Reino Unido detecta variante do SARS-CoV-2 que pode estar ligada ao aumento de casos

O ministro da Saúde afirmou que as análises iniciais indicam que esta variante “está a crescer mais rapidamente do que as variantes existentes”, mas não é mais mortal — nem existem indícios de que seja resistente à vacina. Especialistas alertam que serão necessários mais estudos.

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Londres entrará esta quarta-feira no nível mais severo de restrições Reuters/HANNAH MCKAY

Uma nova variante do SARS-CoV-2 foi recentemente identificada no Reino Unido e as autoridades acreditam que esta “poderá estar associada à disseminação mais rápida do vírus no Sul da Inglaterra”. A descoberta foi divulgada esta segunda-feira por Matt Hancock, ministro da Saúde britânico, depois de anunciar que Londres e partes do Sul da Inglaterra iriam entrar no nível mais severo de restrições por causa do aumento de casos das últimas semanas já esta quarta-feira.

Numa declaração no Parlamento, Hancock revelou que as análises iniciais indicam que esta estirpe “está a crescer mais rapidamente do que as variantes existentes”, mas não é mais mortal — nem existem indícios de que seja resistente à vacina contra o coronavírus da Pfizer, que já está a ser administrada a alguns grupos populacionais britânicos desde a semana passada.

O ministro disse ainda que mais de 1100 casos da nova estirpe do vírus foram diagnosticados em quase 60 localidades, predominantemente no sul da Inglaterra. O director-geral da Saúde britânico, Chris Whitty, disse que não havia provas de que a variante fosse mais perigosa e afirmou que, independentemente disso, esta será detectada pelos testes de diagnóstico.

Whitty sublinhou também, durante a conferência de imprensa em Downing Street na segunda-feira, que a identificação da nova estirpe não tinha sido a causa da mudança de Londres para o nível 3 de restrições. “A subida das taxas de infecção de forma muito rápida e em muitas áreas foi a razão da mudança. A variante pode ou não estar a contribuir para isso”, adiantou, citado pelo jornal The Guardian.

Questionada sobre a nova variante na conferência de segunda-feira, Maria van Kerkhove, uma das especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) que tem sido o rosto na luta contra a covid-19, disse que não existem ainda provas de que se comporte de maneira diferente e afirmou que a mesma estirpe já tinha sido identificada noutros pontos do globo. “Continuaremos a avaliar e a informar sobre quaisquer mudanças”, afirmou.

Por outro lado, os especialistas britânicos pedem mais experiências e informações para que se possam tirar conclusões claras. “Esta variante contém algumas mutações na proteína da espícula (spike), que é o principal alvo das vacinas, e será importante estabelecer se estas têm impacto na sua eficácia”, disse Wendy Barclay, do Imperial College de Londres, ao jornal britânico.

Especialistas estão a estudar mutação

Um grupo de cientistas britânicos está já a tentar estabelecer uma ligação entre a rápida disseminação do vírus no sul da Inglaterra e o aparecimento desta nova variante do SARS-CoV-2. Em comunicado, os especialistas do consórcio Covid-19 Genomics UK (COG-UK) dizem que as mutações, ou alterações genéticas, surgem naturalmente em todos os vírus, incluindo no SARS-CoV-2, à medida que estes se replicam e circulam nas populações humanas.

No caso do novo coronavírus, estas mutações estão a acontecer uma a duas vezes por mês em todo o mundo. “Como resultado desse processo contínuo, muitos milhares de mutações já surgiram no genoma do SARS-CoV-2 desde que o vírus surgiu em 2019”, disse ainda a equipa.

A maior parte das mutações estudadas até agora não teve efeitos na propagação do vírus e apenas uma minoria tem probabilidade de o alterar de forma significativa — tornando-o mais capaz de infectar pessoas, de causar doenças graves, ou fazendo com que seja menos sensível às defesas imunológicas naturais ou induzidas por uma vacina, por exemplo.

Esta nova variante, que os cientistas do Reino Unido chamaram de “VUI - 202012/01”, foi descoberta no início de Dezembro e inclui uma mutação na região do genoma viral que codifica a proteína spike que, em teoria, poderia resultar na disseminação mais fácil da covid-19 entre as pessoas. Contudo, ainda não há evidências de que isso esteja a acontecer ou de que a estirpe possa ser mais resiste à vacina, frisaram os cientistas. “Ambas as questões requerem mais estudos que têm de ser realizados em ritmo acelerado”, afirmam os cientistas do COG-UK.

Infecções em crescimento em Londres

Os casos de covid-19 aumentaram em Londres durante as últimas semanas do confinamento nacional, que terminou no início de Dezembro, embora a prevalência em termos nacionais em Inglaterra tenha descido, revelou um estudo da Imperial College também publicado esta terça-feira.

“Durante a primeira metade do confinamento, o nosso estudo mostrou que as infecções estavam numa clara trajectória de queda, mas agora estamos a assistir a um nivelamento impulsionado por surtos de infecção em certas regiões e grupos etário”, disse Paul Elliott, director do programa de testes à covid-19 da instituição britânica.

Os autores do estudo dizem que a prevalência tem sido mais alta entre crianças em idade escolar, algo que admitem poder estar relacionado com a abertura das escolas depois do confinamento — e alertaram que uma flexibilização das regras durante o Natal trará riscos.

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