Passos escusa-se a "valorizar episódios laterais" nas comemorações do 25 de Abril

Primeiro-ministro diz esperar que cerimónia no Parlamento decorra com dignidade; Seguro realça que é preciso encontrar uma solução para ter a Associação 25 de Abril no Parlamento. Passos foi vaiado e aplaudido numa feira em Valpaços.

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Pedro Passos Coelho DR

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, não quer valorizar "episódios laterais" relativamente às comemorações dos 40 anos do 25 de Abril, esperando que estas decorram com "toda a dignidade", numa referência à actual polémica entre a presidente da Assembleia da República e os militares que queriam falar no Parlamento.

Questionado sobre as declarações de Assunção Esteves quanto à participação da Associação 25 de Abril nas comemorações, o governante não quis "fazer nenhum comentário particular".

"Não quero valorizar episódios laterais, ainda para mais numa data como esta, em que vamos comemorar 40 anos do 25 de Abril. Espero que as comemorações possam decorrer com toda a dignidade e também com toda a valorização que devemos atribuir a um simbolismo tão importante quanto este", sublinhou.

Na quinta-feira, Assunção Esteves declarou que convidou a Associação 25 de Abril para estar presente, "e só", na sessão solene comemorativa da revolução e que se os militares impõem a condição de falar na cerimónia "o problema é deles". No mesmo dia, o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, afirmou que está a ser ponderada a realização de uma iniciativa em que seja proferida a intervenção que os capitães de Abril queriam fazer na sessão solene no Parlamento.

Passos Coelho, que falava à margem de uma visita a Valpaços, salientou que respeita plenamente todo programa que foi idealizado ao nível da Assembleia da República. O primeiro-ministro lembrou a "feliz coincidência" de se estar a comemorar o 25 de Abril "praticamente ao mesmo tempo que a conclusão do programa de assistência económica e financeira e numa altura em que, depois de anos de grandes dificuldades, finalmente as pessoas começam a ver uma perspectiva de melhoria no seu horizonte".

"Devemos valorizar estes aspectos e esta data e (...) que todas as pessoas, independentemente da ideologia política que professem, consigam, numa data tão relevante quanto é esta, pôr questões menores no seu devido sítio e atribuir importância à comemoração institucional que deve ter lugar no Parlamento, que é a casa da democracia", sublinhou.

Entretanto, António José Seguro veio criticar o primeiro-ministro, defendendo que "o país deve muito aos capitães de Abril" e que essa dívida não ser apenas expresso nas palavras de circunstância mas também nos actos. Lembrou que o líder parlamentar socialista, Alberto Martins, pediu uma reunião à presidente da Assembleia da República para tentar "encontrar uma solução que possa garantir umas comemorações no Parlamento feitas com dignidade e com a presença da Associação 25 de Abril".

O secretário-geral do PS recusou comentar a atitude de Assunção Esteves, preferindo concentrar "atitudes e palavras" na busca de uma solução. "O país vai comemorar 40 anos de revolução. Devemos fazer todos um esforço para contribuir para que possa ser um momento de afirmação dos ideais dessa revolução: de liberdade, de igualdade de oportunidade, de justiça social", descreveu António José Seguro. "O PS está fortemente empenhado no sentido de contribuir para que se encontre uma solução no Parlamento e lamento todas as intervenções que foram feitas em sentido contrário e designadamente esta do primeiro-ministro", apontou o líder socialista.

Vaiado e apoiado na feira do folar
De visita à Feira do Folar, também em Valpaços, Passos Coelho teve, no mesmo recinto, recepções opostas: enquanto uns gritavam "fascista" e lhe mostravam cartões vermelhos, outros mostravam o apoio ao governante chamando "Passos, Passos". O primeiro-ministro seguiu indiferente às críticas e foi parando para cumprimentar os feirantes e os visitantes.

O certame, que termina no domingo, gera um volume de negócios de cerca de 1,5 milhões de euros entre a restauração, hotelaria, comércio local e os produtores, padarias ou particulares, que confeccionam o folar, que marca presença obrigatória nos lares transmontanos durante a celebração da Páscoa. É uma espécie de bolo, mas salgado, que é feito com farinha, ovos e azeite, presunto, salpicão, linguiça e carnes de porco.

O presidente da Câmara de Valpaços, Amílcar Almeida, referiu que a certificação do Folar de Valpaços, processo que se arrasta há anos, está "a um passo de ser conseguida". "O caderno de especificações encontra-se no Ministério da Agricultura e aguarda unicamente por publicação", frisou. O autarca vê na certificação do folar uma mais-valia para "quem produz e para quem consome", na medida em que assegura a qualidade do produto. O folar é o cabeça de cartaz do evento, mas no recinto encontram-se ainda à venda um outro produto típico da região, o bolo podre. A família de Dulce Alcoforado, de Santa Maria de Émeres, concelho de Valpaços, está apostada em dinamizar o bolo podre, ou os dormidos, como eram conhecidos antigamente, porque, como não havia fermento, a massa tinha de ficar a levedar durante a noite, junto ao borralho da fogueira. Foi por causa deste processo e do chá de canela, que lhe davam uma cor escura, que passou a ser conhecido por podre.

No recinto da feira estão espalhados cerca de 100 expositores e a organização prevê a visita de cerca de 100 mil pessoas.

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