Com o PSOE sem líder, Espanha está mais perto de ter Governo?

Com a queda de Pedro Sánchez, espera-se que avance Susana Díaz para a direcção dos socialistas. Os próximos dias serão decisivos para esclarecer a crise política espanhola.

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Cristina Díaz, a "baronesa do Sul": espera-se que avance para a liderança do PSOE CRISTINA QUICLER/AFP

É já na segunda-feira que se reunirá pela primeira vez a comissão gestora do PSOE, que terá de conduzir os socialistas espanhóis até ao próximo congresso. Mas é de nova reunião no próximo sábado do comité federal, como aquela em que Pedro Sánchez foi levado a demitir-se, que deverá sair a decisão sobre se o partido estará agora disposto a abster-se para deixar passar no Parlamento um Governo do Partido Popular apoiado pelo Cidadãos.

A leitura que a maioria dos analistas fazem do dramalhão que foi o comité federal do PSOE no sábado, com muitos gritos, choros, e quase pancadaria, é a de quem ganhou foi Susana Díaz, a presidente da Junta da Andaluzia. Ela era a líder da facção rival do secretário-geral Pedro Sánchez, que se mantinha firme na opção de não viabilizar a investidura de um novo Governo liderado por Rajoy – o que conduziria Espanha às terceiras eleições desde Dezembro de 2015.

"Pior do que uma maioria do PP é uma maioria absoluta do PP", disse Javier Fernández, líder dos socialistas das Astúrias e presidente da comissão gestora do PSOE, que vai conduzir o partido enquanto não há nova liderança. Fernández, um político discreto que é uma referência moral no partido, é também próximo das posições de Susana Díaz.

Com o afastamento de Sánchez, o que se espera é que Díaz avance finalmente para reclamar a liderança – algo que ela tem sempre hesitado em fazer. Apesar de o momento não ser o mais propício. Se assumir a liderança, tem duas escolhas. Continuar a linha de recusa de viabilização do Governo do PP apoiado pelo Cidadãos e a ida dos espanhóis pela terceira vez às urnas – algo que era criticado pelos dirigentes que se demitiram e acabaram por causar a demissão de Sánchez.

As sondagens dizem que o PSOE seria fortemente penalizado, porque os eleitores não entendem porque é que os partidos não se entendem. Os 85 deputados obtidos nas eleições de 26 de Junho e que agora permitiram inviabilizar a tomada de posse de Rajoy, poderiam ver-se bastante reduzidos numas novas eleições em Dezembro.  

Ou então Diáz, “a baronesa do Sul”, ficará ligada à viabilização de um novo Governo de Rajoy – odiado pela esquerda, por causa dos anos de austeridade e pelos múltiplos casos de corrupção do Partido Popular. Ainda por cima porque esta semana vai finalmente começar o julgamento da rede Gürtel, o grande caso de corrupção que há anos está a ser investigado e envolve várias comunidades espanholas e figuras do PP, com o líder da trama, o empresário Francisco Correa, a dispor-se a colaborar com a justiça. Os socialistas catalães, liderados por Miguel Iceta, opõem-se sonoramente a qualquer hipótese de viabilização de um Governo liderado por Rajoy.

PP preocupado

No PP, no entanto, este cenário de caos no PSOE é visto como preocupação. Os populares consideram  “difícil imaginar” fazer um pacto com uma força política desmembrada, escreve o El Mundo, que não auguraria um Governo estável. Exigiria por isso “garantias de governabilidade”. Por isso, o PP não dá por garantido que se tenha dissipado a ameaça de umas terceiras eleições.

A possibilidade de formar um governo alternativo, com o Podemos e a Izquierda Unida, não parece viável, com o afastamento de Sánchez, apesar de Díaz ter feito acordos de governação na Andaluzia com o Podemos, dizem os analistas espanhóis. No entanto, há quem jure que Pedro Sánchez pode vir a candidatar-se nas primárias para escolher um novo líder - numa espécie de pesadelo continuo do PSOE. Miguel Ángel Revilla, presidente dos socialistas da Cantábria, garantiu à televisão La Sexta que Sánchez lhe disse que esses eram os seus planos.

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Não são decisões fáceis, até porque o PSOE é o partido social-democrata da Europa Ocidental que mais apoio eleitoral perdeu, a seguir ao PASOK grego, que passou de partido de governo para os actuais 5%: na década de 1980 representava 48% da preferência do eleitorado espanhol, e agora ronda os 22% (análise El País). As escolhas que fizer agora serão decisivas para o seu futuro.

Esta guerra das rosas resolve muito mais do que o futuro de Sánchez, de Díaz ou até do socialismo espanhol, pois contrapõe duas visões do papel que deve ter um partido social-democrata no novo cenário político ocidental”, escreveu no El País o sociólogo Jorge Galindo, editor do blogue Politikon.

Mas estas decisões têm de ser tomadas em contra-relógio, por um comité federal diminuído – sem os 17 elementos críticos de Sánchez que se demitiram na semana passada, e sem Sánchez e os 17 que lhe eram leais. Há sempre a possibilidade de convocar um novo congresso, mas agora os líderes do PSOE são eleitos através de eleições primárias, abertas a todos os cidadãos. Só que há um prazo limite, até 31 de Outubro, para haver uma solução de governo; depois disso, o rei terá de convocar novas eleições. 

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