Os silêncios do homem a quem não faltavam palavras

Afastado da política activa desde Abril do ano passado, quando abandonou a liderança do governo madeirense após 38 anos, Alberto João Jardim tem andado distante da vida pública.

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Alberto João Jardim deixou o poder, na Madeira, há 17 meses Adriano Miranda

Com excepção de uma ou outra pontual entrevista, o antigo presidente madeirense, que nas últimas quatro décadas povoava diariamente a imprensa local, tem cultivado um silêncio (auto-imposto) só entrecortado, aqui e ali, por alguma publicação na sua página do Facebook, quase sempre crítica para com a actual governação regional e contra o status quo do partido liderado por Passos Coelho.

Aos 73 anos, feitos em Fevereiro, e gorada que foi a tentativa de reunir apoios para uma candidatura a Belém, Jardim refugiou-se na Fundação do PSD-Madeira, que fundou para reunir o vasto património, sobretudo imobiliário, que o partido foi acumulando no arquipélago.

A casa onde o histórico social-democrata nasceu e cresceu pertence à fundação. Ali, na Rua do Quebra Costas, numa das zonas mais antigas do Funchal, Jardim instalou o gabinete onde trabalha diariamente num livro de memórias que promete ser “romanceado” e com algumas “bilhardices”. É também da fundação a Herdade do Chão da Lagoa, onde anualmente o PSD-Madeira realiza uma das mais importantes festas partidárias do país.

Distante da actual liderança do partido que ajudou a fundar – são conhecidas as incompatibilidades com Passos Coelho, e não perdoou a Miguel Albuquerque ter avançado contra ele numas eleições internas, que viria a ganhar por poucos votos –, aquele que animou durante anos a fio o Chão da Lagoa, ficou em casa este ano. Foi a primeira vez, desde que a festa foi criada, no início dos anos 80, que Jardim não percorreu as barracas a disparar para Lisboa.

Não cumpriu a tradição, mas não esqueceu o carnaval. Este ano, como em todos os anteriores, pôs o bombo a tiracolo e desfilou pelas ruas funchalenses. Faz o mesmo todos os dias, sem bombo, claro. Em passo apressado, cumpre um passeio diário em nome da saúde.

Pelo meio, passeou pelo Mediterrâneo de cruzeiro, foi a Gaia para marcar presença no Clube dos Pensadores, dedicou-se aos quatro netos e passou pelo tribunal em duas acções judiciais distintas. No processo da alegada ocultação da dívida da Madeira foi ouvido como arguido pela juíza de instrução, enfrentando ainda outro por difamação. Em Outubro, regressa ao banco dos réus, agora para responder a um crime de violação da lei eleitoral.

E a política? “Nenhum cidadão que esteja vivo e no seu perfeito juízo acaba a sua vida política”, disse, numa das últimas entrevistas que deu.

 

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