Todos o procuram mas ninguém sabe onde está Diogo Moreira

Polícia, amigos e familiares aumentam esforços para encontrar português desaparecido há uma semana em Inglaterra.

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Como se procura alguém que está desaparecido há uma semana? Para as cerca de 30 pessoas reunidas no Olé Olé, um restaurante espanhol nas vielas turísticas do centro de Brighton, a palavra-chave é empenho, é dar tudo.

São amigos de Diogo Moreira, o português de 29 anos cujo paradeiro é desconhecido desde que saiu misteriosamente da casa de um colega nesta cidade do sul de Inglaterra, na madrugada de terça-feira, dia 14. Deixou para trás todos os pertences e um angustiante rol de interrogações. Porque desapareceu? Para onde foi? Onde estará? Como estará?

“Temos de ser realistas e assumir que o Diogo teve uma crise psicológica. Agora, o que uma pessoa nesta situação faria? É o que temos de nos perguntar”, diz Karim, um dos donos do restaurante Olé Olé, dirigindo-se ao grupo de amigos.

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Não muito longe dali, Joseph Ashwin, um inglês que divide a casa com Diogo Moreira, afirma que o viu pela última vez na quinta-feira, dia 9. Ashwin é gerente do café onde Diogo trabalha há cinco anos, o Redroaster Coffee, na rua St. James, uma artéria comercial ladeada por típicos sobrados ingleses, com lojas em baixo.

“É um dos meus melhores amigos, é super inteligente, tem bom feitio, é muito organizado. Não é muito de sair, gosta de ler os seus livros, ver os seus filmes”, conta o gerente do Redroaster Coffee.

Diogo foi no fim-de-semana seguinte a um festival de música e arte, o Noisily, que se realizava de 9 a 12 de Julho em Leicester, 260 quilómetros a norte de Brighton. Ao regressar, não foi para sua casa, mas para a de um amigo, Jovan Popovic. Ali, terá tido um ataque de pânico, segundo Joseph Ashwin. Depois dormiu e quando Popovic se levantou às 4h para ir à casa de banho, Diogo tinha desaparecido, deixando a porta entreaberta.

"Não fiquei muito preocupado logo ao princípio", conta Jovan Popovic. Mesmo assim, na terça-feira, à hora do almoço, Popovic foi ao café e perguntou pelo amigo. Diogo estava de folga nesse dia. Mas na quarta-feira faltou ao trabalho, sem dizer nada. “Ele nunca se atrasa nem cinco minutos. Pelo contrário, sempre chega mais cedo”, relata Jospeh Ashwin. “Tudo isso é completamente incaracterístico dele”.

Na quinta-feira, Ashwin e Popovic foram a polícia. E iniciaram uma campanha para o encontrar, colando cartazes com a sua fotografia em pontos estratégicos da cidade.

Curiosamente, na Universidade de Brighton, onde Diogo Moreira estuda há um ano, não se vêem os cartazes. Os alunos estão de férias, há poucos a circular no campus. Na recepção da associação de estudantes, alguns souberam do caso pelas redes sociais. No bar também. “Eu sei quem é, já o servi aqui algumas vezes”, diz uma funcionária.

No mesmo edifício, no sexto andar, onde está o Departamento de Ambiente e Tecnologia da universidade, seis professores estão a terminar o almoço trazido de casa, à volta de uma mesa redonda. Reconhecem imediatamente o caso e o aluno. Jonathan Caplin, director do curso de Geografia, levou-o, juntamente com outros estudantes, a uma viagem de estudo à Grécia, em Novembro. “Às vezes, observamos um estudante e dizemos: aí é capaz de haver problemas. Mas não é este o caso”, afirma.

Em Junho, Diogo Moreira realizou os exames finais do primeiro ano do curso de Ciências Ambientais e Geologia. Não foi visto mais na universidade, mas isto é normal. “Depois dos exames, desaparecem e só regressam em Outubro”, diz Jonathan Caplin.

Na segunda-feira, os professores receberam um email da administração da universidade a informar do caso do estudante português. Nessa altura, já a polícia tinha lançado um alerta público. E a página “Help Find Diogo Moreira”, criada pelos amigos no Facebook, já tinha oito mil aderentes.

Irmãos de Diogo em Brighton
Foi nesse dia que Nuno e Paulo Moreira, irmãos de Diogo, chegaram a Brighton. Tinham tido conhecimento da situação apenas na sexta-feira, pois os amigos tiveram dificuldade em encontrar os contactos da família. Sentiram, então, que a sua presença era essencial para agilizar o trabalho das autoridades. “Devíamos ter vindo antes”, diz Paulo Moreira.

Os dois irmãos foram à polícia, ao café onde Diogo trabalha e encontraram-se com os amigos do estudante. Na manhã desta terça-feira, acordaram às 6h e foram tentar a sorte no parque Seven Sisters, cerca de 25 quilómetros a Leste de Brighton, onde Diogo Moreira costuma ir passear.

Alugaram bicicletas e andaram 20 quilómetros pelo parque e pela orla marítima, à procura de alguma pista. Dentro de um antigo abrigo militar da Segunda Guerra Mundial, encontraram um saco de supermercado, com um recibo dentro, do dia anterior. “Fomos ao supermercado, mostramos o saco, o recibo e a foto do Diogo”, conta o irmão Nuno Moreira. Mas nada.

Paulo e Nuno Moreira chegaram exaustos ao restaurante Olé Olé, para onde fora convocada uma reunião para as 15h desta terça-feira. A ideia era definir os próximos passos na busca do estudante, reunindo os amigos e quem mais pudesse ajudar. Foram chegando aos poucos, vindo de ramos diferentes do círculo de amizades de Diogo Moreira.

“Vi-o no sábado, no festival. Estávamos a dançar, falamos durante dois minutos, ele estava bem”, conta um conhecido do estudante português, uma entre muitas pessoas que atenderam à chamada da reunião no restaurante.

“Eu não conheço 80% dessas pessoas e todos conhecem o Diogo”, disse Vítor Rodrigues, que também emigrou de Espinho, de onde é natural a família Moreira, para o Reino Unido. Diogo morou primeiro em Cardiff, depois instalou-se em Brighton. Ninguém sabe dizer ao certo há quanto tempo ali vive, mas há pelo menos cinco anos que trabalha no café Redroaster.

No Olé Olé, juntam-se mesas, põem-se cadeiras à volta e todos discutem onde se deve ir colar mais cartazes. Dividem a cidade em zonas e duplas de voluntários partem em missão. “Precisamos de criar um impacto visual”, diz um dos amigos de Diogo. Outro sugere que se pressione a polícia, pois é onde estão os maiores recursos.

Depois de uma semana, o caso de Diogo Moreira foi colocado numa lista prioritária de adultos desaparecidos no Reino Unido. A sua ex-namorada afirma que a polícia lhe terá explicado que, com isto, tentará obter permissão para aceder às imagens de câmaras de vigilância privadas e para colocar avisos nos transportes públicos, e reforçará as buscas nas ruas, hospitais e locais de acolhimento para sem-abrigo. Serão recolhidas também amostras de DNA de pertences do estudante.

Não era certo, até terça-feira ao fim da tarde, que as autoridades já estivessem na posse de imagens. James Glover, porta-voz da polícia de Sussex, disse que é impossível pedir e visualizar imagens da cidade toda e que isto será feito conforme surgirem pistas sobre o paradeiro de Diogo Moreira. “Esperamos que venhamos a encontrá-lo a caminhar em algum lado”, diz Glover. “Não é muito usual, mas temos casos de pessoas que desapareceram e foram encontradas algumas semanas depois”, completa. Se houver pistas consistentes, pode ser accionado o uso de um helicóptero.

Até ao fim da tarde, não havia notícia de Diogo Moreira, um jovem que os irmãos classificam como tranquilo, um pouco desligado, que só utiliza o telemóvel para falar com o pai e que raramente vai ao Facebook. Todos estão à sua procura, e isto não deixa de ser irónico. Paulo Moreira assegura: “Ele é a última pessoa que deixaria alguém preocupado”. 

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