Passos Coelho diz que Grécia teve empréstimos como nenhum outro país

Oposição acusou o Governo de estar ao lado das instituições europeias a fazer chantagem sobre o executivo grego.

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Passos Coelho Miguel Manso

Foi um dos momentos em que Passos Coelho inflamou o tom do discurso: a situação grega. O primeiro-ministro disse, em resposta a Jerónimo de Sousa, líder do PCP, que a Grécia já teve condições únicas e que isso se manteve na reunião do Eurogrupo de terça-feira.

“Ninguém está a fazer chantagem com a Grécia. O que a Europa está a fazer à Grécia não foi feito a país nenhum. O que a Europa emprestou à Grécia não emprestou a ninguém. As dívidas que se acumularam nos bancos gregos eram dos gregos”, afirmou o primeiro-ministro durante o período de interpelação ao chefe do Governo, no início do debate sobre o estado da nação.

Referindo que a Grécia pediu esta quarta-feira um terceiro programa de ajuda externa, Passos Coelho revelou as respostas dos restantes membros da zona euro: “Todos, mas todos, disseram que estavam disponíveis a dar ajuda”. Mas tendo como contrapartida algumas medidas. “Em todas as nações europeias há democracias, fazem sacrifícios. E não sem condições. Isso não existe na Grécia nem em lado nenhum”, rematou.

Jerónimo de Sousa traçou um quadro negro dos resultados da governação da coligação PSD/CDS: “O estado da nação é um país mais endividado, com mais desemprego, mais injustiça”. Apontando as contradições entre os compromissos da campanha eleitoral de 2011 e as medidas tomadas pelo Governo, o líder comunista acusou o executivo de ter empobrecido o país.

Mas – sublinhou – “o maior embuste” é acerca da dívida, em nome da qual foram cortados os “rendimentos, medicamentos e deixaram na falência pequenas e médias empresas”. O resultado foi que a dívida “cresceu 50 mil milhões de euros”. Passos Coelho justificou esse crescimento com o pedido de ajuda externa e com as “almofadas” financeiras.

"Não conheço nenhum país que peça 78 mil milhões de euros e a dívida baixe. Mas na sua tendência vai baixar e já está a baixar. E temos encaixes financeiros”, afirmou, lembrando que essas almofadas têm “um preço” e que Jerónimo de Sousa “devia estar satisfeito por Portugal não ser apanhado desprevenido”.

O Bloco e a “venda de garagem”
A questão da Grécia foi igualmente mencionada de forma breve pela bloquista Catarina Martins, partido que tem defendido arduamente as posições do Syriza. A porta-voz do Bloco acusou Passos Coelho de estar “em negação” tanto em relação ao que se passa no país como sobre a chantagem (que o primeiro-ministro nega) que as instituições europeias, como apoio do Governo português, tem feito à Grécia.

Catarina Martins procurou, no entanto, centrar a sua intervenção no “estado da governação”. Mas não perdeu oportunidade de deixar uma bicada a Pedro Passos Coelho sobre as polémicas da sua vida profissional anterior, na área da formação com fundos europeus providenciados por contratos com o Estado através de Miguel Relvas.

Depois, voltou ao retrato difícil do país já delineado antes por Ferro Rodrigues e Jerónimo de Sousa, sobre desemprego, pobreza, imigração, dívida pública e défice externo. E ainda as privatizações, os “negócios milionários para grupos financeiros internacionais”, que “são a imagem da gigantesca venda de garagem em que o Governo transformou o país”, lembrando que até o Tribunal de Contas criticou em auditorias oficiais. Catarina Martins lembrou os casos da REN, EDP, TAP e Tranquilidade, todos “negócios mal explicados”.

Outro caso por resolver é o do Novo Banco, tendo Catarina Martins questionado Passos sobre qual é afinal a factura para os contribuintes numa altura em que se calcula que a diferença entre o dinheiro injectado pelo Fundo de Resolução e o valor de venda a um dos candidatos seja de dois mil milhões de euros.

Na resposta, Passos puxou da ironia para defender que nestes quatro anos o Governo conseguiu encaixar nas privatizações o dobro do que estava previsto no memorando inicial elaborado pelo anterior Governo. “Chama-lhes venda de garagem… Eu gostava de ter muitas vendas de garagem para poder ter muitos resultados destes”, respondeu o primeiro-ministro.

Sobre o Novo Banco, foi menos taxativo. Explicou que o dinheiro injectado é do fundo de resolução da banca, reconhecendo, no entanto, que parte dele foi emprestado pelo Estado a esse mecanismo. "A minha expectativa é que os portugueses não serão afectados por essa operação [de venda]. Não posso jurar que o sistema financeiro não venha a ter custos com isso. Mas só saberemos quando o resultado da venda estiver concluído".

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