líder e avançou com novidades em reunião interna.

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António Costa e Carlos César na reunião da Comissão Política socialista Nuno Ferreira Santos

A Comissão Política do PS aprovou na noite desta quinta-feira a criação de um gabinete de estudos cuja “grande preocupação” será “informar as pessoas sobre a diferença entre as propostas do PS e a governação do PSD e CDS”, ou seja, preparar o programa eleitoral para as próximas legislativas. O assunto fora um dos temas que o líder socialista António Costa levara à reunião com os seus deputados, ocorrida durante a manhã. Nessa reunião estabeleceu o mês de Junho como o prazo para ter pronto o programa.

A reunião abordou também a situação política na Europa. Foi, aliás, esse o tema da declaração emitida no final da Comissão Política, onde o PS se congratulava com a visita do presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, a Atenas, por ajudar à “construção de um clima de confiança e negociação”. O secretário nacional, João Galamba, falou à saída para defender o "desanuviamento" do ambiente político na Europa.

Questionado sobre os resultados do PASOK, Galamba não teve dúvidas em apontar o erro que fez o partido-irmão do PS perder a maioria dos seus lugares no Parlamento grego: "É um partido que, ao aliar-se à direita e ao praticar a mesma política de direita, teve os resultados que teve."

Mas a reunião abordou ainda outros temas. Por iniciativa da eurodeputada Ana Gomes, falou-se de presidenciais. A socialista propôs o nome da ex-presidente do partido, Maria de Belém, para a corrida a Belém. “Se já surgiram nomes de tantos homens, pois que também apareçam nomes de mulheres”, disse a eurodeputada à saída da reunião.

O anúncio da aprovação do regulamento do gabinete de estudos foi feito ainda quando a reunião interna socialista decorria na sede do Largo do Rato, em Lisboa, por João Tiago Silveira, ex-secretário de Estado do Governo de José Sócrates, que acrescentou ainda que a proposta foi aceite “por unanimidade”.

Depois de questionado sobre se esse programa defenderia o aumento de salários e a reposição de pensões, Silveira respondeu que “claro que o programa vai endereçar todas as questões”. Isto depois de asseverar que “não podemos ter uma política autista, que só olha para a contabilidade, que só olha para o Orçamento”.

De acordo com o dirigente socialista, o gabinete de estudos terá como mandato “ir à raiz das coisas”, significando isso a “qualificação dos portugueses, o aproveitamento dos nossos recursos e a competitividade das nossas empresas”.

Esse foi um dos assuntos que o líder socialista aproveitou para levar à reunião com o grupo parlamentar do PS, onde fez também o balanço dos primeiros tempos como secretário-geral. Falou no gabinete de estudos em relação ao qual o ex-secretário de Estado João Tiago Silveira está a preparar a estrutura — absorvendo o Laboratório de Ideias para Portugal (Lip) criado por António José Seguro — e que tem como objectivo final a apresentação do programa eleitoral do PS.

E foi o próprio secretário-geral do PS que optou por inserir o tema do projecto da bancada socialista para consagrar o crime de enriquecimento injustificado. O PS votou sozinho contra as propostas de outros partidos sobre enriquecimento ilícito. O Tribunal Constitucional haveria de chumbar essa lei, devido à inversão do ónus da prova. Mas a ideia socialista é aproveitar as competências da Autoridade Tributária, taxando a 100% os rendimentos que os titulares de cargos públicos não consigam justificar perante o Estado.

António Costa aproveitou também a ida ao Parlamento para fechar a porta a uma prática que vinha da anterior direcção. O líder socialista explicou a razão por que não terá porta-vozes sectoriais na sede do partido. À saída da reunião com os deputados, Costa retomou o tema.

"O grupo parlamentar do PS é uma instância do PS e exprime as posições do partido. Como sabem, no passado, sempre que a direcção nacional quis criar porta-vozes paralelos aos do grupo parlamentar, mais tarde ou mais cedo isso contribuiu para a felicidade do jornalismo político, detectando as divergências entre o porta-voz ’do Rato' e o porta-voz do grupo parlamentar", disse em São Bento. Horas depois, o ex-secretário nacional António Galamba reagiu as essas declarações classificando a opção como uma “decisão infeliz”.

Costa referiu igualmente a reunião, agendada para 29 de Fevereiro, com os autarcas do PS.

O secretário-geral debateu ainda com os deputados as evoluções políticas na Europa e as recentes eleições na Grécia. Este último tema levou António Galamba, à entrada da reunião da Comissão Política, a criticar a “colagem” de alguns socialistas à vitória do Syriza. Costa voltou a classificar como "bons sinais" o plano de investimentos da Comissão Europeia, a "nova leitura" de Bruxelas sobre o Tratado Orçamental e a decisão do Banco Central Europeu de intervir no mercado para compra de dívida pública.

"São decisões que estão no sentido correto, que é necessário reforçar, dando-lhes maior dimensão, ambição e consistência. É importante que o Governo português também acompanhe", advertiu.

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