“Não aceito que se criminalizem todas as políticas de Sócrates”

Foi líder parlamentar de Sócrates e promete que no final do processo poderá tirar “ilações de natureza política” e “consequências de ordem pessoal”.

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Rui Gaudencio

Assis considera que António Costa não mudou de posição em relação a Sócrates e recusa a ideia de que o ex-primeiro-ministro tinha “um determinado projecto pessoal e político e que toda a acção governativa foi feita estritamente em função desse projecto.”

Como avalia a mudança de posição do PS em relação a José Sócrates?
Muito francamente, olhando com rigor para as declarações do secretário-geral do PS, não vislumbrei nelas uma alteração radical de posição em relação à fase anterior. Houve outras pessoas do PS que realmente mudaram de posição. Não tenho nenhuma teoria explicativa para essa mudança.

Do ponto de vista do secretário-geral do PS, há a admissão de que podemos chegar a uma fase em que Sócrates seja dado como culpado…
Não penso que a minha posição divirja muito da do secretário-geral do PS. Primeiro há que distinguir aquilo que é do âmbito judicial do que não é. E é perigoso entrarmos nesse âmbito, até podemos estar a influenciar inadvertidamente uma decisão judicial. Em segundo lugar, em relação a uma figura pública, uma comunidade política pode ou não pode emitir juízos de natureza moral, de natureza política? Evidentemente que pode e há muitos aí a circularem. Pela minha parte, eu tenho evitado fazê-lo. Já vejo demasiada gente a pré-condenar, sob todos os pontos de vista, o eng.º Sócrates para querer acrescentar a minha voz a essa pré-condenação. Sou amigo dele, não renego as amizades. Eu cometo erros, os meus amigos podem cometer erros graves. Se os cometem, evidentemente são alvo de juízos de censura no plano moral e político e, se for o caso, de censura no âmbito penal. Mas não me sinto muito à vontade, até por uma questão de pudor, para fazer qualquer consideração.

Mas o comportamento de José Sócrates ao longo dos anos, que entretanto nos foi sendo revelado, é possível ou não ao PS fazer um julgamento político sobre o caso neste congresso?
Não. Neste momento acho que seria perigoso fazê-lo. Se o fizesse neste momento, de alguma maneira isso também poderia condicionar a decisão judicial. Isso é perigoso. Esse é um elemento para mim fundamental. Em segundo lugar, acho que é preciso esperar pelo total esclarecimento deste processo. Em terceiro lugar, o que o PS não pode admitir é que se proceda a partir daqui a uma criminalização de todas políticas prosseguidas pelo PS durante o período em que o eng. José Sócrates foi primeiro-ministro de Portugal. Eu fui líder parlamentar durante a última fase, estive no Parlamento Europeu na primeira fase, tenho a convicção de que não é aceitável essa tentativa que está hoje a ser levada a cabo que é a de criminalizar as políticas, [dizendo que] havia um determinado projecto pessoal e político e que toda a acção governativa foi feita estritamente em função desse projecto. Eu não acredito nisso. E digo-lhe mais: se algum dia me provarem que isso foi verdade, eu retirarei daí consequências de ordem pessoal.

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