Mulher do atirador de Orlando pode ter ajudado a preparar o ataque

Investigação atinge família do homem que matou 49 pessoas numa discoteca gay. Obama critica propostas de Trump e ataca Partido Republicano.

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Agente do FBI nas imediações da discoteca atacada no domingo Brendan Smialowski/AFP

A mulher de Omar Mateen, o homem que matou 49 pessoas numa discoteca gay em Orlando, na Florida (EUA), parece ter tido conhecimento do ataque e até ajudado a prepará-lo, segundo adiantaram media e responsáveis norte-americanos. “Há indicações de que ela tinha alguma ideia do que se estava a passar”, afirmou o senador Angus King, membro do Comité dos Serviços de Informação, ao ser informado do andamento da investigação.

Noor Salman foi interrogada na terça-feira por agentes do FBI, a quem disse que tentou convencer Mateen a não avançar com o ataque, mas a quem admitiu também tê-lo conduzido à discoteca Pulse pelo menos uma vez, para que ele pudesse estudar o lugar. Apesar disto, Salman não foi detida, embora possa ainda ser acusada de cúmplice de dezenas de homicídios, cúmplice em tentativa de homicídio e de não notificar as autoridades de um atentado.

“Ela é definitivamente — suponho que se poderá dizer — uma pessoa de interesse”, disse o senador Angus King à CNN. “Parece estar a cooperar e pode dar-nos algumas informações importantes”, acrescentou, num dia em que Barack Obama voltou a sublinhar a ideia de que Omar Mateen se radicalizou a sós e parece não ter contactado nenhum grupo terrorista estrangeiro. “Parece ter sido um jovem zangado, perturbado e instável que se radicalizou”, disse Obama, depois de um encontro com a sua equipa de segurança nacional.

A investigação ao atentado de domingo atingiu esta quarta-feira outros membros da família de Omar Mateen, em especial o seu pai, Seddique Mateen, que no passado manifestou opiniões favoráveis aos taliban em comentários sobre a política afegã, o seu país natal. De acordo com o Washington Post, que cita o jornal alemão Rheinischen Post, as autoridades alemãs examinaram uma conta de Seddique Mateen no Banco de Düesseldorf, para onde pediu doações num vídeo publicado na Internet em 2013 — embora tenha recebido apenas 200 euros.

De acordo com uma testemunha do atentado de Orlando, que ouviu uma das chamadas do atirador para os serviços de emergência, Mateen disse que o ataque era uma resposta aos bombardeamentos americanos no “seu país” — referia-se ao Afeganistão, embora tenha nascido em Nova Iorque. Na mesma chamada, porém, Mateen jurou fidelidade ao grupo Estado Islâmico, disse apoiar o atentado na Maratona de Boston, em 2013, e falou com apreço de outras facções extremistas, mesmo as adversárias do grupo que alegava representar.

Estas contradições — e outras, como os relatos de que Mateen pode ter tido secretamente vivência homossexual — contribuem para um retrato confuso dos motivos por detrás do atentado de domingo. Isto, embora o vice-presidente americano, Joe Biden, tenha afirmado que a investigação está a avançar rapidamente e pode estar já a chegar ao “fundo da questão”. “Está a tornar-se mais nítido e evidente o que muitos de nós pensávamos”, afirmou, sem dar mais detalhes.

Enquanto se esbate a ideia de que Omar Mateen seria um radical na linha proclamada pelo grupo Estado Islâmico, o Presidente dos Estados Unidos critica o discurso do Partido Republicano e do seu provável candidato à presidência, Donald Trump, que o censuram por não estar a fazer o suficiente para travar o grupo jihadista e não ter usado as palavras “islão radical” depois do atentado. “Não há magia na frase ‘islão radical’”, afirmou Obama na terça-feira. “É um chavão político, não é uma estratégia.”

Na terça-feira, Obama defendeu a sua estratégia de combate ao Estado Islâmico na Síria e Iraque, onde o grupo tem perdido terreno a um ritmo acelerado e muita da sua força passada, em parte graças aos bombardeamentos da coligação internacional e ao recente reforço no número de soldados das esforças especiais que combatem ao lado de alguns grupos rebeldes. Mas foi nas suas críticas a Donald Trump que Obama sobressaiu, atacando a promessa do próximo candidato republicano de travar a imigração muçulmana como forma de evitar novos atentados em solo americano.

“Vamos começar a tratar os americanos muçulmanos de forma diferente? Vamos começar a sujeitá-los a um controlo especial? Vamos começar a discriminá-los por causa da sua fé?”, lançou Barack Obama. “É verdade que os responsáveis republicanos concordam com isto? Porque essa não é a América que desejamos — não é um reflexo dos nossos ideais democráticos. Não nos torna mais seguros. Torna-nos menos seguros.”

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