Bloco prepara-se para aprovar referendos internos

Partido ruma ao Alentejo para a rentrée pouco convicto de que o PS "vire à esquerda". Com Seguro ou Costa.

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Enric Vives-Rubio

Quem bloqueia quem à esquerda e do que é a esquerda não pode abdicar serão dois pontos cardeais para a rentrée do Bloco de Esquerda (BE), que começa esta sexta-feira em Évora. O Fórum Socialismo arranca num momento difícil para o partido, em que a imagem pública coincide com os resultados eleitorais obtidos desde 2011. São três anos de declínio que merecem reflexão, embora na direcção do partido haja quem adie esse debate para a convenção que decorrerá em Novembro.

Contemplar nos estatutos do partido a figura do referendo interno para questões políticas de peso é um passo que deve ser dado nos próximos meses. Ao que o PÚBLICO apurou, o tema deve ser discutido na reunião da mesa nacional já convocada para 6 de Setembro e que servirá para aprovar o regulamento da convenção de Novembro.

A ideia passa por sujeitar ao voto directo dos militantes questões como o apoio a candidatos presidenciais, participação em governos, política de alianças e projectos de lei mais controversos. Ao PÚBLICO, o coordenador João Semedo admitiu que o tema é recorrente no Bloco e que “não ficaria surpreendido se essa proposta fosse feita e aprovada”.

O dirigente Pedro Soares espera que o BE seja capaz de “aprofundar o debate interno e os mecanismos de participação directa”, o que pode passar pelo chapéu do referendo. Não significa instituir “uma república referendária no BE”, explica, mas dispor desse instrumento para “questões onde não há uma maioria clara, onde há maior divisão e que causam um grande debate interno, como o apoio a uma candidatura presidencial.”

Fragilizado não apenas pelos resultados eleitorais, mas mais recentemente pela saída da dirigente Ana Drago, acrescida da desvinculação da corrente fundadora Manifesto, o BE inclui na rentrée, desta sexta-feira até domingo, dezenas de painéis com temas muito variados, da austeridade às alterações climáticas. Logo a abrir, na Escola Secundária Gabriel Pereira, o coordenador João Semedo dirá “do que é que a esquerda não pode abdicar”.

“Falarei das condições políticas e programáticas que o BE considera necessárias para haver uma saída à esquerda da crise em que o país se encontra. A Catarina Martins apresentará propostas políticas e económicas concretas”, afirmou o líder, que não quis dissertar sobre eventuais aliados. Contudo, parece pouco provável que no reinício deste ano político os ânimos aqueçam com o PS. De António Costa ou de António José Seguro. “À esquerda não falta diálogo nem conversa, falta vontade política para virar à esquerda. É evidente que desta disputa do PS não vai sair qualquer alternativa de esquerda, ouvidas as múltiplas declarações de ambos os candidatos”, afirma Semedo.

No sábado, o líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, falará sobre o “BES, autópsia a um saque” e a socialista Ana Gomes será a convidada de peso com uma intervenção sobre por que é que “os submarinos não param de meter água”. Até ao Alentejo vão também o grego Georgios Katrougalis, do Syriza, Miguel Urban, do espanhol Podemos, e a investigadora francesa Catherine Samary.

O dirigente Ricardo Moreira acredita que o vasto programa do Fórum Socialismo dá o sinal necessário de que “todo o partido está mobilizado”, mas empurra o debate interno para o Outono. “Esta rentrée prepara a acção concreta, pensamos juntos, não é um momento de debate interno, é sobretudo de debate do país e do mundo”, afirma. Menos para arrumar a casa e mais para olhar para a casa dos outros: “As condições mudam, não existem parceiros eternos para o não nem para o sim. São precisas políticas fortes que permitam agregar parceiros”.

Em tom de balanço, Pedro Soares reconhece que “os últimos dois anos foram muito intensos contra o Bloco, colocaram em causa o partido”.

“Nós não andamos na estratosfera, tem que haver quase uma revolução, de baixo para cima. O espaço político do Bloco está em ampliação, é preciso uma linha política clara com um mandato claro", diz.

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