Foi um debate em que Paulo Portas disse o que queria e não disse o que não queria. E agitou com força o fantasma e as forças maléficas de uma possível saída de Portugal do euro que o número dois da coligação diz que o Bloco de Esquerda quer fazer. Catarina Martins substituiu-se à moderadora e insistiu com o vice-primeiro-ministro para que apresentasse algum número contabilístico do programa da coligação. Mas ficou sem resposta.

No frente-a-frente entre Catarina Martins e Paulo Portas, esta terça-feira na SIC Notícias, os dois limitaram-se a discutir a Grécia, a segurança social e o estado em que o país ficou com a passagem da troika. Foram escassas as propostas concretas do Bloco e da coligação que estiveram em cima da mesa.

Os dois candidatos foram questionados sobre como governariam a sua casa sem dinheiro, sem crédito e cheios de dívidas: Catarina Martins não gosta de comparar o país a uma família – “um país não é uma família” - mas lembrou que as famílias podem reestruturar a sua dívida e é isso que Portugal deve fazer, em vez de o Governo “esconder debaixo do tapete o elefante da dívida”. Paulo Portas aproveitou para desfiar o discurso de que foi “exactamente nessas circunstâncias” que o actual Governo encontrou o país e que a austeridade foi a forma de conseguir recuperar porque os “discursos de utopias coladas umas às outras” do Bloco não levam a lado nenhum.

Quando a porta-voz do Bloco relembrou que o “partido dos pensionistas” não avisou que ia cortar nas pensões, Paulo Portas irritou-se e atirou com a Grécia, as contradições do Syriza e as “estratégias de bluff” de Alexis Tsipras que colocaram o país sob um terceiro resgate. Que o Bloco aceitaria?, questionou Portas. Catarina Martins responde que o “plano é mau e não devia estar a ser imposto na Grécia, mas a situação concreta só o Governo conhece”. O centrista aproveitou a deixa: o Bloco “não sabe responder” porque tem um “indecisão fundamental sobre sai ou fica no euro”. “Isso não sossega ninguém. Sair do euro significa uma crise da nossa moeda”, as pessoas perderem as suas economias, a inflação disparar, empresas fecharem, dramatizou Portas.

Catarina e Portas passaram os primeiros 20 minutos a replicar um ao outro sem deixarem a jornalista fazer perguntas – passaram pelas privatizações, pela recessão que ficou para trás aos olhos de Portas e que continua em força na visão de Catarina, pela análise contrária na balança comercial, pelos atropelos do Governo à Constituição, pela destruição da contratação colectiva e pelos estágios – sempre com Catarina Martins a bater-se à altura com Portas. Que não respondeu como a coligação fará para cumprir o objectivo do programa de criar 190 mil postos de trabalho na legislatura nem como será feito o corte de 600 milhões de euros nas pensões. Garantiu apenas que não será nas que estão em pagamento e não especificou o modelo de plafonamento que quer seguir - nem respondeu se o financiamento será assegurado por um novo imposto.

Num debate em que Catarina Martins se soube defender bem, a porta-voz bloquista deixou Paulo Portas falar e replicou com números, tentou manter-se dentro do tema das (poucas) perguntas que Ana Lourença conseguiu ir fazendo. O presidente do CDS-PP, que Catarina apelidou de “belíssimo ilusionista da política”, fugiu a algumas perguntas, chamou temas laterais, cortou a palavra à jornalista, elevou a voz quando pretendia continuar a falar e até pigarreou em momentos-chave das intervenções de Catarina Martins, como no caso das pensões.

No final, Catarina Martins definiu como vitória para o Bloco ter mais do que os actuais oito deputados e lançou uma farpa a Portas dizendo que a diferença entre o BE e o CDS é que os bloquistas fazem propostas para mudar o que acham que está mal, como aconteceu nos vários escândalos dos bancos. Mas os centristas, que tiveram também um papel fundamental, por exemplo no inquérito ao BPN, elogiou a porta-voz, “chumbaram todas” essas medidas.

Já Paulo Portas afirmou que uma vitória para a coligação será “dar ao país condições de confiança e ter uma maioria estável” e voltou à Grécia para dizer que o que aconteceu naquele país foi uma “ilusão”.