Europa estava em “alerta genérico” ainda antes do Natal

Em Portugal vigora o grau moderado de ameaça, mas é de nível mais apertado a segurança junto dos interesses no nosso país dos membros da coligação internacional contra o autoproclamado Estado Islâmico.

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Soldados franceses nas imediações da Torre Eiffel após o atentado desta quarta-feira AFP/BERTRAND GUAY

Vários países europeus estavam em “alerta genérico” ainda antes do Natal, uma situação determinada pelo temor a ataques terroristas.

O reforço das medidas de segurança era particularmente evidente em França, no Reino Unido e em Espanha, sendo que as autoridades de Paris viveram em Dezembro o sobressalto de acções praticadas por “lobos solitários. Ou seja, indivíduos que, aparentemente isolados e sem infra-estrutura organizacional, praticaram acções alegando o seu envolvimento na causa jihadista.

O PÚBLICO sabe que para este “alerta genérico” contribuiu a monitorização que os serviços de segurança europeus fazem dos combatentes regressados dos campos de batalha da Síria e do Iraque aos seus países de origem na Europa. Não existiam informações concretas sobre um alvo preciso - país, instalações ou personalidades -, mas a percepção de que estes regressos encerram um perigo. Se alguns dos jovens voltam a casa desiludidos, em boa parte devido às crescentes dificuldades militares provocadas pelo envolvimento nos combates da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, outros já tinham sido detectados em acções de financiamento na Europa e de proselitismo. Neste último caso, em manifestações de apoio autoproclamado Estado Islâmico (EI), a 24 e 31 de Julho, na cidade holandesa de Haia e na Alemanha.

Dos perto de 13 mil estrangeiros que integram as fileiras EI, cerca de quatro mil saíram de território europeu, estimando-se que um terço de França. A terras francesas, de acordo com a contabilidade dos serviços de informação gauleses, tinham regressado no final do ano passado 300 quando, três meses antes, eram 194 os regressos.

A este grupo que pertencem os irmãos Kouachi, Chérif e Said, identificados em França como os pistoleiros que perpetraram o massacre na manhã desta quarta-feira na redacção do semanário Charlie Hebdo e, por duas vezes, entraram em tiroteios com a gendarmerie, tendo ainda executado um agente ferido.

O acompanhamento destes movimentos de regresso levou a diversas operações antiterroristas em vários países europeus, contra organizações de recrutamento e vias de passagem. Em Espanha e, nomeadamente, na Bulgária, país que é uma das entradas dos jihadistas para a Síria. As autoridades de Sófia desencadearam a operação em finais de Novembro na província de Pazardjik com a detenção de seis pessoas. Para além do território búlgaro, a outra forma destes jovens se juntarem ao EI é através de voos para a Turquia.

Como o PÚBLICO revelou em anterior edição, a existência de voos directos da Portela para Istambul, e o facto de alguns dos portugueses que aderiram ao EI e combatem na Síria serem naturais dos arredores de Lisboa, possibilitou a estada de combatentes europeus na zona de Sintra antes de embarcarem para a Turquia. Foram detectados três indivíduos que pernoitaram em residências das localidades de Mira Sintra, Mem Martins e Algueirão.

O “acompanhamento” policial desta rota portuguesa, a cooperação antiterrorista internacional e a informação a Ancara levaram os turcos a impedir a entrada destes jovens no seu território, alegando irregularidades nos vistos ou nos procedimentos administrativos.

Enquanto na Europa, diversas capitais aumentaram os níveis de alerta na sequência do atentado de Paris, em Portugal é mantida a mesma avaliação da ameaça em vigor nas últimas semanas, que é de grau 4. Recorda-se que na terça-feira, na abertura do Seminário Diplomático, o ministro dos Negócios Estrangeiros admitiu, face aos desenvolvimentos na Líbia, que Portugal, bem como outros países do sul da Europa, estavam sob a ameaça da sombra terrorista.

O grau 4 de alerta, que equivale a moderado e é o penúltimo de uma escala de cinco, foi há semanas substituído pelo 3 junto de interesses estrangeiros, afectos aos países da Coligação Internacional. Assim, em representações diplomáticas e empresas de, entre outros, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Espanha, foram reforçadas as medidas de segurança.

O Governo prepara medidas, não especificadas, que seguem as recomendações das Nações Unidas para evitar a deslocação de combatentes para cenários de conflito armado. Neste âmbito, é considerado decisivo ter informações sobre as redes. O que, sob autorização judicial, podia facultar aos serviços de informação a escutas de comunicações para descobrir as células. Em causa, não estaria o conteúdo das comunicações, importante para fazer prova em tribunal, mas a monitorização de contactos para estabelecer o desenho das redes.

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