Governo e oposição aceitam trégua na Síria, mas impõem condições

Regime quer fechar a fronteira com a Turquia e impedir rebeldes de reforçarem posições durante cessar-fogo. Oposição no exílio exige fim aos cercos governamentais e libertação de prisioneiros.

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Voluntários celebram o fim do treino para a entrada no Exército sírio com imagens de Assad Louai Beshara/AFP

O regime sírio aceitou interromper as suas “operações de combate” contra a oposição síria nos termos da trégua negociada entre a Rússia e os Estados Unidos, que deverá começar já este fim-de-semana. Damasco anunciou na manhã desta terça-feira estar de acordo com a “cessação de hostilidades”, desde que possa prosseguir a sua ofensiva contra os grupos Frente al-Nusra e Estado Islâmico e que outros rebeldes não usem a trégua para fortalecer ou alterar as suas posições no terreno.

Já se esperava a anuência de Damasco ao plano de trégua parcial no conflito, negociado directamente pela aliada Rússia, ultimamente o seu principal representante diplomático. Moscovo e Washington exigem que as partes do conflito aceitem publicamente os termos da "cessação de hostilidades" até ao meio-dia desta sexta-feira, para que a trégua comece à meia-noite.

Aguarda-se resposta das milícias curdas, cruciais para qualquer tipo de entendimento no terreno. O conflito entre curdos na Síria e Turquia é apenas mais um elemento de possível desestabilização de um cessar-fogo: Ancara disse apoiar o cessar-fogo, mas esta terça-feira reforçou a sua oposição às milícias curdas na fronteira, que diz estarem sob as ordens dos separatistas turcos do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

A grande aliança de grupos de oposição no exílio já aceitara os termos da trégua na segunda-feira, no final de um encontro em Riad, na Arábia Saudita. Tal como o regime, a Coligação Nacional Síria exige condições para calar as armas: o fim do cerco governamental a 18 zonas controladas por rebeldes, a libertação de detidos e o fim do bombardeamento aéreo e de artilharia em zonas civis.

As reservas de ambos os lados são sinal das grandes fragilidades da trégua. O Governo diz ser importante selar a fronteira com a Turquia, de onde grupos rebeldes, moderados e extremistas, recebem parte dos seus reforços e mantimentos. Pouco leva a crer que os grupos de oposição cumpram esta ordem, principalmente na zona de Alepo, actualmente sob grande ofensiva do regime.

A principal causa de cepticismo sobre uma trégua substancial na Síria deve-se ao facto de os rebeldes moderados apoiados pelo Ocidente – quase irrelevantes no terreno – combaterem lado a lado com a Frente al-Nusra, o braço da Al-Qaeda na Síria. Isto é particularmente visível no que é hoje o grande palco da guerra, Alepo, onde o grupo extremista é visto por outras forças de oposição como a única alternativa viável de combate às tropas do regime e milícias xiitas.

A própria Coligação Nacional Síria admite no comunicado de Riad que não espera que “o regime de Assad, Rússia e Irão cessem hostilidades”, por entenderem que disso depende a “sobrevivência do regime”. Em todo o caso, o grupo afirma estar preparado para fazer o que lhe cabe.

Prevê-se um período inicial de duas semanas de trégua, que poderá depois ser alargado indefinidamente. “Estou confiante de que as acções comuns, acordadas com o lado americano, serão capazes de alterar radicalmente a situação de crise na Síria”, anunciou o Presidente russo, Vladimir Putin, depois de um telefonema com Barack Obama em que negociaram o acordo. 

O fim de hostilidades entre oposição e regime estava inicialmente agendado para sexta-feira, dia 19, uma semana depois de Estados Unidos e Rússia anunciarem um primeiro acordo para travar ofensivas contra grupos rebeldes, até agora designados "terroristas" por Moscovo e Damasco. A trégua não aconteceu, mas abriu portas à entrega de apoio humanitário a várias localidades em risco.

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