Cavaco convence fundo dos Emirados a visitar Portugal para estudar investimentos

Presidente da República reuniu com o príncipe herdeiro e com o responsável por um dos maiores fundos soberanos do Abu Dhabi, que mostrou interesse nos sectores financeiro, energético, do papel e da pasta de papel, turismo e indústria farmacêutica. Cavaco e Maria foram também visitar a Grande Mesquita Xeque Zayed.

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Cavaco Silva Tiago Machado

Foi proveitosa a primeira tarde do Presidente da República nos Emirados Árabes Unidos. Cavaco Silva reuniu com o príncipe herdeiro do Abu Dhabi e com o seu irmão, presidente de um dos principais fundos soberanos. Do primeiro recebeu a aceitação de uma visita a Portugal e do segundo a certeza de que será enviada uma missão técnica, já no início do ano, para estudar investimentos.

O chefe de Estado português, que está no Abu Dhabi desde a madrugada desta quarta-feira para um intenso programa de contactos com altos responsáveis da confederação de monarquias árabes e empresários, disse aos jornalistas que a sua visita tem um significado político e, em especial, um significado económico “bastante forte”.

Na reunião de mais de uma hora com o xeque Hamed bin Zayed Al Nahyan, um dos mais de 20 irmãos do príncipe herdeiro e director-geral do fundo soberano ADIA – Abu Dhabi Investment Authority, um dos mais importantes do país, Cavaco explicou as “potencialidades” de Portugal enquanto país atractivo para o investimento, para o que ajudam as “ligações especiais” com África e América Latina, mas também a sua posição dentro da União Europeia.

“Discutiram-se várias possibilidades de investimento em Portugal”, especificamente nos sectores financeiro, energético, do papel e da pasta de papel, turismo e indústria farmacêutica, enumerou o Presidente, que fez um apelo ao xeque árabe.

“O que nós gostaríamos - e que eu lhe transmiti - é que analisassem abertamente a possibilidade de investir em Portugal”, disse Cavaco Silva, contando que a comitiva árabe mostrou “grande abertura” para fazer esse estudo. “Ficou acordado que já no princípio do ano irá uma missão técnica visitar Portugal para contactos a nível político mas sobretudo contactos a nível empresarial”, anunciou o Presidente. “Disseram que queriam conhecer melhor a situação económica do país, enquadrá-la também no quadro da evolução económica da UE.”

Portugal “não pode ignorar mercado em tão grande expansão”
Antes, na reunião “bastante frutuosa” que teve com o príncipe e presidente em exercício dos Emirados, o xeque Mohammad bin Zayed Al Nahyan, essa disponibilidade tinha sido igualmente manifestada. Esse encontro foi também político. “Tivemos possibilidade de falar muito abertamente sobre a situação geoestratégica desta região, mas acima de tudo falar sobre a cooperação em múltiplas áreas que podemos desenvolver.” Cavaco também explicou a situação política e económica portuguesa e a situação na União Europeia, “em particular na zona do euro que suscita bastante interesse nesta parte do mundo”.

Ao início da noite, já na embaixada portuguesa situada junto à marina, contou aos empresários portugueses que a realidade portuguesa “ainda é mal conhecida aqui” e que os árabes fizeram muitas perguntas sobre Portugal e sobre a União Europeia, confidenciando ter sentido que “há um ressentimento pela forma como a UE olhava para esta região antes da crise”. Mas agora que Portugal também “saiu com êxito do programa de ajustamento”, o país deve aproveitar o estreitamento de relações.

"Estamos perante um mercado muito exigente e portanto competir aqui não é fácil", admitiu o chefe de Estado, acrescentando ter encontrado, no entanto, "uma grande abertura ao fortalecimento da relação económica com Portugal".

Realçando que os Emirados Árabes Unidos (EAU) registaram um “crescimento bastante significativo e progressos notáveis nas últimas décadas” e que é um país com um crescimento anual que ronda os 5%, Cavaco Silva defendeu que Portugal “não pode ignorar um mercado em tão grande expansão como é este”. Há já cerca de 600 empresas que mantêm negócios com os Emirados e as exportações para aquele país árabe aumentaram no primeiro semestre cerca de 25%. O valor anual de 2013 foi de 160 milhões de euros.

“Contamos com os empresários portugueses para projectarem uma imagem positiva e dinâmica da nossa economia”, apelou à plateia de empresários portugueses que o ouviam numa tenda branca para eventos nas traseiras da embaixada. Estes empresários tornaram-se depois os oradores. Numa sessão fechada aos jornalistas, o Presidente passou o microfone à plateia, a qual pediu que partilhasse experiências, anseios, conversas e compromissos a que tivessem chegados nestes últimos dias nos Emirados. Há aqui empresários portugueses que participaram em feiras no Dubai e Abu Dhabi na última semana.

Apesar do aumento recente das exportações para os EAU, a Presidência e o Governo consideram que há muito por onde crescer. Daí este esforço diplomático ao mais alto nível. Com Cavaco Silva está também o vice-primeiro-ministro Paulo Portas, que presidiu à reunião da comissão mista Portugal-Emirados Árabes Unidos e onde ficaram fechados três acordos, a que se somam outros tantos alinhavados.

Do palácio para a mesquita
Apesar das entradas e saídas sucessivas de palácios de mármore ricamente decorados, o casal presidencial conseguiu visitar a Grande Mesquita do Xeque Zayed, pai do príncipe Mohammad e fundador do país, há 43 anos - cujo corpo está enterrado numa zona de jardim ao lado do edifício.

Com o director-geral Yousif Al Obaidli, e Layla, uma das guias que acompanha os turistas, Cavaco Silva e a mulher ouviram as explicações sobre os recordes do edifício todo construído em imaculado mármore branco – boa parte dele de Carrara, em Itália - entre 1996 e 2007.

Os materiais vieram de diversas partes do mundo para mostrarem que é possível conviver harmoniosamente e ajudar a construir um todo belo, explicaram os anfitriões enquanto a comitiva percorria o espaço descalça, como mandam as regras. E os quatro minaretes nos cantos da mesquita incorporam, nas três partes em que se divide a estrutura, as formas de minaretes típicos de Marrocos, Cairo e Egipto (a meio), e Turquia.

Os números grandes estão em todo o lado na mesquita: desde as 1192 colunas que suportam o tempo feitas de mármore e com pedaços também de mármore e madre-pérola embutidos, às 35 toneladas do maior tapete do mundo (com que cobre a sala interior de oração e que tem perto de 2,3 mil milhões de nós nos fios de lã iraniana e neozelandesa para compor os perto de 5700 metros quadrados), passando pelos 30 mil fiéis que cabem no maior pátio do mundo feito em minúsculos ladrilhos – para que o alvo e polido pavimento não aqueça no Verão -, e pelo milhão de brilhantes Swarovsky do segundo maior candeeiro de uma mesquita do mundo.

Até à explicação para a profusão de flores de mármore coloridas nas paredes, chão e colunas: Layla lembrou que o Al-Corão descreve o paraíso como o jardim do éden, cheio de flores e é por isso que elas enchem a mesquita - e são um elemento decorativo essencial na arte da região.

A pedra veio de vários pontos do globo – Portugal incluído, fez questão de realçar Cavaco Silva. Sim, disse Layla, para que fossem preservados para sempre os elementos naturais do planeta neste imenso edifício. Maria lembrou que também as pirâmides foram feitas para durarem para sempre e no entanto…


O PÚBLICO viaja a convite do National Media Council dos Emirados Árabes Unidos

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