Bloco e PCP criticam condecoração de Champalimaud por Marcelo

Os dois partidos recordam o passado do “capitalista” a quem o Presidente atribuiu a Grã-Cruz da Ordem do mérito a título póstumo.

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António Champalimaud Rui Ochoa/Expresso

A condecoração, a título póstumo, que Marcelo Rebelo de Sousa atribuiu terça-feira a António Champalimaud está a ser criticada pelos partidos mais à esquerda do Parlamento. 

Na quarta-feira, o PCP emitiu uma nota de imprensa em que regista negativamente a condecoração, considerando que este acto “se insere na reabilitação de alguém que acumulou uma fortuna colossal assente nas benesses do Estado, na brutal exploração do povo português e dos povos das colónias à custa de negócios obscuros, de um dos monopolistas que foi esteio do regime fascista”. “Não se pode branquear nem apagar esta realidade a pretexto da filantropia de Champalimaud”, afirmam os comunistas.

De forma menos institucional, o Bloco manifestou o seu incómodo através do deputado Jorge Costa que, no Facebook, recordou que o antigo empresário e banqueiro era, “nas vésperas do 25 de Abril, o capitalista mais rico de Portugal”. E “voltou a sê-lo depois, pela mão das privatizações cavaquistas. Sempre à sombra do Estado que agora lhe medalha os méritos”.

O ‘post’ remete para um artigo publicado no “Esquerda.net”, um órgão de informação digital do BE, no qual o próprio Jorge Costa lembra “quem realmente foi” António Champalimaud. Ali se recorda o “caso Sommer” - um complexo processo judicial de herança que levou Champalimaud a fugir do país por cinco anos e o seu irmão Henrique à prisão por alguns meses -, as compras do Banco Pinto e Sotto Mayor com um cheque careca e do Banco Português do Atlântico, em relação à qual conseguiu, por algum tempo, contornar a oposição de Salazar, mas também os financiamentos constantes do Estado à Siderurgia Nacional, que fundara em 1954.

Jorge Costa faz também uma evocação crítica do papel do empresário no pós-25 de Abril, recordando a sua proximidade com o general Spínola e a defesa da revolução, mas também como “este antifascismo foi de pouca dura e, para defender as suas posses, Champalimaud e todos os outros se passaram para a conspiração anti-democrática”, consumada através do Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), grupo terrorista contra-revolucionário que operou a partir de França e do Brasil após o 11 de Março.

O artigo recorda ainda como a enorme fortuna de Champalimaud “foi reconstruída depois das vicissitudes da revolução”, com a ajuda das privatizações, de tal forma que, em 2008, oito herdeiros Champalimaud figuravam na lista das cem maiores fortunas da revista Exame”.

Na primeira cerimónia de entrega do Prémio António Champalimaud de Visão em que participou como Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de distinguir o empresário, falecido em 2004, a título póstumo, atribuindo-lhe a mais alta condecoração da Ordem do Mérito, destinada a galardoar "actos ou serviços meritório praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas, que revelem abnegação em favor da colectividade". O prémio com o seu nome é atribuído anualmente pela Fundação Champalimaud, criada por testamento do próprio com uma dotação de 500 milhões de euros para promover a investigação científica na área da biomedicina, em especial nas áreas do cancro e das neurociências.

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