Mercados antecipam crise prolongada da economia brasileira

Presidente do Banco Central considera que as manobras no Congresso estão a desviar as atenções e a atrasar a entrada em funcionamento das medidas de ajuste fiscal

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A inflação poderá bater nos 9,7% em 2015 YASUYOSHI CHIBA/AFP

Com a cotação do dólar a bater um novo máximo histórico face ao real, e as previsões relativas à prestação da economia a perspectivarem uma retracção de quase 3% no crescimento do Produto Interno Bruto, e uma subida da taxa da inflação para cima dos 9%, começam a soar os alertas vermelhos quanto à capacidade do Brasil evitar uma prolongada crise económica.

A nova valorização do dólar, que esta terça-feira disparou 2,35%, encontrando-se agora nos 3,8 reais, é explicada pelos analistas com a volatilidade da situação política interna, nomeadamente a possível abertura de um processo de destituição contra a Presidente Dilma Rousseff no Congresso.

Além da reacção à instabilidade política, os mercados parecem ter interiorizado a mensagem do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que durante a reunião anual do Fundo Monetário Internacional em Lima, no Peru, considerou que as manobras no Congresso estão a desviar as atenções e a atrasar a entrada em funcionamento das medidas de ajuste fiscal que o Governo tentou promover para corrigir desequilíbrios macroeconómicos e financeiros.

Apesar de reconhecer as dificuldades políticas, o presidente do Banco Central procurou mitigar os receios dos mercados, frisando que “há um consenso crescente em torna da necessidade de esse ajuste fiscal ser processado o mais rápido possível”.

Como escreve a Folha de São Paulo, “a avaliação é que a discussão do impeachment desvia o foco do Congresso da votação do ajuste fiscal, adiando a aprovação das medidas necessárias para evitar novo rebaixamento da nota de crédito do país pelas agências de classificação de risco”. Há um mês, citando a deterioração fiscal e as dificuldades governativas, a Standard and Poor’s baixou o rating do Brasil para BB+, com perspectiva negativa, o que quer dizer que a agência de notação financeira retirou o grau de investimento ao país.

A alta do dólar representa um desafio acrescido para as grandes empresas brasileiras, que na sua maioria se endividam na moeda norte-americana. Com o câmbio em valores históricos, a pressão sobre os balanços das empresas aumenta significativamente, e vários analistas antecipam novas rondas de despedimentos e de falências.

Mas os economistas atribuem ainda à crise da China uma quota parte da responsabilidade pela tendência negativa que se sente no Brasil e outras economias emergentes que dependem das exportações de matérias-primas. Os dados sobre o comércio externo do gigante asiático apontam para uma quebra apreciável das importações, que no mês de Setembro voltaram a cair 20% - segundo os economistas, além das perdas representadas pela menor procura chinesa, economias como a brasileira estão ainda a ser penalizadas pela queda dos preços das matérias-primas.

As más notícias relativas à situação brasileira aumentaram com a divulgação das previsões dos 120 analistas que colaboram para o relatório de Mercado Focus do Banco Central, e que reviram em baixa as suas previsões para o produto Interno Bruto, estimando uma retracção da economia de 2,97% em 2015 (no mês passado, a previsão era de uma queda de 2,55%). A tendência mantém-se para o ano de 2016, com os mercados a estimarem uma quebra de 1,2% no crescimento económico brasileiro.

Os números oficiais do IGBE confirmam a desaceleração económica, com o PIB do país a contrair 2,6% no segundo trimestre de 2015 face aos primeiros três meses, e 1,9% face ao período homólogo do ano passado.

As estimativas também são negativas no que diz respeito ao aumento da inflação, que na perspectiva do relatório de Mercado Focus poderá bater nos 9,7% em 2015, e cair para os 6% no próximo ano. Em Lima, Alexandre Tombini referiu-se às medidas encetadas para conter as pressões inflacionárias: “A política monetária foi ajustada. A meta de inflação já foi reancorada, apesar do aumento da inflação este ano, que em parte tem a ver com a desvalorização do real que foi muito significativa”, disse.

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