Coligação PSD/CDS alerta classe média para as “guinadas à esquerda”

Na apresentação dos candidatos por Lisboa, Passos Coelho e Paulo Portas dirigiram-se aos indecisos e não dão as eleições como ganhas.

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Nenhum dos dois líderes partidários se referiu directamente ao PS ou a António Costa Miguel Manso

A classe média foi o principal alvo do discurso da coligação PSD/CDS, sobretudo de Paulo Portas, na fase da pré-campanha. O líder do CDS-PP sublinhou a estabilidade e a segurança oferecida pelas propostas “viáveis” de recuperação do rendimento contra o que chamou as “guinadas à esquerda”. Já o líder do PSD e primeiro-ministro quis refrear uma eventual onda de euforia interna: “As eleições não estão ganhas”.

No  regresso das férias, e depois da aparição dos dois líderes na festa do Pontal, o discurso da coligação PSD/CDS apontou para a classe média, muito penalizada pela austeridade e em que estão muitos dos desiludidos e indecisos.

“A classe média tem a ganhar com a estabilidade, a confiança na economia e nas contas bem geridas para que haja a margem de manobra para políticas sociais. A classe média tem a perder com instabilidade e o excesso de guinadas à esquerda”, afirmou Paulo Portas, na apresentação da lista da coligação por Lisboa, em que figura como número dois, atrás de Passos Coelho.

Numa sala de um hotel de 5 estrelas, Portas fez um discurso baseado numa espécie de pescadinha de rabo na boca: Se não houver confiança, não há financiamento, sem financiamento, não há crescimento, e sem crescimento não há emprego. Como pano de fundo o fantasma de um governo sem maioria: “Se não houver Governo estável, perde-se a confiança, se se perder confiança, o investimento passa para outros países. E a criação de emprego retrocede ou estagna”.

Dirigindo-se “aos que ainda não tomaram a sua opção” sobre as eleições, o vice-primeiro-ministro usou um provérbio. “Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar. Só esta coligação garante que não tropeçará no financiamento, que o país não andará para trás nas reformas estruturais”, afirmou, desafiando os candidatos a “saberem usar este relato”.

Na sessão de apresentação dos 47 candidatos pelo círculo de Lisboa, onde vive boa parte da classe média, Portas elegeu a recuperação do rendimento entre os contribuintes – porque “o crédito fiscal está a funcionar” – os casais com filhos – com o quociente familiar – os funcionários públicos e os reformados. “Sabem que connosco a CES (Contribuição Extraordinária de Solidariedade) não voltará”, disse, sem nunca se referir às poupanças de 600 milhões no sistema de Segurança Social previstos no programa de estabilidade e crescimento apresentado pelo Governo.

Sem se referir a essa redução de despesa – que é delicada no discurso da coligação – Passos Coelho acabou por aludir à medida quando, na sua intervenção, começou por dizer que o programa de estabilidade entregue pelo Governo em Bruxelas “é o guião” das propostas da coligação. “E foi escrutinado” pelas instituições europeias, disse, numa resposta aos socialistas que criticam a coligação de não mostrar as contas que suportam as propostas.

Nenhum dos dois líderes partidários se referiu directamente ao PS ou a António Costa. Mas o recado estava lá quando Passos Coelho elogiou a “inteligência dos eleitores” que saberão ver as propostas de uns que “aumentam salários antes das eleições” e as de outros que reduzem a despesa em ano de legislativas. E desafiou: “Procurem outro governo, no Portugal democrático, que tenha reduzido a despesa em ano eleitoral. Procurem”. A frase pode ser entendida como uma alusão ao Executivo de Sócrates que em 2009, ano de eleições, aumentou o salário dos funcionários públicos.

Com as equipas de campanha animadas por sondagens internas – que dão vantagem à coligação –, Passos Coelho quis serenar os ânimos. “As eleições de Outubro não estão ganhas, não partimos convencidos que o jogo está ganho. Temos que nos aplicar muito para explicar aos portugueses para dizer o que fizemos, temos que apelar para que pensem no futuro do país e não no imediato”, disse.

O primeiro-ministro não repetiu a frase “que se lixem as eleições”, mas voltou a deixar a mensagem de anti-eleitoralismo. “Não nos preocupamos nos últimos quatro anos com eleições. Mesmo nas legislativas não nos comprometemos com demagogias e populismos”, disse, perante uma plateia de militantes do PSD e do CDS.  

Aposta nos subúrbios de Lisboa
É no distrito de Lisboa, em que se concentra boa parte da classe média, que a campanha da coligação vai tentar convencer os indecisos. Com uma rede de cartazes minimal, a campanha insistirá nos concelhos limítrofes a norte de Lisboa – como Odivelas, Amadora e Sintra – para tentar cativar eleitores.

Ao que o PÚBLICO apurou, foi nesses locais que a coligação PSD/CDS identificou como mais desfavoráveis na comparação entre os resultados das legislativas de 2011 e as europeias de 2014.

Dentro e fora do período de campanha oficial, os dois líderes terão quatro momentos na região de Lisboa. O primeiro é já no dia 10, com um jantar no centro de congressos da FIL. Haverá uma outra iniciativa, provavelmente no dia 14, e está prevista uma acção no período oficial de campanha que juntará Passos Coelho e Paulo Portas.

Lisboa será também o palco do encerramento de campanha da coligação enquanto António Costa, também cabeça de lista por Lisboa, termina no norte do país. 

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