Africom nos Açores sustentado no “argumento económico”

Proposta de congressistas americanos defende “alcance estratégico” das Lajes para zonas terroristas em África. Mas o principal argumento é a poupança orçamental.

Poucos dias depois de ter dado entrada no Congresso a proposta que defende a transferência de competências do comando AFRICOM de Espanha e Alemanha para a ilha Terceira, o presidente da Câmara dos Representantes aterrava em Lisboa, John Boehner, junto com o proponente do diploma, Devin Nunes.

A passagem por Lisboa inclui uma audiência na Assembleia da República. E alguns deputados portugueses confrontaram a delegação de congressistas norte-americanos sobre a proposta de transferências de infra-estruturas e activos da AFRICOM na audiência realizada para estes no Parlamento.

Ao que o PÚBLICO apurou, o principal proponente do diploma, o congressista Devin Nunes, assegurou estar confiante no sucesso da solução devido ao “argumento económico” sustentado na proposta.

A mudança do quartel-general de Estugarda, Alemanha, para os EUA permitiria uma poupança anual na ordem dos 60 a 70 milhões de dólares no Orçamento do Departamento de Defesa norte-americano.

Esse foi, precisamente uma das justificações apresentadas por Nunes quando avançou com a proposta na Comissão das Forças Armadas na Câmara dos Representantes. Invocando um relatório do Gabinete de Responsabilização Governamental , que contabilizava uma poupança de “60 a 70 milhões de dólares”, defendeu a reutilização da Base das Lajes com o “alcance estratégico” que a localização dos Açores detinha para as “operações do AFRICOM”: “Zonas de actividade terrorista na África Ocidental podem ser atingidas a partir das Lajes em menos de cinco horas com poucas, senão qualquer preocupações de sobrevoos, e dez dos dezoito países africanos identificados nos Alertas de Viagem do Departamento de Estado podem ser alcançados em menos de seis horas”.

Ao que o PÚBLICO apurou, o principal obstáculo prende-se com a “resistência” das estruturas militares em sair de uma cidade como Estugarda para se instalarem numa localização mais remota como a ilha Terceira.

A concentração de equipamentos e unidades nos Açores – além dos ganhos de eficiência – permitiria evitar avultados investimentos na base espanhola de Moron para a transformar num local apropriado para a Força de Reacção Rápida de 500 Marines aí actualmente estacionados.

Os responsáveis portugueses têm evitado assumir uma posição mais clara sobre a proposta  com o argumento de que não pretendem imiscuir-se numa matéria que é do foro interno da política norte-americana. Mas também porque estão ainda a aferir das reais possibilidades de sucesso da solução apresentada no Congresso. Ainda assim, um responsável português – que solicitou o anonimato com o argumento de que uma posição oficial nesta altura poderia melindrar o processo - não deixa de assinalar a relevância da apresentação do diploma. “Os congressistas estão a dizer ao Departamento de Defesa: ou vocês arranjam uma solução ou arranjamos nós.”

A proposta surge num momento que em que o Departamento de Defesa está a preparar um relatório sobre a estrutura militar norte-americana na Europa, com o enfoque na poupança de custos. O diploma é visto como uma “forma de pressão” a favor da Base das Lajes, ameaçada pelos cortes drástico no Orçamento militar e que levou ao anúncio em 2011 da redução de efectivos norte-americanos na Terceira. 

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