Ida de António Costa à Grécia “desrespeita” portugueses, diz Passos

Presidente do PSD insiste na necessidade de o Governo revelar o que está a ser preparado para o plano B que Bruxelas exige.

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Passos Coelho Martin Henrik

O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, considera que a ida a Atenas do primeiro-ministro, António Costa, há uma semana, foi um “desrespeito” para com “todo o esforço que os portugueses conseguiram realizar nestes anos”.

Pedro Passos Coelho, que falava no encerramento da nona edição da Universidade Europa, organizada pelo Instituto Sá Carneiro e pela JSD, que se realizou entre sexta-feira e este domingo na Curia, também instigou novamente o Governo a dizer aos portugueses o que estes podem esperar do país a médio prazo e sobretudo se está ou não a ser preparado um plano B para acudir às contas públicas.

“O que foi fazer a Atenas ao desrespeitar todo o esforço que os portugueses conseguiram realizar nestes anos?”, questionou Passos Coelho durante o seu discurso, que durou 45 minutos. “A única explicação que eu encontro é que foi um primeiro ensaio para poder vir a dizer que afinal as coisas não vão correr tão bem quanto podiam”, apontou. Em Atenas, Costa assinou com Alexis Tsipras uma declaração conjunta sobre a cooperação na crise dos refugiados e a criticar as consequências das políticas de austeridade na Europa.

Passos acrescentou que António Costa, na entrevista que deu há dias, “pela primeira vez lançou dúvidas sobre o que poderia ser o tal plano B das contas públicas portuguesas”. E que esta semana o Governo “inundou a comunicação social de informação que lança sobre o futuro várias dúvidas e muitas nuvens, como que a antecipar o relatório que a Comissão Europeia estará quase a divulgar sobre a situação portuguesa no último trimestre”.

Coincidências que o antigo primeiro-ministro considera premonitórias de más novidades. E insiste na necessidade de respostas: “Era importante que o Governo esclarecesse como é que vê as perspectivas de médio prazo para Portugal. As boas notícias que quis dar nos primeiros meses de Governo eram exageradas, imprudentes? Se eram, o Governo deve reconhecê-lo, mas deve também dizer com clareza aos portugueses qual é então o caminho que podem seguir (…) e que a maioria que hoje governa o país possa, em vez de criar expectativas negativas sobre o futuro, dizer aos portugueses aquilo com que podem contar.”

Expectativas negativas, na visão de Passos Coelho, são as criadas pelas reversões de medidas estruturais que o Governo mas também o PS e os partidos à esquerda aprovaram no Parlamento. Então, os socialistas devem parar as reversões que têm vindo a fazer “cada vez mais às escondidas – para que não se repara que elas estão a ser feitas”. E devem dizer aos portugueses que, afinal, não foram uma “decisão adequada” à realidade do país.

Passos Coelho disse mesmo que os portugueses “podem e vivem bem com a verdade”. Porque, vincou, “o que não vivem bem é com a ilusão, com a prestidigitação, com os números de circo em que de repente tudo vai bem e numa semana, como aconteceu há 5 anos, o mundo mudou e tudo passa a ser pior”. O presidente do PSD reiterou o aviso: “Exige-se mais sentido de responsabilidade e de futuro à maioria que nos governa, que fale aos portugueses de forma verdadeira e indique com clareza qual o caminho que se vai seguir.”

No mesmo discurso, o líder do PSD anunciou que a bancada social-democrata irá entregar no Parlamento uma recomendação ao Governo para que haja um “tratamento mais forte” contra os paraísos fiscais” e para que a resposta à escala europeia seja feita através de uma “comunicação mais limpa e mais harmoniosa” de forma a ter um maior controlo sobre os offshores.

Os recados para o primeiro-ministro, este fim-de semana, não vieram só da direita. A partir de Vila Real de Santo António, onde foi inaugurar o novo centro de trabalho do PCP, Jerónimo de Sousa, disse que o partido não está disponível apoiar políticas de agravamento fiscal – a menos que sejam para taxar os “grandes interesses, os grandes negócios e as grandes fortunas”. “Nós precisamos produzir mais, de produzir mais riqueza e distribuí-la melhor”, assumiu o secretário-geral comunista, para quem não é possível resolver o problema do desemprego sem aumentar a produção.

O grande desafio, acrescentou o líder comunista, é “saber se nós, portugueses, temos ou não direito a construir o nosso futuro colectivo de uma forma independente, progressista que tenha em conta os grandes anseios dos portugueses. É a grande opção: libertar-nos ou submetermo-nos.”

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