O fim de um silêncio num cenário de ruído

Do lado político, ressurgem promessas de luta contra a corrupção. Terão seguimento?

Ao quinto dia, Sócrates decidiu falar sobre o caso da sua detenção e posterior prisão a título preventivo. Falar é uma força de expressão, porque se tratou de uma declaração escrita, que o PÚBLICO hoje divulga na íntegra (ver págs. 2 a 9). Para o caso pouco importa porque, através dela, o ex-primeiro-ministro deixou claras as duas coisas que estrategicamente escolheu dizer. A primeira, esperada, foi em defesa da sua inocência (“as imputações que me são dirigidas são absurdas, injustas e infundamentadas”) e contra os procedimentos judiciais que o envolvem (“irei, conforme for entendendo, desmentir as falsidades lançadas sobre mim e responsabilizar os que as engendraram”), apontando ainda o dedo à insistente cobertura mediática (“Essas “fugas” de informação são crime. Contra a Justiça, é certo; mas também contra mim”). A segunda é para, em tempo de congresso do PS, insistir num separar de águas: “Não tenho dúvidas que este caso tem também contornos políticos e sensibilizam-me as manifestações de solidariedade de tantos camaradas e amigos. Mas quero o que for político à margem deste debate. Este processo é comigo e só comigo.” Repare-se no termo: “quero”. Não é uma opinião, uma sugestão ou um parecer. É uma ordem. Acatem-na ou não aqueles a quem ela é potencialmente dirigida, certo é que José Sócrates parece querer retomar, aqui, o estilo que lhe é peculiar. Por isso conclui: “Este processo só agora começou.”

É o fim de um silêncio (o dele) num cenário de ruído. Que inclui, é bom não esquecer, para lá da Operação Marquês (pela qual Sócrates foi preso), também o inquérito ao caso BES-GES e o processo desencadeado pelos vistos gold. Do lado político, com o PS prestes a entrar em congresso e o governo recém-saído de um abalo ministerial, o que se se discute agora é como travar a corrupção. E ressurgem promessas. Terão seguimento?

Sugerir correcção
Ler 2 comentários