“Isto é justiça”, tinha dito o atirador de Baton Rouge sobre o ataque em Dalas

Homem responsável pela morte de três polícias era um ex-militar e tinha publicado vários vídeos em que denunciava a opressão contra a comunidade afro-americana nos EUA.

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Agentes da polícia durante uma vigília em honra dos polícias mortos em Baton Rouge Jeffrey Dubinsky / Reuters

O homem que terá morto no domingo três polícias em Baton Rouge, Luisiana, foi identificado como Gavin Long, um ex-fuzileiro negro de 29 anos. Em vários vídeos, Long aparece a fazer apelos à violência contra as autoridades, apesar de não ter sido encontrada qualquer ligação a grupos organizados.

Um dia depois da morte de cinco polícias durante uma manifestação em Dalas, a 7 de Julho, Long publicou um vídeo no YouTube em que elogiava a acção dos atiradores — “Isto é justiça”. Sob o pseudónimo “Cosmo Setepenra”, foram publicados vários vídeos, fotografias e textos em que eram denunciadas injustiças contra as minorias raciais norte-americanas.

Segundo os investigadores, Gavin Long era de Kansas City, no Missouri, mas ainda não foi possível reconstituir os seus passos até à tarde de domingo, dia em que celebrou 29 anos. A polícia foi alertada para a presença de um homem “na posse de uma espingarda”, que terá começado a atirar sobre os agentes policiais assim que os viu. Depois de matar três polícias, Long acabou por ser abatido.

Num vídeo publicado a 10 de Julho, Long disse ter viajado para Dalas, poucos dias depois do homicídio dos cinco polícias. “É preciso atacá-los de volta, é a única forma de fazer um bruto parar.”

Um primo de Long disse que nunca lhe ouviu qualquer comentário de apoio a movimentos nacionalistas negros e, em declarações sob anonimato ao Washington Post, descreveu-o como “muito inteligente” e disse que “adorava fazer coisas pelas pessoas”.

As suas denúncias não se cingiam aos abusos contra a comunidade negra. Num outro vídeo, Long referiu-se aos índios nativos americanos e advertiu para a sua possível extinção “pelas mesmas pessoas que lideram este país”. “A minha pergunta para vocês, apenas algo para pensarem: em que altura se deveriam eles ter erguido?”

Nos vídeos, Long nega pertencer a qualquer grupo, apesar de se descrever como um ex-membro da Nação do Islão, um movimento político-religioso de defesa dos direitos dos negros nos EUA. “Eles vão tentar pôr-te junto do ISIS [acrónimo em inglês do autoproclamado Estado Islâmico] ou de outro grupo terrorista qualquer. Não, eu sou filiado no espírito da justiça. Nada mais.”

A Liga Anti-Difamação, que estuda o extremismo nos EUA, disse não ter encontrado qualquer ligação directa entre Long e grupos radicais, segundo o Washington Post.

Se, por um lado, parece haver uma motivação política para a acção de Gavin Long, por outro, os vídeos mostram indícios de um discurso incoerente e, em alguns momentos, paranóico. Há exemplos em que o ex-fuzileiro aparece a acusar “árabes e indianos” de explorarem as comunidades afro-americanas.

Em mensagens em fóruns na Internet, Long queixava-se de ser vigiado pelo Governo e por grandes multinacionais e aconselhou outros utilizadores a usarem câmaras na roupa para denunciarem a vigilância a que estavam sujeitos. “Vamos denunciar o vosso envolvimento e classificar as vossas más performances e jogos na Internet”, disse Long, dirigindo-se às empresas tecnológicas.

Entre 2005 e 2010, Long esteve nos Fuzileiros norte-americanos, período durante o qual esteve destacado alguns meses no Iraque, onde não teve experiência de combate, de acordo com o Exército. Em 2009, casou-se. Divorciou-se dois anos depois.

Baton Rouge, capital do estado do Luisiana, tem estado na mira de manifestantes contra a brutalidade policial, depois de Arlon Sterling, um homem negro de 37 anos, ter sido abatido pela polícia quando estava à porta de uma loja de conveniência a vender CD.

Entretanto, um juiz do Maryland absolveu o tenente da polícia Brian Rice pela morte de Freddie Gray, um homem negro de 25 anos que morreu enquanto estava sob custódia policial, em Abril de 2015.

A autópsia concluiu que Freddie Gray partiu o pescoço ao ser atirado para dentro da carrinha em que foi conduzido pela polícia. Apesar das queixas, não recebeu assistência, até ser internado com uma fractura na coluna vertebral que acabaria por ser a causa da morte, uma semana depois da detenção.

Rice era o agente com a patente mais alta a ser julgado neste caso, que desencadeou protestos e motins em Baltimore, e ocupou o debate sobre a forma como as autoridades policiais tratam as minorias. A controvérsia voltou a estalar este mês com as mortes de afro-americanos às mãos da polícia no Minnesota e no Louisiana.

Brian Rice estava acusado de homicídio, negligência grave e má conduta. A absolvição é mais um revés para o Ministério Público, que ainda não conseguiu qualquer condenação nos julgamentos de quatro agentes.

 

 

 

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