Passos pede maioria absoluta, seja para a coligação ou o PS

O primeiro-ministro tentou, na TVI, transmitir compreensão com as dificuldades dos portugueses, mas não prometeu facilidades.

Foi com o balanço da obra feita, com a compreensão pelos sacrifícios da população, com a recusa de promessas eleitorais e com a ameaça subentendida de que Portugal não deve desejar seguir o caminho da Grécia que o primeiro-ministro respondeu esta quinta-feira aos portugueses que, disse, vivem na realidade que ele conhece do país.

Na entrevista na TVI partilhada entre o jornalista José Alberto Carvalho e uma plateia de anónimos, Pedro Passos Coelho usou um tom sereno e didáctico, compreensivo pela situação dos interlocutores, mas acabou por se exaltar depois de ter ouvido a música de Pedro Abrunhosa Quero voltar para os braços da minha mãe e dizer não ter “nenhuma dificuldade em identificar a realidade retratada na canção”.

Pouco antes ouvira a acusação de que há duas realidades — as dos portugueses e a do primeiro-ministro — por alguém que quis falar do desemprego. “Não está numa realidade diferente, está na realidade que eu conheço do país”, afiançou.

“Espero que em Portugal não se tenha de voltar, nunca mais, a passar por um processo destes [resgate]”, disse, afirmando ter a “consciência tranquila de ter feito tudo o que foi possível” para resolver os problemas do país — “Podem gostar muito de mim ou não gostar nada [mas esforcei-me]”, disse. E agitou o fantasma da Grécia sem a nomear, justificando que o Governo foi obrigado a executar políticas de austeridade para que o país não vivesse o drama de outros cuja população não sabe se vai receber pensões ou se poderá reaver as suas poupanças nem levantar dinheiro no multibanco. Subentenda-se, o povo grego.

Já no fim do programa, Passos admitiu que Portugal teria vantagem em ter condições “tão favoráveis” como a Grécia, e fez questão de sublinhar que aquele país “deve muito mais porque pediu muito mais do que nós” e as suas condições mais favoráveis “devem ser entendidas como a expressão da solidariedade europeia”.

Sobre as eleições, Passos recusou taxativamente elaborar sobre cenários pós-eleitorais, embora tenha subscrito a ideia do Presidente da República de que o próximo Governo tem que ter estabilidade governativa e que deve ser de maioria absoluta — “ganhe quem ganhar”. “[O cenário preferível é que] os portugueses dêem maioria absoluta ao PS, ou que dêem maioria absoluta ao PSD/CDS, para que o Governo que saia das eleições tenha, de facto, estabilidade.”

Acerca de uma eventual ligação da direita ao PS, realçou que “estão apresentados dois projectos de natureza política e económica muito distintos, são propostas alternativas”, e “não é fácil que no dia a seguir às eleições se possam fundir”. “Nós não podemos andar dois ou três anos a seguir às eleições a ver se nos entendemos no Governo”, avisou. “Confio muito nesta coligação”, acrescentou na TVI24. “Assumimos o compromisso de governar se tivermos uma maioria absoluta.”

À falta do programa da coligação, Passos respondeu com a obra feita, com o “rumo que as pessoas conhecem”, e com o programa de estabilidade entregue pelo Governo em Bruxelas que traça o “caminho económico-financeiro que vamos percorrer até 2019”. Questionado depois na TVI24 sobre se admite que o CDS possa vir a aliar-se ao PS, Passos foi taxativo: “Não ponho sequer essa hipótese.” Mas, “o CDS falará por ele no dia a seguir às eleições e o PS também. Até às eleições estamos comprometidos.”

Às perguntas da assistência, Passos disse que “o IVA não terá margem para baixar nos próximos quatro anos” e recusou “solavancos” nas promessas. Recusou, a uma reformada, ter alguma coisa contra este sector da sociedade e discordou que tenha esta camada da população tenha sido tratada como o primeiro alvo a abater. Os cortes foram para todos e eram “essenciais” para a sustentabilidade da Segurança Social, argumentou, lembrando ter desafiado o PS para um compromisso numa “reforma profunda” e este não aceitou.

“Em 2011 estivemos à beira da ruptura e a ruptura financeira põe em causa o Estado social. E nós salvámos o Estado social”, respondeu a outra pessoa. Vieram então exemplos de políticas aplicadas na saúde, na educação, nos estágios para jovens desempregados. Mas disse a um não saber responder directamente sobre o que deve alguém fazer para deixar de estar desempregado.

Tal como também se mostrou impotente para travar a desertificação apesar dos programas que têm sido criados, dos fundos comunitários usados para criar infra-estruturas que deviam fixar população — que não os tribunais, como desejava um advogado que o questionou. O único “entrevistador” que terá saído satisfeito foi um habitante da região de Coimbra, que ficou a saber que o ramal da Lousã não voltará ao que era, mas a curto prazo será substituído por uma rede de transporte eléctrico.

Na avaliação nas redes sociais, monitorizada pela TVI, Passos começou com nota positiva, perto dos 60% de aceitação e veio sempre a descer, até fechar com nota vermelha.

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