Egipto em alerta na fronteira de Rafah avisa Israel que tratado de paz está ameaçado

Amnistia Internacional diz que as pessoas de Gaza estão em “grave risco de genocídio”, Human Rights Watch fala em “consequências catastróficas” da ordem para evacuar Rafah.

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Carro atingido num ataque aéreo israelita em Rafah BASSAM MASOUD/Reuters
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O Egipto reforçou as suas medidas militares e de segurança em Rafah, na fronteira com a Faixa de Gaza do outro lado há perto de um milhão e meio de palestinianos deslocados e encurralados, quando Israel prepara uma ofensiva terrestre contra a cidade. A Alemanha alertou que essa ofensiva “será uma catástrofe humanitária” e a Arábia Saudita pediu uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU sobre os planos de Israel para “atacar o último refúgio de centenas de milhares de civis obrigados a deslocarem-se pela brutal agressão israelita”.

“O espaço é limitado e há um grande risco em colocar Rafah sob uma nova escalada militar, tendo em conta o número crescente de palestinianos que lá se encontram”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, Sameh Shoukry, durante uma conferência de imprensa. Com “1,4 milhões de pessoas num território tão pequeno sem protecção”, a zona “não pode aguentar mais vítimas” e essa escalada, alertou, terá “consequências calamitosas”, denunciando “uma política sistemática [de Israel] para deslocar” os residentes de Gaza.

Segundo o jornal The Wall Street Journal, quando Israel informou o Egipto sobre os planos para alargar a ofensiva terrestre a Rafah, o Cairo avisou que se algum habitante de Gaza fosse empurrado para a Península do Sinai, “um tratado de paz com décadas seria suspenso”. Um dos principais mediadores de uma possível trégua em Gaza, o Egipto foi o primeiro país árabe a assinar a paz com Israel, em 1979.

De acordo com o Canal 12 israelita, as IDF (Forças de Segurança de Israel) partilham algumas das preocupações dos egípcios e querem saber qual é o plano do Governo para a Philadelphi Route, a estrada de 14 quilómetros que passa entre Gaza e o Egipto. Isso é fundamental para manter uma coordenação com o Egipto e tentar que os palestinianos em fuga de Rafah não tentem atravessar a fronteira — a televisão israelita diz que Benjamin Netanyahu tem evitado tomar decisões neste tema, isto quando vários membros do seu Governo defendem abertamente que a população de Gaza deveria deixar o território e ser recebida por diferentes países árabes.

Ainda segundo o Canal 12, Netanyahu acredita que Israel só tem um mês para realizar a operação em Rafah, onde o Hamas terá quatro batalhões. Com o aumento da pressão internacional, a ofensiva contra a cidade mais a sul do enclave palestiniano terá de ser completada antes do mês sagrado do Ramadão, que começa a 10 de Março, disse o primeiro-ministro numa reunião do gabinete de guerra.

O chefe de Estado das IDF, Herzi Halevi, diz o Canal 12, respondeu que os militares estão prontos, mas explicou que precisa de saber o que é que o Governo quer fazer com os deslocados que ali se encontram. Netanyahu terá pedido às IDF que desenhassem um plano para evacuar Rafah, mas falta saber para onde poderia ir a população.

O próprio Hamas avisou neste sábado que um ataque em grande escala em Rafah seria “um massacre global”, que poderia fazer “dezenas de milhares de mortos”, numa altura em que diz que o número de mortes palestinianas confirmadas nos ataques israelitas na Faixa de Gaza já ultrapassou as 28 mil.

“Evacuação? Mas para onde?”, perguntou na rede X a secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnès Callamard, defendendo que as pessoas de Gaza estão em “grave risco de genocídio”. Num comunicado, a Human Rights Watch alertou também para as “consequências catastróficas” da decisão de evacuar Rafah, sublinhando ainda que se trata de uma ordem “ilegal”.

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