Passos encontrou-se com sobreviventes do massacre de Santa Cruz e prometeu apoio ao Estado timorense

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Nelson Garrido

No âmbito da visita que está a realizar a Timor-Leste, Pedro Passos Coelho encontrou-se esta quinta-feira no Cemitério de Santa Cruz, em Díli, com sobreviventes do massacre que ali teve lugar em 12 de Novembro de 1991 por forças indonésias sobre manifestantes civis timorenses.

"Como chefe de Governo português, quero expressar-lhes o sentimento enorme de fraternidade e de profunda solidariedade que varreu Portugal nessa época", afirmou o primeiro-ministro, perante representantes do Comité 12 de Novembro, criado para apoiar os familiares das vítimas daquele tiroteio e identificar desaparecidos. Antes do cemitério, Passos Coelho estivera no Museu da Resistência Timorense

Esta é a primeira visita oficial de um primeiro-ministro à República Democrática de Timor-Leste desde que foi reconhecida a sua independência, em 2002. Acompanhado pelos ministros da Saúde, Paulo Macedo, e de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, e pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Luís Campos Ferreira, o chefe do executivo PSD/CDS-PP foi recebido cerimoniosamente à entrada do cemitério – uma visita que não estava na agenda tornada pública.

Numa intervenção de cerca de cinco minutos, o primeiro-ministro falou da "resistência que o povo de Timor-Leste teve de organizar e de enfrentar para poder ver reconhecido o seu direito à independência". Passos Coelho referiu que "muitos mártires ficaram assinalados durante esse período", mas que o massacre de Santa Cruz "foi também um ponto de viragem importante, em que o sacrifício de muitas pessoas, de muitas famílias teve uma visibilidade muito grande do ponto de vista internacional" porque as imagens da tragédia correram o mundo.

"Creio que isso se deve também à coragem que muitos elementos da comunicação social evidenciaram para ajudar a transmitir ao mundo o que se passava em Timor-Leste nessa altura. Foi muito importante com isso obter de toda a comunidade internacional um reconhecimento diferente daquele que tinha existido até então para ir ao encontro das pretensões do povo de Timor-Leste", acrescentou.

Dirigindo-se "àqueles que guardam desse passado tão trágico as suas memórias vividas", o primeiro-ministro disse-lhes que hoje têm “um motivo de ânimo” no futuro que se está a construir. Passos Coelho realçou que Timor-Leste vive agora "um tempo muito diferente, em que se está realmente a construir um Estado de direito" e assumiu em nome de Portugal o "compromisso de não falhar na ajuda" à sua construção.

O chefe do executivo PSD/CDS-PP disse em Díli que "a cooperação portuguesa tem sido muito intensa" e vai continuar, em áreas como a segurança, defesa, justiça e saúde, assumindo o "compromisso de não falhar na altura que é mais decisiva para a construção deste Estado democrático".

 

Parabéns em português, mas com queixas

Depois, na Escola Portuguesa Ruy Cinatti, em Díli, Pedro Passos Coelho conviveu com membros da comunidade portuguesa residente em Timor-Leste e ouviu cantarem-lhe os parabéns pelo seu 50º aniversário. Assistiu a um espectáculo alusivo aos descobrimentos marítimos portugueses, com uma banda sonora que incluía Amália e Cesária Évora, remetendo para os laços criados pela língua portuguesa.

No que respeita à difusão da língua portuguesa em Timor-Leste, contudo, o governante recebeu de responsáveis desta escola a informação de que há um défice de programação televisiva infantil falada em português acessível às crianças timorenses. Passos Coelho realçou que a Escola Ruy Cinatti tem mais de 800 alunos, na sua maioria timorenses, e um número semelhante em lista de espera. "Não conseguimos ir ao encontro de todos", afirmou, a esse propósito, salientando em seguida que também há um investimento "noutras escolas de referência".

De manhã, o primeiro-ministro fora conhecer o Centro de Formação da Polícia Nacional de Timor-Leste, que conta com a cooperação de elementos da Guarda Nacional Republicana (GNR) portuguesa. Também se encontrou com o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, na sequência do qual foram assinados protocolos de cooperação - na área da saúde, Portugal comprometeu-se a ajudar a montar uma autoridade do medicamento e um sistema de emergência médica pré-hospitalar em Timor-Leste. Antes, teve ainda um pequeno-almoço com empresários, discursou num seminário económico e foi recebido pelo Presidente da República, Taur Matan Ruak.

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