Direcção do PSD rejeita primárias e afirma que o partido não copia os modelos dos outros

Apoiantes de Rui Rio defendem primárias antes das eleições legislativas do próximo ano. Mas figuras próximas do ex-presidente da Câmara do Porto avisam que este não está disponível para “golpes palacianos”.

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Rui Rio: "banca não se pode eximir das responsabilidades que lhe cabem no descalabro financeiro" Adriano Miranda

A direcção do PSD não quer ouvir falar de primárias. “O partido tem regras internas e estatutárias, tem os seus timings próprios e não copia os modelos dos outros. Faz as coisas como devem ser.” É desta forma que o secretário-geral do PSD, José Matos Rosa, reage à vontade dos apoiantes de Rui Rio que apelam à realização de primárias no PSD antes das legislativas de 2015.

Rui Nunes, fundador da Plataforma Fórum Cidadania e Sociedade – um grupo de reflexão próximo de Rui Rio –, é um dos grandes impulsionadores das primárias no PSD, porque entende que desta forma seria possível promover a candidatura de Rui Rio a primeiro-ministro e à liderança do partido.

O Diário de Notícias avançou na sua edição de terça-feira que os apoiantes do ex-presidente da Câmara do Porto defendem eleições primárias no partido já a tempo das legislativas do próximo ano, mas a direcção do partido não mostra qualquer abertura. Ao PÚBLICO o secretário-geral, Matos Rosa, passa ao lado das primárias – “Não comento não notícias” –, porque – frisa – “isso não é uma questão prioritária. O PSD está interessado em trabalhar para que o Governo faça o seu trabalho”. “Estamos a recuperar o país e é isso que vamos fazer até ao final da legislatura”, declarou, acentuando que “o PSD não apoia os modelos dos outros, cumpre os seus estatutos”.

Fontes sociais-democratas garantem que o actual consultor da empresa de recursos humanos Boyden nada fará para disputar a liderança do PSD. E acrescentam que “Rio só daria esse passo se o líder do partido dissesse que não tinha condições para disputar as legislativas devido ao desgaste da governação”.

Fontes próximas de Rio consideram que Passos Coelho está muito desgastado e fragilizado. "Se continuar a haver mais desenvolvimentos sobre o caso Tecnoforma, é provável que o Governo não chegue até ao fim da legislatura e aí abre-se um processo de disputa interna com a convocação de um congresso”, disse ao PÚBLICO uma dessas fontes. Os apoiantes de Rio estão a fazer alguma pressão também por considerarem que o antigo presidente da Câmara do Porto é a pessoa mais bem posicionada no partido para disputar as legislativas com António Costa.

Apesar de Rui Rio ser do PSD, “as pessoas sabem que tem mantido um grande distanciamento em relação ao actual Governo e a tudo o que se passou nos últimos três anos e, por isso, votarão nele como uma solução para o PSD perante o desgaste de Passos Coelho”, diz ainda a mesma fonte.

Há três meses, em entrevista à Radio Renascença, Rio deixou claro que poderia avançar se houvesse uma vaga de fundo a seu favor: “Se as coisas no país evoluírem de tal forma que um dia seja absolutamente claro que há muita gente que desejava mesmo e deposita muita confiança em mim e por um conjunto de circunstâncias quer que eu vá, se eu sentir que isso é realmente um movimento grande, é evidente que dificilmente se pode defraudar as pessoas e fugir.”

Amorim Pereira, ex-vice-presidente de Marcelo Rebelo de Sousa, rejeita a realização de primárias no PSD. “As primárias fizeram sentido no PS, porque houve alguém que manifestou vontade em avançar. Quem achar que deve disputar a liderança a Pedro Passos Coelho que o diga e que promova a convocação de um congresso”, afirma Amorim Pereira, frisando que o PSD tem estatutos e regras próprias.

Mostrando-se contrário a vagas de fundo e a jogos florais, o actual vereador do PSD na Câmara do Porto sublinha que “no PSD não há nenhuma similitude com aquilo que se passou no PS”. No entanto, o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais no Governo do bloco central encontra “todas as vantagens em que haja uma clarificação política e quem se achar mais capaz para disputar a liderança deve avançar e fazê-lo desde já”.

Miguel Seabra, que lidera a concelhia do Porto, também desvaloriza a pretensão dos apoiantes de Rio, afirmando tratar-se de “um desabafo de um militante”, numa alusão a Pedro Nunes, militante do PSD e fundador do Fórum Cidadania e Sociedade. Reconhece, todavia, que Passos “está fragilizado” pelo caso da Tecnoforma e que, se “o PSD tivesse outra liderança, disputaria as legislativas noutras condições”. Mas deixa um aviso: “Rui Rio não alinha em golpes palacianos, nem em golpes de Estado.” E deixa uma sugestão a Passos, afirmando que deveria fazer o mesmo que José Luis Zapatero fez em Espanha, que se retirou por não ter condições para disputar as eleições.

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